por Jaime Spitzcovsky
Edição 103 - Abril de 2019
Descrito como O “divórcio mais complexo da história”, o Brexit, saída do Reino Unido da União Europeia, provoca preocupações na comunidade judaica britânica, que, com cerca de 280 mil integrantes, corresponde à segunda maior da Europa, atrás somente da França.
O Brexit desponta como um dos principais momentos da onda antiglobalização, impulsionada após a crise financeira internacional de 2008/9. Um dos ingredientes a contaminar essa tendência política é o nacionalismo, que, em doses excessivas, estimula antissemitismo e preconceitos contra minorias.
Também a possibilidade de a crise atual, provocada pelas dificuldades em implementar o resultado do referendo realizado em junho de 2016, desembocar em novas eleições, tira o sono de judeus britânicos. Uma vitória da oposição significaria a chegada ao poder de Jeremy Corbyn, líder do trabalhismo desde 2015 e representante das alas mais esquerdistas do partido, apoiadas em visões antissemitas e alianças com grupos fundamentalistas, como Hezbolá e Hamas.
Cerca de 40% dos judeus britânicos considerariam “seriamente emigrar” no caso de uma vitória de Corbyn, apontou pesquisa realizada em setembro passado e divulgada em reportagem do israelense The Jerusalem Post. Se o radicalismo à esquerda preocupa, também provoca temores o avanço do nacionalismo verificado em grupos favoráveis ao Brexit e posicionados mais à direita no espectro político britânico. O medo de avanço da intolerância leva também integrantes da comunidade judaica do Reino Unido a buscar passaportes de outros países europeus, em função de laços familiares, na busca de garantias de poder continuar a viver sob o guarda-chuva da União Europeia.
Desde junho de 2016, a embaixada alemã em Londres recebeu mais de 3,3 mil pedidos de cidadania de descendentes de judeus perseguidos pelo nazismo. Antes da votação pela saída do Reino Unido, a missão diplomática de Berlim recebia, em média, 50 solicitações por ano.
Os últimos meses, de intricadas negociações e movimentos políticos inéditos, com idas e vindas no diálogo entre Londres e Bruxelas e derrotas históricas da primeira-ministra Theresa May, do Partido Conservador (centro-direita), evidenciam as dificuldades enfrentadas para viabilizar o resultado do referendo de 2016, quando os britânicos, num inesperado placar de 51% a 48%, optaram por abandonar o bloco europeu.
A surpreendente voz das urnas transformou o Reino Unido no primeiro país a formalizar um pedido da saída da União Europeia, resultado de um processo de integração continental iniciado em 1951 e habituado a lidar com uma fila de pretendentes à participação no bloco. Londres, confirmando algumas de suas tendências eurocéticas, optou por um novo rumo, após referendo convocado pelo então primeiro-ministro e europeísta David Cameron, que viabilizou a votação para aplacar a pressão de grupos antiglobalização, certo de que sua posição, de permanência no bloco, prevaleceria.
O caminho a desbravar se descortina bastante tortuoso, devido à amplitude dos vínculos criados entre o Reino Unido e a União Europeia ao longo de décadas de parceria. Desde a adesão britânica ao projeto de integração europeu, em 1973, milhares de leis e regulações do bloco ajudam a modelar a vida dos britânicos, nos planos político, econômico e social.
A dificuldade em desfazer o emaranhado se evidenciou nos últimos meses. E, apesar de haver data e hora marcadas para o Brexit, 29 de março às 23h (horário local), o Reino Unido testemunhou o calendário acusar a chegada de meados do mês da separação sem conseguir obter um acordo para organizar o momento histórico. À medida que a indefinição avançava, crescia também a incerteza entre personagens políticos, o mundo econômico, a população britânica, entre outros setores.
Os primeiros meses de 2018 ofereceram vários momentos de um drama político. A 15 de janeiro, o Parlamento britânico rejeitou o acordo costurado, após meses de negociação, entre May e a liderança europeia. Com um placar de 432 votos contra e 202 a favor, a primeira-ministra amargou a maior derrota (diferença de 230 deputados) registrada na história recente da tradicional democracia britânica.
