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domingo, 23 de junho de 2019
Atenção serranos de SC - ENOTURISMO - Douro Vineyards, o resto é paisagem
Apreciamos as vistas do Douro rendilhado — e do
Tedo —, a piscina, os vinhos Val Moreira e as iguarias locais. O Douro
Vineyards é um Vila Galé, mas com um twist.
Nasceu na margem esquerda do Douro e com uma vista imbatível sobre o serpentear do sereno rio Tedo o Vila Galé Douro Vineyards,
uma unidade hoteleira com uma forte componente de agro e enoturismo que
não pretende mudar a paisagem que a rodeia — antes fundir-se com ela —,
mas que já vai marcando a mudança daquele que é o segundo maior grupo
hoteleiro a operar em Portugal com uma rede de 24 hotéis (mais nove no
Brasil), entre os quais o recém-nascido Vila Galé Collection Elvas.
A Fugas encontrou um espaço altaneiro (com pouco mais de um mês de
Douro), ansioso por assentar o pó das últimas obras, por ganhar raízes e
por relaxadamente, de preferência com um Porto tónico na mão, contar a
história da centenária propriedade próxima da aldeia do Marmelal, entre
Folgosa e Pinhão. Localizada no Cima Corgo, a Quinta do Val Moreira
consta do mapa (do século XIX) do Barão de Forrester, que tinha o sonho
de tornar o rio Douro navegável e seguro até à fronteira com Espanha.
Perto de nós existem dois marcos pombalinos classificados como imóveis
de interesse público — mandados construir por Marquês de Pombal, em
1757, serviam para assinalar a zona dos vinhos generosos do Douro,
colocada sob a jurisdição da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas
Douro.
Criava-se assim a primeira região demarcada de vinhos do mundo.
Assistimos neste momento ao lançamento da Val Moreira, uma nova marca de
vinhos do Douro e do Porto, tirando partido dos cerca de 25 hectares de
vinhas existentes na propriedade. “Foi um achado. É um paraíso”,
sublinha Vasco Parente, director do hotel, que por agora conta com sete
quartos, restaurante e bar com vista panorâmica e terraço, adega,
biblioteca e piscina exterior. “O resto é paisagem.”
Foto
TIAGO DE PAULA CARVALHO
A propriedade, com quarenta hectares (vinhas, amendoeiras e
oliveiras), foi adquirida por “dois amantes de vinho” (Jorge Rebelo de
Almeida, presidente do conselho de administração da Vila Galé, e António Parente, presidente do conselho de administração do Grupo Madre),
cujo vulto de perfil, como num episódio hitchcockiano, aparece na marca
Xvinus - Fine Wine Company, que já lançou a marca Val Moreira: um
branco de 2018 (seis meses de estágio), um tinto de 2017 (uvas colhidas
entre os 200 e os 600 metros de altitude), três Portos (porque
“herdaram” uma adega com vinho) e azeite com azeitonas colhidas na
propriedade.
O investimento de 13 milhões de euros na compra da
propriedade reforça a presença da Vila Galé no Douro vinhateiro, onde já
existia o Vila Galé Collection Douro, em Lamego, de frente para a
Régua. “É especial porque significa um reforço da nossa aposta no
agroturismo e no enoturismo e, sobretudo, na área vinícola. Já
produzimos vinhos e azeites regionais no Alentejo, perto de Beja, com a
marca Santa Vitória. A entrada no mercado dos vinhos do Douro e do Porto
com o lançamento da marca Val Moreira é mais um passo nessa
estratégia”, refere o presidente do grupo Vila Galé.
“Conseguimos
conjugar na perfeição a tradição do douro vinhateiro, a sua gastronomia e
a beleza de toda a região”, acrescenta Jorge Rebelo de Almeida. Esta
primeira fase do empreendimento, que criou 20 postos de trabalho,
mereceu um investimento de oito milhões de euros. Em Junho arrancará uma
segunda fase, prevendo-se a construção de mais 42 unidades de
alojamento (quartos e suites), na qual a Xvinus vai investir mais cinco milhões de euros. Deverá estar concluída em Junho de 2020.
FotoTIAGO DE PAULA CARVALHO
Milhões à parte, são sete quartos (com as tipologias standard, suite, suite duplex e suite
deluxe) com vista para um vale rendilhado e a sensivelmente 800 metros
da N222, a tal que colecciona adjectivos e onde raramente passa um
carro. Quem aqui chega, quer provar o Douro (o vinho, mas também o pão
de milho e de centeio cozido no mesmo forno a lenha que ao domingo assa o
cabrito, o folhado de maçã de Armamar e outras iguarias locais), mas
quer sobretudo sentir o Douro, mergulhar na piscina e ficar a ver as
sombras das colinas devorarem lentamente o vale.
Depois, se a fome vencer a preguiça, descer ao open space
recepção/bar/restaurante (o percurso através de socalcos pode fazer-se
em viatura própria ou a recepção providencia transporte imediato) e
continuar a usufruir da vista imensa a par da essência dos pratos
tradicionais com um twist — como o Creme de espargos verdes,
crocante de salpicão e cebolinho, o Torricado de alheira de Lamego com
ovo de codorniz ou o Portobello gratinado, requeijão, presunto, tomate
cherry e azeite seco de manjericão (entradas); os Medalhões de bacalhau,
esmagada de batata, grelos salteados, ovo escalfado e molho de vinho
branco, a Sela de borrego, risotto de ervilhas e cogumelos silvestres ou o Cachaço de porco Bísaro, batatas novas, pak choi
e uvas em vinho do Porto (pratos principais); o Folhado de maçã de
Armamar, leite de amêndoa e gelado de nata, a Cavaca de Resende e
compota de pêra com gengibre ou Vaso de chocolate com vinho do Porto Val
Moreira.
A carta dispõe também de um prato “da nossa tradição” por dia.
Pastéis de massa tenra com arroz de feijão manteiga (segunda-feira),
Filetes de polvo com arroz de grelos (terça), Arroz de pato à antiga
(quarta), Lombos de bacalhau à Margarida da Praça (quinta), Empada de
caça com espinafres salteados (sexta), Trutas do rio Cavado com presunto
e batata cozida (sábado) e Cabrito assado com batata e grelos salteados
(domingo).
Entre o restaurante, janelões XXL, e a piscina — ou entre a piscina e
o restaurante — vale a pena reservar um momento para visitar a adega
escavada (visitas e provas todos os dias das 10h às 18h), o antigo lagar
em granito, a prensa e a barrica com (cheiro a) Porto com 90 anos e o
mural de 180m por 1,60m com uma paisagem do Douro composta por sete mil
rolhas assinada por Saimir Strati (Tirana, Albânia, 1966), artista
plástico premiado com dez recordes mundiais do Guinness (em 2004
conquistou um dos seus recordes com o maior mosaico do mundo feito com
300 mil rolhas de cortiça, que retrata José Saramago. E para revistar
Aquilino Ribeiro e Miguel Torga na biblioteca contígua.
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