Perfil

Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

Mensagem aos leitores

Benvindo ao universo dos leitores do Izidoro.
Você está convidado a tecer comentários sobre as matérias postadas, os quais serão publicados automaticamente e mantidos neste blog, mesmo que contenham opinião contrária à emitida pelo mantenedor, salvo opiniões extremamente ofensivas, que serão expurgadas, ao critério exclusivo do blogueiro.
Não serão aceitas mensagens destinadas a propaganda comercial ou de serviços, sem que previamente consultado o responsável pelo blog.



sexta-feira, 1 de maio de 2015

Após 150 anos historiadores reescrevem a Guerra do Paraguai

Conflito entre o Paraguai e a Tríplice Aliança foi o maior da América do Sul. Durante mais de um século a historiografia foi marcada por mitos e pelo nacionalismo, hoje revistos pelos pesquisadores.
Paraguaios mortos na guerra

Há 150 anos, Brasil, Argentina e Uruguai se uniam para lutar contra o Paraguai na pior guerra da América do Sul. No dia 1° de maio de 1865 os três países assinaram em Buenos Aires o Tratado da Tríplice Aliança, que traçou a direção do conflito, transformando-o em uma guerra longa e sangrenta.

Até o final dos anos 1980 e início dos 1990, a historiografia sobre esse acontecimento partia de uma perspectiva nacionalista ou era baseada em uma visão que considerava o conflito fruto do imperialismo britânico e de seu modelo capitalista.

Hoje, graças ao acesso a documentos da época, os historiadores desfazem mitos que se perpetuaram no continente sul-americano desde o fim do conflito. Esse material só se tornou disponível após o fim da Guerra Fria, a queda de ditaduras latino-americanas e abertura de arquivos.

Assim, historiadores paraguaios, argentinos, brasileiros, uruguaios, europeus e americanos começaram a reescrever a história da guerra a partir da análise empírica dos fatos históricos, deixando de lado a idealização do conflito.

"Esses historiadores ainda são influenciados por ideias e conceitos existentes em seus países, claro, mas, ao mesmo tempo, têm uma formação acadêmica que permite evitar deturpações na análise do passado", afirma o historiador Francisco Doratioto, da Universidade de Brasília (UnB).

Análise histórica

Recentemente os pesquisadores esclareceram questões controversas sobre a Guerra do Paraguai, como os motivos que levaram Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai a travarem uma luta sangrenta até 1870.

"A Guerra do Paraguai pode ser interpretada como o ápice de um processo histórico que vem desde 1820, que é a formação dos Estados nacionais na região", afirma Doratioto, acrescentando que há diferentes interpretações sobre esse aspecto. "Algumas dão mais ênfase à geopolítica, outras abordam processos econômicos, mas não há dúvidas, por parte de historiadores que trabalham sobre o tema, de que a guerra teve causas regionais", reforça.

Já a suposta manipulação britânica foi desmistificada. "Não há prova arquivista da participação do Reino Unido. O que havia eram belas ideias, mas sem fundamento histórico", afirma o historiador Thomas Whigham, da Universidade da Georgia.

Conflitos na região do Rio da Prata eram comuns no século 19. A Guerra do Paraguai começou com uma intervenção de pequena escala, como tantas outras. Em outubro de 1864, o Brasil invadiu o Uruguai para defender cidadãos brasileiros residentes no país, que enfrentava uma guerra civil.
Igreja de Humaitá no Paraguai destruída na guerra

Em retaliação, o Paraguai apreendeu, em novembro, o vapor brasileiro Marquês de Olinda. Em dezembro, o ditador paraguaio Francisco Solano López declarou guerra ao Brasil e invadiu a região do Mato Grosso do Sul.

Guerra declarada

Em março de 1865, o Paraguai invadiu a província de Corrientes, na Argentina. Essa invasão foi o estopim para a assinatura do Tratado da Tríplice Aliança, que tornou o conflito ainda incerto em uma guerra, com o envolvimento de todos na região.

A assinatura do tratado ocorreu no dia 1° de maio de 1865. Por insistência brasileira, o documento estipulava a destituição de Solano López do governo paraguaio, o que limitava as possibilidades de uma solução diplomática para o conflito.

"Esse foi o primeiro grande tratado de cooperação entre Brasil e Argentina. Ele representou uma carta de intenção de que as armas não seriam depostas até que o governo de Solano López fosse derrotado", afirma o historiador Vitor Izecksohn, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

E, de fato, a guerra só iria terminar em 1870 com a morte de Solano López. O conflito impactou, em diferentes graus e maneiras, todos os países envolvidos. Em âmbito mais abrangente, ele definiu as fronteiras na região.

Tragédia paraguaia

O Paraguai foi arruinado na guerra. Grande parte da população morreu em consequência da guerra, não somente em combates, mas também de doenças e de fome. Estima-se que o país tenha perdido 90% da população masculina.

"Isso faz desse conflito uma guerra moderna com um número grande de civis mortos. Ela foi realmente devastadora para o Paraguai", afirma o historiador Hendrik Kraay, da Universidade de Calgary. Além do custo humano, ela prejudicou a economia do país, acabando com o modelo desenvolvimentista que havia sido adotado pelo governo paraguaio.

Para o Brasil, a guerra foi fundamental para a queda do Império, pois o Exército saiu fortalecido e com um orgulho institucional que não existia anteriormente. Ela também endividou o país, o que arranhou ainda mais a imagem da monarquia.

O conflito foi importante também para a unificação da Argentina, além de impulsionar sua modernização e seu desenvolvimento econômico.

"O caso mais irônico é o do Uruguai, que supostamente foi o estopim da guerra, mas saiu dela mais ou menos como estava antes", afirma Whigham.

A memória da Guerra do Paraguai continua bastante presente, principalmente, no Paraguai, mas também na Argentina e no Uruguai. "Os partidos políticos que estão no poder ou na oposição nesses países hoje são os mesmos daquela época. Então no Rio da Prata, a história continua presente na política atual", conta Dorioto.

Fonte: www.dw.de

Nenhum comentário: