06.06.2019 às 10h30
Michael Dalder/Reuters
Michael Dalder/Reuters
Nunca houve tantas apreensões de cocaína na Europa como ultimamente, de acordo com o relatório anual de 2019 do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência. Em relação a Portugal, o documento aponta ainda um aumento no consumo de crack, a versão mais perigosa da cocaína
Micael Pereira
A cocaína nunca esteve tão em alta na Europa, de acordo com o relatório anual de 2019 do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (EMCDDA), divulgado esta quinta-feira. Em 2017, último ano para o qual o relatório apresenta estatísticas, quer o número de apreensões quer as quantidades apreendidas de cocaína no conjunto dos 28 países da União Europeia, somados com a Noruega e a Turquia, atingiram os níveis mais elevados de sempre.
Ao todo foram registadas em 2017 mais de 104 mil apreensões de cocaína e um total de 140,4 toneladas, o dobro do volume apreendido no ano anterior, sendo que Portugal foi o oitavo país com a maior quantidade confiscada nesse ano, com 2734 quilos, atrás da Bélgica, Espanha, França, Holanda, Alemanha, Reino Unido e Itália.
Ainda em relação a Portugal, o relatório aponta que fomos um dos países, a par da Bélgica, Irlanda, França, Itália e Reino Unido, onde se verificou um aumento no número de consumidores de crack, a versão mais barata e mais perigosa de cocaína, produzida em forma de cristais num processo que faz com que haja uma concentração grande de substâncias nocivas.
Em paralelo com o consumo de crack, tem aumentado também o número de pessoas submetidas a tratamento por causa desta droga. “Os novos dados disponíveis sugerem também que o consumo de cocaína-crack, uma variante da droga que pode ser fumada e que está particularmente associada ao consumo problemático, pode estar a disseminar-se”, diz o relatório, para acrescentar que foi registado “um aumento no número de utentes que iniciaram tratamento por consumo de cocaína-crack desde 2014 na Bélgica, Irlanda, França, Itália e Portugal, assim como no Reino Unido, o país europeu que tem sido mais associado ao consumo de crack”. Não são, no entanto, apresentadas estatísticas sobre o número de consumidores de crack ou de pessoas em tratamento por causa do seu consumo.
Micael Pereira
A cocaína nunca esteve tão em alta na Europa, de acordo com o relatório anual de 2019 do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (EMCDDA), divulgado esta quinta-feira. Em 2017, último ano para o qual o relatório apresenta estatísticas, quer o número de apreensões quer as quantidades apreendidas de cocaína no conjunto dos 28 países da União Europeia, somados com a Noruega e a Turquia, atingiram os níveis mais elevados de sempre.
Ao todo foram registadas em 2017 mais de 104 mil apreensões de cocaína e um total de 140,4 toneladas, o dobro do volume apreendido no ano anterior, sendo que Portugal foi o oitavo país com a maior quantidade confiscada nesse ano, com 2734 quilos, atrás da Bélgica, Espanha, França, Holanda, Alemanha, Reino Unido e Itália.
Ainda em relação a Portugal, o relatório aponta que fomos um dos países, a par da Bélgica, Irlanda, França, Itália e Reino Unido, onde se verificou um aumento no número de consumidores de crack, a versão mais barata e mais perigosa de cocaína, produzida em forma de cristais num processo que faz com que haja uma concentração grande de substâncias nocivas.
Em paralelo com o consumo de crack, tem aumentado também o número de pessoas submetidas a tratamento por causa desta droga. “Os novos dados disponíveis sugerem também que o consumo de cocaína-crack, uma variante da droga que pode ser fumada e que está particularmente associada ao consumo problemático, pode estar a disseminar-se”, diz o relatório, para acrescentar que foi registado “um aumento no número de utentes que iniciaram tratamento por consumo de cocaína-crack desde 2014 na Bélgica, Irlanda, França, Itália e Portugal, assim como no Reino Unido, o país europeu que tem sido mais associado ao consumo de crack”. Não são, no entanto, apresentadas estatísticas sobre o número de consumidores de crack ou de pessoas em tratamento por causa do seu consumo.
O mais popular dos estimulantes
O anterior recorde europeu de apreensões de cocaína tinha acontecido em 2006, quando foram confiscadas cerca de 120 toneladas. Em 2017 mais de metade da droga confiscada (61%, na verdade) pela polícia concentrou-se em apenas dois países: Bélgica (45 toneladas) e Espanha (41 toneladas).
“A cocaína é a droga estimulante ilícita mais usada na União Europeia, tendo havido 2,6 milhões de jovens adultos (15–34 anos) a consumi-la durante o último ano (estimativa de 2017)”, diz a EMCDDA, que é a agência oficial da UE para analisar e informar sobre o mercado de estupefacientes e o fenómeno da toxicodependência. “Um estudo recente dos resíduos de drogas encontrados em águas residuais domésticas revelou que, entre 2017 e 2018, se registaram aumentos nos metabolitos da cocaína em 22 das 38 cidades que apresentaram dados relativos a este período, confirmando a tendência ascendente já observada em 2017”.
No ranking de consumo de cocaína na Europa (sem que o crack seja descriminado) Portugal está muito para trás, em 24.º lugar no parâmetro sobre consumo nos últimos meses por jovens entre os 15 e os 34 anos, com uma prevalência estimada de 0,3% (a média da União Europeia é de 2,1%), e em 20.º lugar quanto à população adulta que tenha tido algum tipo de consumo ao longo da vida, com uma estimativa de 1,2%, muito longe dos 10,7% do Reino Unidos e dos 10,3% de Espanha (e também dos 5,4% de média europeia).