Determinada a administrar a separação, May voltou à carga e submeteu novamente o acordo em março. Mais uma derrota acachapante, embora por diferença menor: 149 votos. Uma das várias tendências, com a aproximação do dia D (29 de março), é Londres e Bruxelas entrarem em entendimento por um adiamento do Brexit, provavelmente para maio e junho, a fim de renegociar os termos acertados em 2018 por Theresa May e representantes da União Europeia.
As negociações para os termos da separação renderam um compêndio com mais de 500 páginas. Apenas três pilares, no entanto, resumem os principais aspectos abordados. No plano financeiro, fechou-se o pagamento do Reino Unido à União Europeia de 39 bilhões de libras esterlinas, a título de multas por quebra de contratos, indenizações de financiamentos do bloco europeu em solo britânico e outros aspectos.
O segundo eixo importante tratou da situação de cidadãos britânicos vivendo em países da União Europeia e de europeus morando no Reino Unido. Segundo o acordo, o status quo se mantém para aqueles que se mudaram até 29 de março de 2018 (ou uma nova data do Brexit).
Ou seja, quem já vivia antes do Brexit fora de seu país (entre Reino Unido e União Europeia) continuará desfrutando das condições proporcionadas nos tempos da parceria, ou seja, acesso a serviços de saúde, educação, entre outras facilidades. Quem se mudar de país após o Brexit, do ou para o Reino Unido, terá sua situação migratória definida por acordos bilaterais a serem firmados entre Londres e cada uma das outras 27 nações do bloco continental. O valor do reembolso e o status dos cidadãos não geraram tanta polêmica e resistência quanto o terceiro pilar, principal responsável pelas sucessivas derrotas de May no Parlamento. Trata-se da questão da fronteira entre a Irlanda do Norte, integrante do Reino Unido e de maioria protestante, com a Irlanda, república independente, com população majoritariamente católica e integrante da União Europeia.
Essa fronteira, com o Brexit, será a única divisa por terra entre o Reino Unido e a União Europeia, já que a Irlanda integra o bloco. Portanto, depois da separação, seria natural a implantação, na área limítrofe, de postos policiais, de imigração e de aduana. Implementar uma “hard border” significaria mudança cardinal em relação à situação atual. Praticamente não há controles na fronteira entre Irlanda e Irlanda do Norte, num desenho típico de fronteiras na Europa ocidental.
No entanto, a ideia de colocar postos de controle (a “hard border”) é rejeitada pela Irlanda, pelo governo regional da Irlanda do Norte, por Theresa May e pela União Europeia. O principal combustível a movimentar a resistência a levantar barreiras físicas na fronteira são os temores de um retorno aos “anos sangrentos”, nome dado ao período entre as décadas de 1960 e de 1990, quando aquela região correspondia ao palco de um dos conflitos mais sangrentos da segunda metade do século 20.
Naqueles anos, grupos terroristas da minoria católica da Irlanda do Norte lutavam pela reunificação da ilha, ou seja, pelo fim do domínio britânico na região e queriam reunificação do território sob o comando de Dublin, capital da Irlanda. Milhares de pessoas morreram nos atentados dos IRA (Exército Republicano Irlandês).
Para impedir que os terroristas recebessem dinheiro e armas de aliados que viviam na Irlanda, o governo britânico impôs controles extremamente rígidos na fronteira da Irlanda do Norte. Em 1998, um acordo histórico colocou fim às ondas de violência entre protestantes e católicos na Irlanda do Norte, o que permitiu retirar os controles das áreas limítrofes com a Irlanda.
Portanto, reintroduzir controles na fronteira poderia reavivar memórias do passado, minar o clima de reconciliação e trazer de volta a violência. Theresa May e a UE decidiram então que, apesar do Brexit, o Reino Unido permaneceria num espaço econômico comum com o bloco europeu, para que produtos possam continuar circulando livremente pela divisa irlandesa, sem a necessidade de reintroduzir uma “hard border”, com checkpoints e aduana.
O entendimento prevê ainda que a manutenção do Reino Unido na união aduaneira com a União Europeia seja transitório, até 31 de dezembro de 2020, enquanto se busca uma solução definitiva para permitir a Londres romper os antigos laços econômicos com as nações do bloco continental.
