Ações envolveram 22 famílias da cidade siberiana de Surgut, de acordo com o 'Novaya Gazeta', e incluíram uso de eletrochoque e métodos de afogamento simulado. Igreja é qualificada como extremista e proibida no país desde 2017.
Por Agência EFE
04/03/2019 19h18 Atualizado há 9 horas
Vários Testemunhas de Jeová, igreja qualificada como extremista e proibida na Rússia, foram torturados com o uso de eletrochoque e métodos de afogamento simulado por funcionários dos serviços segurança após uma série de inspeções em suas casas, informou a imprensa russa nesta segunda-feira (4).
As ações policiais aconteceram em fevereiro e envolveram 22 famílias da cidade siberiana de Surgut suspeitas de integrar essa igreja, de acordo com o jornal opositor russo "Novaya Gazeta". Algumas foram levadas ao escritório do Comitê de Instrução da região e outras foram torturadas depois do interrogatório, segundo publicação, que conversou com dez fiéis.
"Às 6h15, ouvi uma batida muito forte. Não sei por que eles bateram assim. Eu e a minha esposa acordamos e nos abraçamos na escuridão, porque era assustador se aproximar da porta. Não disseram que eram da Polícia. Por alguma razão eles não quebraram a minha porta e entraram pela janela. Escutamos o barulho dos vidros quebrando e nos escondemos no banheiro", contou Timofey Zhukov, que disse que os agentes tinham um mandado de busca e apreensão.
Depois da inspeção, que durou três horas, Zhukov permaneceu algemado.
"Fui colocado virado para a parede e alguém me empurrou pelas costas. Eu bati a cabeça contra a parede e deixei uma mancha de sangue nela", contou o fiel.
Já a ação na casa de Igor Trifonov, segundo o seu depoimento, durou mais de cinco horas.
"Tiveram que parar por uns 20 minutos porque minha pressão subiu, minha língua ficou dormente e precisaram chamar a ambulância", lembrou ele, acrescentando que depois da inspeção em casa foi levado para um interrogatório.
Leonid Rysikov, por sua vez, relatou que o que mais os investigadores perguntavam era sobre o financiamento e a hierarquia dos Testemunhas de Jeová.
"Só se interessaram em saber sobre o financiamento, a hierarquia e se sou o cabeça da filial de Surgut", acrescentou Rysikov, que reconheceu que já teve um importante cargo no escritório local da organização antes da sua dissolução.
Sergei Volosnikov foi uma das testemunhas que denunciaram torturas durante o interrogatório nos órgãos de segurança.
"Fui jogado no chão, prenderam os meus pés e mãos com fita adesiva e colocaram uma sacola na cabeça. Eu não conseguia respirar", declarou ao jornal russo.
Ele afirmou que também recebeu descargas elétricas nas coxas, que fizeram com que começasse a "declarar".
"Comecei a falar o que eles queriam ouvir, dar nomes, sobrenomes e responder as perguntas", afirma.
Segundo o "Novaya Gazeta", cinco fieis que sofreram abusos em Surgut passaram depois por uma revisão médica para documentar os sinais das torturas.
Em abril de 2017, o Tribunal Supremo da Rússia proibiu as atividades dos Testemunhas de Jeová, por considerá-los uma organização extremista, e ordenou a apreensão de todas as suas propriedades e a dissolução das 395 filiais no país.
Os Testemunhas de Jeová, que consideram que as acusações da Justiça russa são falsas, rejeitaram a decisão do Supremo e disseram que recorreriam no Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
Naquela época, o porta-voz dos Testemunhas de Jeová na Rússia, Ivan Belenko, denunciou em declarações à Agência Efe que a decisão das autoridades russas priva do direito à liberdade de culto os 175 mil praticantes que a comunidade tem no país.
Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/03/04/testemunhas-de-jeova-sao-torturados-na-russia-diz-jornal.ghtml
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