Ultradireita tenta promover sua ideologia sob o disfarce de "valores da família", como demonstrou o Congresso Mundial das Famílias em Verona. Precisamos conter esses ventos, opina Krsto Lazarevic.
Ativista segura cartaz na Marcha pela Família durante evento em Verona
No último fim de semana de março, a cidade italiana de Verona sediou o Congresso Mundial das Famílias. Mas esse nome aparentemente inofensivo esconde o fato de que esse foi um dos maiores encontros mundiais de homofóbicos de direita, ativistas antiaborto e antifeministas, que se reuniram na Itália para investir contra muitas conquistas civilizatórias das últimas décadas.
Eles se reuniram num magnífico palácio no centro da cidade, sob os auspícios da administração municipal, que em outubro passado declarou Verona oficialmente como uma "cidade pró-vida". Embora também possa parecer algo relativamente inócuo, isso significa efetivamente tornar a vida muito difícil para as mulheres que desejam abortar.
Curiosamente, muitas das coisas ditas no Congresso Mundial das Famílias em Verona tinham pouco a ver com a vida familiar. Os participantes repetidamente questionaram a Teoria da Evolução, e um participante chegou a afirmar que os EUA não deveriam ter abolido a segregação entre brancos e negros nas escolas.
O parlamentar evangélico ucraniano Pavlo Unguryan expressou a sua esperança de que a Europa assista à ascensão de um cinturão bíblico ao londo de Itália, Romênia, Croácia, Hungria e Ucrânia.
Visivelmente, os participantes continuaram reiterando a sua crença de que as famílias são os elementos básicos da sociedade. Mas a definição de papéis familiares e de gênero pode variar – e essas diferenças são importantes.
Aqueles que pensam ser uma boa ideia obedecer cegamente a um pai autoritário também estarão inclinados a seguir cegamente um autocrata sem respeito por seu povo. A ideia que uma pessoa tem sobre a família perfeita revela, portanto, muito sobre as suas convicções políticas e se estão abertas a ideologias totalitárias.
O tema do congresso – "Vento de Mudança" – mostra que os organizadores esperam que uma rajada política de ar venha e acabe com a democracia liberal. Os participantes são contra o tipo de políticas liberais adotadas por países como Suécia, Noruega e Coreia do Sul; nações que foram relativamente bem-sucedidas na criação de sociedades mais igualitárias.
Em vez disso, esses conservadores reverenciam países como a Hungria e o Brasil, onde os governos de direita estão implementando políticas inspiradas por uma ideia anacrônica de família, ao mesmo tempo em que dificultam a vida das minorias étnicas e sexuais. A ministras húngara da Família, Katalin Novák, discursou durante a conferência. O govenro Jair Bolsonaro foi representado por Angela Vidal Gandra Martins, secretária nacional da Família do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, que discursou no evento.
Rados Pejovic, do Dveri, legenda de extrema direita da Sérvia, também esteve entre os convidados da conferência. Seu partido glorifica Ratko Mladic, criminoso de guerra condenado e também conhecido como o "açougueiro da Bósnia", dizendo que o massacre de Srebrenica de 1995 – realizado sob seu comando e que deixou 8 mil muçulmanos mortos – foi necessário para "libertar" a cidade na atual Bósnia e Herzegovina. Nada mais cínico que um membro desse partido defenda publicamente santificar toda a vida humana.
Não é por acaso que esta conferência de extrema direita tenha sido realizada na Itália, apenas algumas semanas antes das eleições parlamentares europeias no final de maio. Os organizadores do encontro pretendiam demonstrar que não apenas países como a Hungria, onde a cúpula de 2017 foi realizada com o apoio do primeiro-ministro Viktor Orbán, mas também um dos membros fundadores da UE é receptivo à política autoritária de direita.
Eles querem atacar a Europa liberal a partir de dentro com o apoio da Liga, partido anti-imigração da Itália, cujo membro mais proeminente, Matteo Salvini, também participou da conferência.
A região de Vêneto, que é governada pela Liga, forneceu apoio financeiro ao Congresso Mundial das Famílias – o que significa que os contribuintes italianos colaboraram para uma conferência que atacou abertamente gays e lésbicas, e questionou a igualdade de direitos para as mulheres.
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