É exatamente essa arquitetura sobre a fronteira irlandesa que provocou, neste começo de ano, o naufrágio do acordo entre May e a UE. Os defensores do Brexit, favoráveis a romper os antigos laços com o bloco, temem que a manutenção da união aduaneira se transforme de provisória em definitiva, o que manteria o Reino Unido com significativo vínculo econômico com a União Europeia.
No tortuoso caminho da separação, o governista Partido Conservador e o Trabalhista, o maior da oposição, registraram turbulências históricas. O trabalhismo testemunhou, em dezembro, a saída de um grupo de deputados, defensores de um novo referendo sobre o Brexit e que protestam contra o antissemitismo crescente nas alas mais esquerdistas do partido, representadas por ninguém menos do que o seu atual líder, Jeremy Corbyn.
No entanto, parecem exíguas as chances de uma votação para desfazer o resultado do referendo de 2016. Lideranças políticas governistas e oposicionistas, ainda que anteriormente contrárias ao divórcio, argumentam que o resultado das urnas precisa ser respeitado e que uma nova votação colocaria em xeque a credibilidade e a estabilidade do tradicional processo democrático britânico. “Brexit é Brexit”, sentenciou May, que, há três anos, fazia campanha para seu país permanecer na União Europeia.
O caleidoscópio de posições sobre o Brexit se reflete nos partidos Conservador e Trabalhista, eles próprios divididos entre defensores e opositores da separação, entre radicais e moderados. Corbyn, líder da oposição, sustenta uma posição de “soft Brexit”, ou seja, saída da União Europeia, mas com manutenção de antigos vínculos econômicos.
A votação de 23 de junho de 2016 representou uma voz de protesto contra a globalização e seus desequilíbrios, e também contra a União Europeia, cuja existência se baseia em princípios globalizantes, como integração entre países e intensificação de fluxos de pessoas, bens, serviços, informações e capitais.
No entanto, o que para muitos eleitores foi um voto de protesto transformou-se num dos maiores desafios para o futuro e a estabilidade do Reino Unido, no século 21.
Jaime Spitzcovsky foi editor internacional e correspondente da Folha de S. Paulo em Moscou e em PequimEdição 103 - Abril de 2019
Descrito como O “divórcio mais complexo da história”, o Brexit, saída do Reino Unido da União Europeia, provoca preocupações na comunidade judaica britânica, que, com cerca de 280 mil integrantes, corresponde à segunda maior da Europa, atrás somente da França.
O Brexit desponta como um dos principais momentos da onda antiglobalização, impulsionada após a crise financeira internacional de 2008/9. Um dos ingredientes a contaminar essa tendência política é o nacionalismo, que, em doses excessivas, estimula antissemitismo e preconceitos contra minorias.
Também a possibilidade de a crise atual, provocada pelas dificuldades em implementar o resultado do referendo realizado em junho de 2016, desembocar em novas eleições, tira o sono de judeus britânicos. Uma vitória da oposição significaria a chegada ao poder de Jeremy Corbyn, líder do trabalhismo desde 2015 e representante das alas mais esquerdistas do partido, apoiadas em visões antissemitas e alianças com grupos fundamentalistas, como Hezbolá e Hamas.
Cerca de 40% dos judeus britânicos considerariam “seriamente emigrar” no caso de uma vitória de Corbyn, apontou pesquisa realizada em setembro passado e divulgada em reportagem do israelense The Jerusalem Post. Se o radicalismo à esquerda preocupa, também provoca temores o avanço do nacionalismo verificado em grupos favoráveis ao Brexit e posicionados mais à direita no espectro político britânico. O medo de avanço da intolerância leva também integrantes da comunidade judaica do Reino Unido a buscar passaportes de outros países europeus, em função de laços familiares, na busca de garantias de poder continuar a viver sob o guarda-chuva da União Europeia.
Desde junho de 2016, a embaixada alemã em Londres recebeu mais de 3,3 mil pedidos de cidadania de descendentes de judeus perseguidos pelo nazismo. Antes da votação pela saída do Reino Unido, a missão diplomática de Berlim recebia, em média, 50 solicitações por ano.
