"Não aguento mais sentir medo e rezar 24 horas", diz a atriz Clarisse Abujamra
CHICO FELITTI
DE SÃO PAULO
Clarisse Abujamra é atriz, diretora de teatro, coreógrafa e uma local na iminência de deixar São Paulo.
Depois de se mudar para um oásis do verde no meio da capital, há três anos, ela agora tem "planos" de deixar a cidade onde nasceu.
A sobrinha do provocador Antonio Abujamra e ex-mulher de Antonio Fagundes ganhou um Kikito, maior prêmio do cinema nacional, por sua atuação em "A Coleção Invisível", filme de Bernar Attal.
Atuou em novelas clássicas como "Éramos Seis" (1994), "Escrava Isaura" e "Anjo Mau" (ambas de 1976). Também começou aula de pintura ("primeiríssima incursão, vou fazer uma bola e sai quadrada") para interpretar uma artista em "Cenas de Execução", peça do inglês Howard Barker que se passa em 1500.
Com esse espetáculo, queria comemorar 45 anos de palco, em 2013. "Vai atrasar um pouco, mas sai."
Clarisse Abujamra Ver em tamanho maior »
Alexandre Rezende
"Não aguento sentir medo e rezar 24 horas por dia para os meus filhos", afirma Clarisse Abujamra
Você ficou anos longe do cinema, até "Chega de Saudade", de 2007. O que houve?
CLarisse Abujamra - Televisão e cinema não dependem da gente. Dependem de convite. Tem uma sensação de que no teatro eu mando. Se ninguém me chama, eu vou lá e faço.
O Kikito deve trazer convites, não?
Tomara. A gente passa a ter uma preocupação quando não se é tão jovem. Confesso. É importante você viver em paz com a idade e imprimir aquilo que você é. Mas esperam duas coisas: ou uma senhorinha ou uma mulher mais velha e ainda sensual. Se você é bela e sexualmente forte, ótimo. Se não for também, ótimo.
Você mora na zona norte, mas marcou nosso encontro em Higienópolis. Por quê?
Faz três anos que moro na Casa Verde, no meio de um bosque ainda preservado. Nunca tinha passado para o outro lado da ponte nem sabia o que era a Casa Verde. Falei para o corretor: "Pelo amor de Deus, me dá um verde, me dá uma sacada para tomar sol". Eu brinco, quando saio de casa, que estou indo para São Paulo. Mas lá não tenho amizade, a vida ainda é muito aqui em Higienópolis.
O que anda sentindo por São Paulo?
Pânico absoluto. Estou triste com São Paulo, me sentindo impotente. Não adianta, nasci aqui, tenho amor incubado. Mas penso seriamente em ir embora e faço planos. Já fui assaltada quatro vezes, não aguento sentir medo e rezar 24 horas por dia para os meus filhos. Não tenho ido ao teatro por medo. Dá um cansaço. Saio buscando uma árvore, alguma coisa para segurar a barra.
E o lado bom da cidade?
Sampa me deixa "bipolar" por seus excessos de cinza, de caos, de miséria. Mas, ao mesmo tempo, a vida cultural é intensa. Meu prato preferido é a Sala São Paulo aos sábados. O Municipal e suas óperas, a feira do MIS aos domingos, o café na Pinacoteca.
Fonte: FOLHA DE SP
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