Investigadores britânicos estão a realizar um estudo para perceber quais os efeitos da poluição atmosférica na saúde das crianças. Estudos anteriores revelaram que a poluição do ar está associada a um maior risco de aparecimento de doenças respiratórias e cardiovasculares, cancro do pulmão e até demência.
A
partir da próxima segunda-feira, os condutores que entrarem no centro
de Londres com viaturas que excedam os padrões de emissões de gases
regulados pela União Europeia vão ser obrigados a pagar uma nova taxa.
Uma medida, conta a BBC,
que tem como objetivo melhorar a qualidade do ar na capital, reduzindo
um elevado número de doenças. De acordo com as investigações até aqui
realizadas, o impacto da poluição do ar vai desde a diminuição da
capacidade pulmonar ao desempenho cognitivo.
Em declarações à estação pública britânica, Sadiq Khan, presidente da câmara de Londres, disse que a ameaça da poluição do ar, que é quase invisível a olho nu, é uma "emergência de saúde pública".
Um dos maiores problemas, referiu, é que não conseguimos ver as
partículas em suspensão, o dióxido de nitrogénio - "o veneno" -, pelo
que não é levado a sério.
Nos últimos anos, lembra a BBC, vários
estudos revelaram que gases como o dióxido de nitrogénio e as partículas
finas podem atingir profundamente o organismo, causando danos
permanentes.
Alguns
dos efeitos mais conhecidos - e mais óbvios - são ao nível da
respiração. Quem sofre de asma, por exemplo, está mais vulnerável ao ser
exposto à poluição atmosférica, que pode facilmente potenciar um
ataque.
"Tive que ficar acordado durante uma noite, porque estava
mesmo mal devido ao ar poluído", contou Alfie, de 10 anos, aluno da
escola primária Haimo, em Eltham. "Todo o ar poluído pode prejudicar os
seus pulmões, pode até danificar o seu cérebro e prejudicar quase tudo
no seu corpo", disse o rapaz, citado pela BBC.
Alfie é uma das 300
crianças envolvidas num estudo, no qual usam uma mochila especial de
monitorização de ar, desenvolvida por um empresa britânica de
tecnologia, que está equipada com instrumentos para medir as concentrações de dióxido de nitrogénio e das partículas PM 2.5.
O trabalho parte da premissa de que a inalação de ar poluído em idades precoces pode ter implicações para a vida inteira. De
acordo com um outro estudo feito em Londres, citado pela estação
televisiva, as crianças que crescem em zonas altamente poluídas têm uma
capacidade respiratória 5% inferior à das crianças que vivem em zonas
limpas. E não há maneira de reverter essa perda.
Ben Barrett, investigador do King's College London, que conduz o estudo, disse à BBC que as crianças que estão expostas à poluição atmosférica enfrentam mais desafios ao longo da vida. Não quer dizer que estejam sujeitas a uma doença em particular - embora isso também possa acontecer -, "mas o seu corpo fica menos capaz de lidar com os desafios" que vai enfrentando na adolescência e no resto da vida.
Hoje em dia, sabe-se que a poluição atmosférica também pode potenciar doenças como a bronquite crónica e enfisemas pulmonares. Além disso, a exposição ao ar poluído está também incluída nas principais causas de cancro de pulmão. Em 2013, a poluição atmosférica integrou oficialmente a lista de agentes cancerígenos do Centro Internacional para a Investigação do Cancro (IARC), uma agência especializada da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Como
são extremamente pequenas, as partículas PM 2.5 entram no sistema
cardiovascular e circulam por todo o corpo. Com isto, há o risco de
bloqueio das artérias, o que aumenta a probabilidade de ocorrência de AVC, bem como de doenças cardíacas.
De
acordo com uma investigação feita em Inglaterra, cujos resultados foram
publicados no ano passado, a poluição do ar pode também causar danos no
cérebro. Um estudo publicado na revista BMJ Open, pode aumentar em 40% o risco de desenvolver demência. Apesar
de não ter ficado provada uma ligação de causa-efeito entre a poluição e
a doença, os investigadores descobriram que quem vive nas áreas com
níveis mais elevados de partículas finas (PM2,5) tinha mais de
probabilidade de desenvolver esta patologia.
Impacto no desempenho cognitivo
No ano passado, um grupo de investigadores chineses revelou que o desempenho cognitivo pode ser afetado perante a exposição à poluição atmosférica.
Segundo os cientistas, os efeitos tornam-se mais pronunciados à medida
que as pessoas vão envelhecendo, especialmente nos homens e em pessoas
com menos habilitações literárias.
Mais recentemente, um estudo britânico relacionou o excesso de poluição no ar com o aumento do risco de os adolescentes sofrerem surtos psicóticos.
Jonathan
Grigg, professor na Queen Mary University London e um dos coordenadores
do estudo com crianças, diz que os cientistas estão certos de que a
poluição do ar está associada a doenças respiratórias e a doenças
cardiovasculares, e dentro de cinco anos esperam "ter a certeza sobre
outras condições, como a demência e a obesidade".
A ciência procura também esclarecer quais as razões pelas quais os bebés que das áreas mais poluídas tendem a nascer prematuros e com peso abaixo da média.
Nenhum comentário:
Postar um comentário