Os últimos meses, de intricadas negociações e movimentos políticos inéditos, com idas e vindas no diálogo entre Londres e Bruxelas e derrotas históricas da primeira-ministra Theresa May, do Partido Conservador (centro-direita), evidenciam as dificuldades enfrentadas para viabilizar o resultado do referendo de 2016, quando os britânicos, num inesperado placar de 51% a 48%, optaram por abandonar o bloco europeu.
A surpreendente voz das urnas transformou o Reino Unido no primeiro país a formalizar um pedido da saída da União Europeia, resultado de um processo de integração continental iniciado em 1951 e habituado a lidar com uma fila de pretendentes à participação no bloco. Londres, confirmando algumas de suas tendências eurocéticas, optou por um novo rumo, após referendo convocado pelo então primeiro-ministro e europeísta David Cameron, que viabilizou a votação para aplacar a pressão de grupos antiglobalização, certo de que sua posição, de permanência no bloco, prevaleceria.
O caminho a desbravar se descortina bastante tortuoso, devido à amplitude dos vínculos criados entre o Reino Unido e a União Europeia ao longo de décadas de parceria. Desde a adesão britânica ao projeto de integração europeu, em 1973, milhares de leis e regulações do bloco ajudam a modelar a vida dos britânicos, nos planos político, econômico e social.
A dificuldade em desfazer o emaranhado se evidenciou nos últimos meses. E, apesar de haver data e hora marcadas para o Brexit, 29 de março às 23h (horário local), o Reino Unido testemunhou o calendário acusar a chegada de meados do mês da separação sem conseguir obter um acordo para organizar o momento histórico. À medida que a indefinição avançava, crescia também a incerteza entre personagens políticos, o mundo econômico, a população britânica, entre outros setores.
Os primeiros meses de 2018 ofereceram vários momentos de um drama político. A 15 de janeiro, o Parlamento britânico rejeitou o acordo costurado, após meses de negociação, entre May e a liderança europeia. Com um placar de 432 votos contra e 202 a favor, a primeira-ministra amargou a maior derrota (diferença de 230 deputados) registrada na história recente da tradicional democracia britânica.
Determinada a administrar a separação, May voltou à carga e submeteu novamente o acordo em março. Mais uma derrota acachapante, embora por diferença menor: 149 votos. Uma das várias tendências, com a aproximação do dia D (29 de março), é Londres e Bruxelas entrarem em entendimento por um adiamento do Brexit, provavelmente para maio e junho, a fim de renegociar os termos acertados em 2018 por Theresa May e representantes da União Europeia.
As negociações para os termos da separação renderam um compêndio com mais de 500 páginas. Apenas três pilares, no entanto, resumem os principais aspectos abordados. No plano financeiro, fechou-se o pagamento do Reino Unido à União Europeia de 39 bilhões de libras esterlinas, a título de multas por quebra de contratos, indenizações de financiamentos do bloco europeu em solo britânico e outros aspectos.
O segundo eixo importante tratou da situação de cidadãos britânicos vivendo em países da União Europeia e de europeus morando no Reino Unido. Segundo o acordo, o status quo se mantém para aqueles que se mudaram até 29 de março de 2018 (ou uma nova data do Brexit).
Ou seja, quem já vivia antes do Brexit fora de seu país (entre Reino Unido e União Europeia) continuará desfrutando das condições proporcionadas nos tempos da parceria, ou seja, acesso a serviços de saúde, educação, entre outras facilidades. Quem se mudar de país após o Brexit, do ou para o Reino Unido, terá sua situação migratória definida por acordos bilaterais a serem firmados entre Londres e cada uma das outras 27 nações do bloco continental. O valor do reembolso e o status dos cidadãos não geraram tanta polêmica e resistência quanto o terceiro pilar, principal responsável pelas sucessivas derrotas de May no Parlamento. Trata-se da questão da fronteira entre a Irlanda do Norte, integrante do Reino Unido e de maioria protestante, com a Irlanda, república independente, com população majoritariamente católica e integrante da União Europeia.
Essa fronteira, com o Brexit, será a única divisa por terra entre o Reino Unido e a União Europeia, já que a Irlanda integra o bloco. Portanto, depois da separação, seria natural a implantação, na área limítrofe, de postos policiais, de imigração e de aduana. Implementar uma “hard border” significaria mudança cardinal em relação à situação atual. Praticamente não há controles na fronteira entre Irlanda e Irlanda do Norte, num desenho típico de fronteiras na Europa ocidental.
