O que não está escrito na matéria: dizem que os porcos possuem corações muito semelhantes aos nossos.
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Tem um porco no meio da sala
Sujou! Um tipo de suíno pequeno, próprio para criar em apartamentos, começa a concorrer com cães e gatos por nossa atenção
FILLIPE MAURO
O BEBÊ DA CASA
A publicitária Andrea Mendes com Jamon, seu porquinho de 7 meses. “São mais espertos que os cães e muito carinhosos.” Ainda por cima, não latem (Foto: Letícia Moreira/ÉPOCA)
Em 1994, quando um terremoto destruiu parte da cidade americana de Los Angeles, um grande porco preto e peludo dividiu as manchetes com notícias sobre as mais de 50 mortes. Max, como era chamado, salvou a vida do ator George Clooney, ao acordá-lo para que ele pudesse sair da casa que, minutos depois, foi destelhada pelo tremor. “Ele é um de meus melhores amigos”, disse Clooney durante os 18 anos que circulou com Max diante das câmeras. Dez anos depois da morte da mascote de Clooney (que teve direito a missa e velório), circular com um porco na coleira ainda é considerado uma excentricidade. Mas não mais reservada só a estrelas de Hollywood. Uma nova variedade de suínos, os microporcos são encontrados em apartamentos e casas brasileiras. Estão tão adaptados à vida doméstica quanto qualquer cão. É uma nova onda de bichos de estimação.
Para quem só conhece porcos de áreas rurais, do tipo que adoram uma poça de lama e um balde de lavagem, imaginar um deles pela sala de TV parece uma temeridade. Ter um porco dentro de casa, dizem seus donos, não tem nada de assustador. Os domésticos se aproximam mais de cães bem treinados que do bicho enlameado dos chiqueiros.
Os porcos aprendem a fazer suas necessidades sempre no mesmo lugar, adoram banho, sabem pedir comida, se apegam ao dono, dão a patinha e se fingem de morto. Em relação ao cheiro, uma surpresa para quem conhece pouco a espécie. “Porcos não têm glândulas sudoríparas na pele, por isso exalam bem menos odor que cães e gatos”, afirma o veterinário Thiago Rodrigo Salvador. Pesquisas mostram que o porco está um degrau acima do cão em inteligência. Uma delas, da Universidade Yale, nos Estados Unidos, conduziu testes de memória com humanos e várias espécies de animais. Os pesquisadores esconderam objetos dentro de caixas com várias formas e cores. Os porcos se saíram melhor ao identificar padrões do que as outras espécies, incluindo alguns humanos.
Os miniporcos vendidos como bicho de apartamento no Brasil são resultado de cruzamentos selecionados. O objetivo é conseguir animais pequenos com aspecto de porco comum, pelos e manchas. Mas bem menores. O mesmo procedimento que no passado deu a cães de grande porte versões em miniatura. As manchas pretas e o focinho achatado vêm do porco vietnamita (pot-bellied). Os pelos são herança da raça neozelandesa kunekune.
A publicitária Andrea Mendes nunca pensara em levar um porco para casa. Ela e o marido, o publicitário Domênico Massareto, queriam um cachorro. Um dia, ela chegou em casa e deparou com a surpresa. “Escolhi um porquinho quando li que eram mais independentes e inteligentes que os cães”, diz ele. Andrea adorou. Jamon (presunto, na tradução do espanhol), como foi chamado, tem 7 meses e não deve ficar muito maior que um cão da raça buldogue francês. Quando Andrea chega em casa, Jamon corre em direção à porta, sempre com o rabo abanando. “Ele é curioso. Procura coisas na cortina e em cobertores.” Jamon faz três refeições por dia, compostas de frutas e verduras. “Aprendeu a se sentar quando quer comida.” Jamon tem perfil no Facebook e até fantasias. Uma delas de polvo.
A família de Flávia Heesch já trabalhava com animais em miniatura. Há seis anos, investiu em cruzamentos para criar miniporcos. “Comecei com cinco matrizes. Hoje, tenho 35.” A decoradora Glória Gobbi mantinha miniporcos em seu sítio, no interior de São Paulo. Neste ano, começou a aceitar encomendas. Já foi chamada até para apresentações sobre os bichos na TV.
Os microporcos vivem em média 18 anos. Pedem cuidados semelhantes a outros animais domésticos. Assim como os cães, não podem ficar sem exercícios físicos ou desprotegidos no frio. Só não servem para latir ou proteger a casa. Para os vizinhos, é uma vantagem.
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