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sábado, 16 de fevereiro de 2019

SANTOS SARAIVA - Você sabe quem foi o cidadão ao qual homenagearam com nome de rua no bairro Estreito - Fpolis/SCV?

Nota do blogueiro: português antigo. Não estranhe as letras dobradas, o uso do y, o ph em vez de f, a falta de acentos agudos, etc..., portanto.

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FRANCISCO RODRIGUES DOS SANTOS SARAIVA

10/07/2010 


Francisco Rodrigues dos Santos Saraiva

Filho de um rabbino hespanhol da Syria que se converteu e casou-se, nasceu no Douro, em Portugal, e hoje cidadão brazileiro, é presbytero secular e um dos homens mais extraordinários, sem exceptuar os sábios mais celebres da Europa, como disse o imperador D. Pedro de Alcântara. Memoria admirável, intelligencia rara, sendo instruído por seu pae nas línguas semíticas e todo dedicado á linguistica desde os estudos ecclesiasticos, durante os quaes deu-se ao exame dos textos sagrados e à poesia, demonstrando veia abundante e melodiosa, passou à Londres, onde conviveu com os mais notáveis orientalistas, adquiriu conhecimentos excepcionaes do hebraico, do sanscrito, do árabe, syriaco, latim, grego e idiomas do norte da Europa que falla e escreve correctamente, e algumas noções do chinez, que lhe permittem decifrar os trezentos caracteres radicaes da lingua litteraria e clássica. Versado em summa nas línguas que teem códices escriptos, o é também na phenicia, lingua morta, de que mais de uma vez serviu-se em Portugal para confundir os semi-sabios, rindo-se dos equívocos em que os apanhava. É profundo nas sciencias theologicas e philosophicas; deu-se ao estudo da mineralogia, da botânica, da historia, da numismática, da paleographia, da philologia e de outros ramos dos conhecimentos humanos. É curioso ouvir o padre Saraiva discursar sobre todas as questões da nossa época, diz o Diário de Noticias do Rio de Janeiro, que tenho agora á vista, de 15 de outubro de 1887:


Da erudição moderna salta para a antiga ; compulsa todas as línguas e autores ; compara os homens, as civilizações, as épocas. É como uma encyclopedia viva, raciocinadora, vendo tudo das serenas regiões do espirito e lançando a sua nota particular com o sorriso de Cervantes e Rabelais, que lhe paira sempre nos lábios.

Depois de estar em Londres foi á Roma, e em 1864 era vigário de S. Francisco de Paula, no Rio Grande do Sul, onde fez collecções mineralógicas e investigações botânicas. Dahi foi á Lisboa, e de Lisboa ao Rio de Janeiro, onde o Imperador convidou-o à uma conferencia que durou duas horas; do Rio de Janeiro foi á Santa Catharina,e embrenhou-se n’um deserto de S. José, onde escrevia dia e noite, sendo designado o mysterioso. Barba longa, enorme chapéo de couro, ninguém o supporia um padre. Nesse retiro foi elle surprehendido por curiosos, a quem chegara a noticia do mysterioso, e a quem procurou occultar sua identidade ; mas afinal até deu-lhes escriptos que foram publicados em folhas do Desterro. Escreveu:

Novíssimo diccionario latino-portuguez, etymologico, prosodíco, histórico, geographico, mythologico, biographico, etc, redigido segundo o plano de L. Quecherat e precedido de uma lista de autores e monumentos latinos, citados no volumo o das principaes siglas usadas na lingua latina. (Havre), 1881, XX-1.297 pags. in-fol. de três columnas— É notavelmente superior ao Magnum Lexicon, tanto pelo avultado numero de vocábulos, que neste não se encontram, como pela explicação das diversas accepções desses vocábulos, justificada com muitos exemplos tirados dos livros latinos e ainda pela clareza e rigor com que são definidos os vocábulos.

— Novo methodo de grammatica latina para uso das escolas da Congregação do Oratório pelo padre A. P. de Figueiredo: novíssima edição melhorada e consideravelmente augmentada pelo presbylero, etc. Rio de Janeiro, 1872, in-8o.

— O livro de Hhanokh (acerca da amizade) ; traduzido do hebreu — No Echo Americano, tomo 1°, 1871, pags. 174 e 200.

— Acerca da necessidade e utilidade do estudo das linguas bíblicas no império do Brazil como poderoso auxiliar das sciencias ecclesiasticas e da philologia : memoria apresentada a S. M. o Imperador— Idem pags. 398 e 435, e tomo 2º, pags. 30,47,71, 94 e 123. É datada do Rio de Janeiro, 12 de junho de 1870. Me parece que ha outros trabalhos seus publicados em revistas. Sei que o padre Saraiva foi collaborador da Evolução, folha de Santa Catharina e que em folhas de Porto Alegre se publicaram poesias suas e trabalhos em prosa. Entre seus inéditos ha uma obra escripta no Rio Grande sobre as

— Origens do Christianismo — em que os Strauss, Renan e outros excavadores da historia religiosa teriam refutação esclarecida e enérgica, si ella fosse publicada.

In: Sacramento Blake, Augusto Victorino Alves. Diccionario bibliographico brazileiro. Ed. fac-similar. Rio de Janeiro : Typographia Nacional, 1883. . 7 vols.Vol. 3. pp. 106-107. (Ed. Fac-símile do Conselho Federal de Cultura, 1970).

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