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sábado, 16 de fevereiro de 2019

Histórias de famílias judias no Brasil

Nelson Bassanetti
Um conto de fadas
A história tem características de conto de fadas, tipo das que encantam a infância como “Branca de Neve”, “Chapeuzinho Vermelho” ou “O Patinho Feio”, mas essa é  uma história real, escrita pela própria vida e com pinceladas que deixaram marcas indeléveis do tempo, das angústias, das alegrias, das tristezas e da dor. E como todas as histórias ela começa assim: Era uma vez, em 1931, aqui em Catanduva, nesse pequeno rincão, onde ainda se usava carro de bois, havia várias famílias de origem israelita (Lerner, Cuperman, Raw,  Berger, Vainer, Scwartz), que se davam muito bem. Um belo dia, uma boa notícia alvoroçou a pequena comunidade judaica, chegara aqui mais uma família seguidora da religião fundada por Abraão, com vários filhos, mas, para a alegria geral, havia um rapaz em idade de casar. Em todas as casas o alvoroço foi geral, pois existiam várias moças casadoiras, entretanto os dias passavam e nada do rapaz se interessar por alguma e eis que  de repente uma notícia caiu como se fosse  uma bomba. O rapaz mandara buscar a noiva que ficara na Europa. Então foi a vez das jovens comentarem “com certeza é velha e feia ou deve mancar com uma perna ou então deve ter uma verruga no nariz”. A expectativa era geral e finalmente chegou o dia em que toda a comunidade foi conhecer a noiva que chegara da Europa e todos, jovens, velhos e crianças, ficaram mudos de espanto e admiração. Espanto pela beleza radiante de uma jovem onde tudo era natural, a tez muito branca, o rosado das faces, os lábios vermelhos, o brilho dos olhos e admiração pela educação, pela graça e delicadeza com que ela tratou a todos e a todos cativou.
 
Príncipe Predestinado
E assim Acácia Krywat chegou a Catanduva, fugindo de uma situação que se estava formando  na Alemanha com pensamentos anti-semitas e com Hitler se fortalecendo, e, se ganhasse as eleições, a vida dos judeus correria perigo. Antes da sua vinda  os parentes daqui e seus pais trocaram cartas falando dos predicados de cada um e diziam  para ela vir com a finalidade de se casar com seu primo Marcos Berger.  Um mês após a sua chegada, no dia 06 de junho de 1931, com o nascimento de Boris, um neto de seus tios Dora e Jaime Cuperman, aqui moradores, tiveram uma festa religiosa autêntica. Veio um “Moel” de São Paulo que fez o “Brit-Milá” (noivado) e a tradicional cerimônia de “Qvaterschaft”(padrinhos de honra do recém-nascido). Ela  não sabia nada de português  e em Catanduva só existia um livro em “idisch” e ela comecou a se ambientar visitando famílias e Da. Etel Lerner lhe disse e repetiu em “idisch” “Chassiele (Acácia), diga a seus tios para lhe comprarem um uniforme e uma pasta escolar e mandem você à escola, você é muito criança para casar”. O casamento, na tradição judaica, realizou-se em Catanduva, que por falta de uma sinagoga foi celebrado no quintal da casa, a céu aberto. Existe uma superstição de que um casamento com chuva é sinal de sorte, há expressões como “chuva de prata” ou “chuva de ouro”, mas o seu casamento teve uma chuva de lágrimas. Chegou em baixo da chupá com o rosto banhado em lágrimas;  deu as sete voltas e, no final da cerimônia, o noivo quebrou o copo, mas ela nada viu. Foi assim que Deus os abençoou. A chuva de lágrimas os uniu e o destino foi serem felizes. Ela estava preparada para o que desse e viesse ao lado de seu “Bachert” (O predestinado), segundo o lema bem brasileiro, no dizer dela  – “quem canta é o galo”. Dali a uns meses mudaram para Rio Preto e seu marido comprou uma charrete e um cavalo baio e começou a negociar mercadorias e, progredindo, comprou depois um “Ford bigode”, seus pais também vieram para o Brasil  e depois todos juntos mudaram  para São Paulo. E assim Acácia seguiu o destino, e lançou raízes profundas nesta terra abençoada do Brasil, que frutificaram em ramos verdejantes com o nascimento de cinco filhos, os quais continuam florindo e ela, agradecida, está usufruindo com compreensão, tolerância e muito amor.
 
Livro “Álbum de Família” de Acácia Berger – 1999   – Arquivo Museu Padre Albino

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