O relatório sublinha que não só há mais quantidade de cocaína como também o seu grau de pureza na droga que é vendida nas ruas é maior, tendo na realidade “atingido o seu nível mais elevado numa década”. Esse grau de pureza foi analisado num outro estudo anterior da EMCDDA sobre as tendências no mercado da cocaína, publicado em dezembro de 2018, e que revelava um aumento de qualidade em mais de 20 países entre 2014 e 2016, menos na República Checa e em Portugal. “O corte de drogas com substâncias mais baratas é geralmente feito para aumentar o lucro ao longo da cadeia de distribuição, mas também pode aumentar ou modificar os efeitos da droga e pode provocar consequências adversas adicionais para a saúde do consumidor”, explicava o esse estudo. ”Além de diluentes inertes como açúcares, talco, gesso e amido, são encontrados com frequência adulterantes farmacologicamente activos tanto na cocaína em pó como na cocaína-crack, incluindo vários anestésicos locais, analgésicos e outros estimulantes lícitos e ilícitos.”
A cocaína dos marginalizados
Esta não é uma droga igual para todos. “A maioria das pessoas [na Europa] que iniciou um tratamento especializado para problemas relacionados com o consumo de cocaína é principalmente consumidora de cocaína em pó (55.000 ou 14% de todos os consumidores de drogas em tratamento em 2017)”, constata o documento produzido pelo EMCDDA. “Este grupo é normalmente caracterizado por indivíduos relativamente bem integrados na sociedade, com condições de vida estáveis e empregos regulares comparativamente aos que iniciam tratamento por problemas relacionados com opiáceos. Não é o caso, contudo, dos indivíduos que iniciam tratamento devido ao consumo de cocaína-crack como droga principal (11.000 utentes, ou 3% de todos os consumidores de drogas em tratamento em 2017), que aparentam ser mais marginalizados.”
A nível nacional, o relatório mais recente produzido pelo SIDAC (Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências) com dados sobre o consumo de crack é de 2017. Esse relatório refere que as apreensões de crack em 2017 resumiram-se a apenas 17 gramas a nível nacional, distribuídos pelos distritos de Aveiro, Faro e Porto. Essa quantidade tão pouco expressiva terá a ver com o facto de, a crer na explicação dada pelo relatório do EMCDDA divulgado esta quinta-feira, “o crack ser fabricado na Europa, próximo dos mercados de consumidores, e não ser transportado através de fronteiras, onde habitualmente têm lugar muitas apreensões de droga”.
Por outro lado, um primeiro “inquérito sobre comportamentos aditivos em jovens internados em Centros Educativos” em Portugal, feito em 2015, mostrava como havia 7% destes jovens vindos de meios mais desfavorecidos que já tinham consumido crack — o que ajuda a atestar como esta forma de cocaína tem uma conotação social muito forte.
O EMCDDA destaca que Portugal, a par com França, distribui kits para o consumo de crack (cachimbos e filtros) como uma das “intervenções de redução de danos para consumidores”.
Nada de anfetaminas
O consumo de metanfetamina (MDMA), uma droga psicotrópica mais conhecida como ectsasy, é mais baixo em Portugal do que a cocaína, com uma estimativa de prevalência de 0,2% de adolescentes e jovens adultos (entre os 15 e 34 anos) nos últimos 12 meses, comparado com 7,1% registados na Holanda. No caso das anfetaminas — uma droga estimulante — essa percentagem baixa para os 0% (comparado com 3,9% na Holanda).
Portugal está também bem posicionado no que diz respeito à ocorrência de casos fatais, ocupando o segundo melhor lugar num ranking de 30 países sobre o número de mortes por milhão de habitantes induzidas pelo consumo de drogas. Portugal ocupa essa posição ex-aequo com a Bulgária, com quatro mortes por um milhão de habitantes, só ultrapassada pela Roménia (com duas mortes).
Já quanto aos casos de HIV provocados pelo consumo de drogas injectáveis, há 17 países com melhores resultados do que Portugal, onde em 2016 foram registados 18 situações (1,7 por milhão de habitantes).
Em toda a a Europa, a canábis continua a ser a droga mais popular de todas (a cocaína é a mais popular apenas no grupo de drogas estimulantes), com 14,4% de adolescentes e jovens adultos (entre os 15 e 34 anos) a terem fumado “charros” no último ano (8% em Portugal) e com 27,4% da população europeia entre os 15 e os 64 anos a terem tido algum tipo de consumo ao longo da vida (11% em Portugal, muito distante dos 45% em França ou dos 38% na Dinamarca).
Num comunicado distribuído à mesma hora da divulgação do seu relatório anual, o EMCDDA citava o seu diretor, Alexis Goosdeel, que reconhecia como “os desafios” — uma palavra muitas vezes usada como sinónimo de problemas — “que enfrentamos no domínio da droga continuam a aumentar”. Goosdeel referia-se não apenas aos “sinais de uma maior disponibilidade de drogas à base de plantas já estabelecidas, como a cocaína”, mas também “à evolução de um mercado onde a produção de drogas sintéticas e de droga na Europa está a ganhar importância. Tal pode ser observado em problemas associados à utilização de opiáceos sintéticos altamente potentes, em novas técnicas de produção de MDMA e anfetaminas, e em desenvolvimentos recentes no processo de transformação de morfina em heroína dentro das fronteiras europeias.”
Fonte: https://expresso.pt/sociedade/2019-06-06-Cocaina-atinge-recorde-de-apreensoes-na-Europa-e-portugueses-estao-a-consumir-mais-crack
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