A Alemanha, chamada de "locomotiva" da Europa, tem emitido sinais econômicos preocupantes.
Em
dezembro passado, o Banco Central alemão previa um crescimento de 1,6%
da economia para este ano, mas essa estimativa caiu para 1% na
sexta-feira passada. E, na quarta-feira, um novo rebaixamento: o
ministro da Economia, Peter Altmaier, afirmou que a expectativa é de que
o país cresça apenas 0,5%, em razão de fatores como estagnação da
economia global, guerras comerciais internacionais e a incerteza causada
pelo Brexit, processo de saída do Reino Unido da União Europeia.
Embora
nem todos os indicadores sejam negativos, a baixa na previsão do
crescimento alemão é parte de uma tendência iniciada no ano passado e
preocupa uma das maiores economias do mundo.
No último trimestre de 2018, o PIB (Produto Interno Bruto)
alemão se contraiu 0,2% e não recuperou o crescimento no primeiro
trimestre deste ano, embora tenha escapado de uma recessão.
Queda da produção industrial
Uma
das razões do esfriamento está na queda da produção industrial alemã
nos últimos meses, decorrente da retração da demanda – em níveis que só
são superados pela retração vista em 2008, ano em que eclodiu a crise
financeira europeia.
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Em
fevereiro, as exportações alemãs caíram 1,3% em relação ao mês
anterior, segundo dados da Agência Federal de Estatísticas. Trata-se da
maior queda registrada no último ano.
Embora no total as
exportações tenham crescido 3,9% nos últimos 12 meses, as perspectivas
de curto prazo não são vistas com otimismo.
Um estudo publicado no início de abril diz que as
encomendas à Alemanha e as exportações do país estão "caindo a um ritmo
não visto desde a última crise financeira global", por causa sobretudo
da redução da demanda da China, que é um dos maiores clientes da
Alemanha.
Por que a economia alemã é importante?
Do
estado da economia alemã – que responde por 29% de toda a atividade
econômica da zona do euro – depende boa parte da saúde econômica do
resto da Europa.
E o impacto se estende ao resto do mundo. A
Alemanha é a quarta economia global, atrás apenas de EUA, China e Japão,
e o terceiro maior exportador do mundo, depois de China e EUA.
Os
vínculos alemães com a América Latina também são intensos. Berlim é o
quarto exportador para as principais economias latino-americanas –
Brasil, Argentina, México, Colômbia e Chile.
Só para o Brasil, as
exportações alemãs somam US$ 10,5 bilhões em 2018, sendo medicamentos,
peças automotivas e outros manufaturados os principais produtos. Ao
mesmo tempo, o Brasil exportou US$ 5,2 bilhões aos alemães no ano
passado, sobretudo café, farelo de soja e minérios.
Dados positivos
Vale dizer que nem todos os indicadores econômicos alemães são negativos.
A
taxa de desemprego no país, de 3,1%, segue sendo uma das mais baixas do
mundo e continuou baixando mesmo enquanto o PIB não decolava.
Dentro do grupo de economias desenvolvidas, apenas Islândia, Japão e República Tcheca têm índice de desemprego menor.
Também
cresceu a porcentagem da população em idade produtiva que está
empregada, a um ritmo de 0,2% em cada um dos últimos trimestres de 2018.
A
explicação para essa aparente contradição entre diferentes indicadores é
que, embora a produção industrial esteja passando por um momento
delicado, os setores de serviço e construção vivem expansão, em meio a
um aquecido mercado interno.
Impactos na zona do euro
Fora das fronteiras alemãs, o freio do crescimento do país se faz sentir na zona do euro.
Alguns
países – como a Espanha, entre as grandes economias do bloco – seguiram
crescendo em bom ritmo, mas outros, como a Itália, vivem cenários
recessivos.
A economia italiana, inclusive, não recuperou o tamanho que tinha antes da crise financeira de dez anos atrás.
