Saber foi condenado a três anos
de prisão pelo crime de blasfêmia
O estudante de computação e blogueiro Aber Saber (foto), 27, e sua família saíram do Egito para um país não divulgado porque estavam sofrendo ameaças de morte.
Em dezembro de 2012, Saber foi condenado a três anos de prisão pelo crime de blasfêmia por ter postado em sua página sobre ateísmo no Facebook o filme anti-islã “A Inocência dos Muçulmanos”.
Saber, que foi preso preventivamente, obteve o direito de recorrer em liberdade da sentença mediante o pagamento de fiança.
Kariman Mesiha Khali, sua mãe, é devota da igreja cristã coopta, uma religião minoritária e discriminada no Egito, cuja maioria da população é muçulmana.
Saber deu uma entrevista ao Daily News Egypt dizendo que não gostaria de deixar o país, mas foi obrigado porque as ameaças se estenderam a seus familiares. “Se fosse por mim, eu ficaria para me defender [na Justiça], mesmo correndo o risco de ser executado”, afirmou. “Mas muitas pessoas estavam sofrendo por minha causa.”
Ele contou ter corrido risco de ser assassinado na prisão porque, de início, foi colocado em uma cela com seis detentos, que foram informados por um oficial que ele tinha cometido blasfêmia.
“[Um oficial subalterno] me amaldiçoou e amaldiçoou a minha mãe, e, depois, me levou para uma célula e incitou os prisioneiros contra mim, dizendo que eu tinha insultado o Islã e o cristianismo.”
Um detento fez um risco com uma lâmina de barbear no pescoço de Saber. Pressionado pela mãe e entidades internacionais, o presídio mudou o ateu para uma cela menos perigosa.
Seus advogados argumentaram no tribunal que ele não disse nada que pudesse ofender o Islã. Saber, na entrevista, afirmou que não retirou nada que dissera no Facebook e que nunca negou a sua descrença. “Eu sou ateu e não tenho medo de admitir isso”, disse. Foi por essa razão que os advogados acharam prudente que ele não se manifestasse diante dos juízes.
Saber contou que chegou ao ateísmo após ter decidido que não herdaria a religião de sua família, diferentemente do que ocorre com todos no Egito. “A fé aqui é hereditária, se seus pais são cristãos, você é cristão.”
Disse que entre 2001 e 2005 estudou várias religiões, falou com muitas pessoas, leu muitos livros, para escolher uma delas.
“Descobri que as religiões são apenas uma maneira de encontrar Deus e que, entre elas, não há muitas diferenças, embora dentro de cada uma possa haver muitas seitas. Então por que todas reivindicam o monopólio de Deus? Por que cada uma delas diz que apenas seus seguidores é que vão para o céu?”
Ele afirmou que prosseguiu em sua “viagem” de questionamentos, dando conta da fragilidade das religiões e da facilidade com que podem ser contestadas.
Disse que nessa época ainda acreditava em Deus, mas, ao ampliar as suas indagações, concluiu o quanto é absurda a ideia da existência de uma divindade criadora. “Finalmente decidi que, para mim, deus não fazia nenhum sentido, e me tornei ateu.” O fato de a sua família respeitar a sua opinião facilitou essa tomada de consciência.
Saber traçou um quadro pessimista sobre o Egito, que, segundo ele, se distancia cada vez mais da laicidade, como mostra a nova Constituição.
“O artigo 44 da Constituição, por exemplo, diz que os profetas e outras figuras religiosas não podem ser insultados. Mas quem define insulto? Os cristãos não acreditam que Maomé seja um profeta; isso é um insulto? Os cristãos devem ser levados a julgamento por afirmarem isso? Os muçulmanos não acreditam que Jesus é Deus; isso é um insulto?”
O que precisa ser entendido, disse, é que o Estado laico não é uma blasfêmia. Para Saber, o caminho para garantir a laicidade no Egito não é a mudança de regime de governo, mas a conscientização.
“Precisamos explicar [à população] que o Estado é uma instituição e que, por isso, não pode adotar uma religião específica. Precisamos explicar o que é uma ditadura da maioria e que, na democracia, os direitos das minorais têm de ser protegidos.”
Com informação do Daily News Egypt.
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