No entanto, a ideia de colocar postos de controle (a “hard border”) é rejeitada pela Irlanda, pelo governo regional da Irlanda do Norte, por Theresa May e pela União Europeia. O principal combustível a movimentar a resistência a levantar barreiras físicas na fronteira são os temores de um retorno aos “anos sangrentos”, nome dado ao período entre as décadas de 1960 e de 1990, quando aquela região correspondia ao palco de um dos conflitos mais sangrentos da segunda metade do século 20.
Naqueles anos, grupos terroristas da minoria católica da Irlanda do Norte lutavam pela reunificação da ilha, ou seja, pelo fim do domínio britânico na região e queriam reunificação do território sob o comando de Dublin, capital da Irlanda. Milhares de pessoas morreram nos atentados dos IRA (Exército Republicano Irlandês).
Para impedir que os terroristas recebessem dinheiro e armas de aliados que viviam na Irlanda, o governo britânico impôs controles extremamente rígidos na fronteira da Irlanda do Norte. Em 1998, um acordo histórico colocou fim às ondas de violência entre protestantes e católicos na Irlanda do Norte, o que permitiu retirar os controles das áreas limítrofes com a Irlanda.
Portanto, reintroduzir controles na fronteira poderia reavivar memórias do passado, minar o clima de reconciliação e trazer de volta a violência. Theresa May e a UE decidiram então que, apesar do Brexit, o Reino Unido permaneceria num espaço econômico comum com o bloco europeu, para que produtos possam continuar circulando livremente pela divisa irlandesa, sem a necessidade de reintroduzir uma “hard border”, com checkpoints e aduana.
O entendimento prevê ainda que a manutenção do Reino Unido na união aduaneira com a União Europeia seja transitório, até 31 de dezembro de 2020, enquanto se busca uma solução definitiva para permitir a Londres romper os antigos laços econômicos com as nações do bloco continental.
É exatamente essa arquitetura sobre a fronteira irlandesa que provocou, neste começo de ano, o naufrágio do acordo entre May e a UE. Os defensores do Brexit, favoráveis a romper os antigos laços com o bloco, temem que a manutenção da união aduaneira se transforme de provisória em definitiva, o que manteria o Reino Unido com significativo vínculo econômico com a União Europeia.
No tortuoso caminho da separação, o governista Partido Conservador e o Trabalhista, o maior da oposição, registraram turbulências históricas. O trabalhismo testemunhou, em dezembro, a saída de um grupo de deputados, defensores de um novo referendo sobre o Brexit e que protestam contra o antissemitismo crescente nas alas mais esquerdistas do partido, representadas por ninguém menos do que o seu atual líder, Jeremy Corbyn.
No entanto, parecem exíguas as chances de uma votação para desfazer o resultado do referendo de 2016. Lideranças políticas governistas e oposicionistas, ainda que anteriormente contrárias ao divórcio, argumentam que o resultado das urnas precisa ser respeitado e que uma nova votação colocaria em xeque a credibilidade e a estabilidade do tradicional processo democrático britânico. “Brexit é Brexit”, sentenciou May, que, há três anos, fazia campanha para seu país permanecer na União Europeia.
O caleidoscópio de posições sobre o Brexit se reflete nos partidos Conservador e Trabalhista, eles próprios divididos entre defensores e opositores da separação, entre radicais e moderados. Corbyn, líder da oposição, sustenta uma posição de “soft Brexit”, ou seja, saída da União Europeia, mas com manutenção de antigos vínculos econômicos.
A votação de 23 de junho de 2016 representou uma voz de protesto contra a globalização e seus desequilíbrios, e também contra a União Europeia, cuja existência se baseia em princípios globalizantes, como integração entre países e intensificação de fluxos de pessoas, bens, serviços, informações e capitais.
No entanto, o que para muitos eleitores foi um voto de protesto transformou-se num dos maiores desafios para o futuro e a estabilidade do Reino Unido, no século 21.
Fonte: http://www.morasha.com.br/variedades/judeus-britanicos-e-os-desafios-do-brexit.html
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