E,
diferentemente da Alemanha, os índices de desemprego no continente
europeu oscilam muito de país para país. No conjunto da zona do euro, a
taxa média é de 7,8% – relativamente elevada.
Em países como Itália, Espanha e Grécia, o desemprego chega a dois dígitos – no caso grego, chegou a 18%.
As origens da desaceleração: dos EUA ao Brexit
As razões por trás dos problemas econômicos da Alemanha e da zona do euro são diversas.
Primeiro, a recuperação depois da crise financeira de 2008 nunca foi plena.
Depois,
no último ano, a região foi afetada pela má situação do comércio
global. Além do esfriamento da economia chinesa, as tarifas impostas
pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre as importações americanas
de aço e alumínio também tiveram impacto.
A possibilidade de que
essas tarifas se apliquem também à importação de automóveis causa
preocupações acerca de um efeito ainda mais profundo, sobretudo para a
economia alemã.
Ao mesmo tempo, a incerteza derivada da falta de
acordo em torno do Brexit – uma vez que ainda não foram definidos os
termos da saída britânica da União Europeia – é outro fator mencionado
pelas empresas alemãs nas pesquisas que tentam entender a diminuição da
pujança econômica.
Fatores internos
O
recente acordo para prorrogar o Brexit até 31 de outubro (o prazo
anterior era 29 de março), por sua vez, teve um impacto positivo no
humor dos investidores alemães.
O indicador chamado ZEW, que mede o
estado de ânimo da economia do país, subiu até 3,1 em abril e tornou-se
positivo pela primeira vez desde março de 2018.
Só que, em meio
ao vaivém no contexto internacional, a economia alemã também se viu
exposta a fatores conjunturais internos, como a implementação de novos
testes de emissão de gases nocivos derrubou a produção e venda de
automóveis no final do ano passado, em meio à dificuldade das montadoras
em se ajustar às regras.
Além disso, uma das piores secas já
registradas afetou os níveis de água do rio Reno, uma importante artéria
comercial da indústria alemã.
As (poucas) opções do Banco Central alemão
Ante
esse cenário, uma das perguntas é: o que pode fazer o Banco Central
alemão para incentivar o crescimento do país e da Europa?
As
opções do órgão são limitadas, e usar a política econômica como
ferramenta para contrastar o esfriamento da economia pode ser complexo.
As
taxas de juros do Banco Central Europeu já se encontram em níveis
bastante baixos; no final do ano passado, o organismo interrompeu,
depois de quatro anos, sua política de "flexibilização quantitativa",
que consiste em injetar dinheiro na economia por meio da compra de
títulos do Tesouro que estejam no mercado financeiro.
Retomar esse
tipo política é possível, mas traz complicações. Para certos tipos de
títulos, o BCE já possui praticamente a quantidade máxima que quer ter
sem distorcer em excesso o funcionamento natural do mercado financeiro.
Do
ponto de vista político, ao mesmo tempo, tal medida seria vista com
receio, especialmente na Alemanha. Isso porque injetar dinheiro na
economia pode levar ao aumento da inflação – medo que afeta os alemães
em particular porque o país viveu um processo inflacionário agudo na
primeira metade do século 20.
O que o governo alemão pode fazer?
Outras
ferramentas para animar a economia, como a redução de impostos e o
aumento dos investimentos públicos, estão nas mãos do governo alemão.
Muitos
economistas argumentam que a Alemanha tem margem para colocar essas
políticas em prática. Berlim gasta menos do que arrecada em impostos,
mas se mostra reativo em usar suas finanças para estimular a economia.
Além
disso, as recomendações mais recentes da Comissão Europeia (braço
executivo da União Europeia) apontam que ainda é necessário aplicar
políticas "prudentes", que assegurem a sustentabilidade das contas dos
governos da UE.
Alguns críticos, porém, acham que as regras da UE sobre as contas governamentais da zona do euro são excessivamente cautelosas.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47970041
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47970041
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