Sem espaço, não pode haver nem inocência nem liberdade! A prisão, para quem não pode respirar, significa morte ou loucura; que fazer, senão matar e possuir?
(...) Em Nova York, certos dias, perdido no fundo desses poços de pedra e aço onde vagueiam milhões de homens, eu corria de um para outro, sem conseguir avistar o cimo, já esgotado, a ponto de cair ao chão, e sendo sustentado apenas pela própria massa humana que também busca a uma saída. Sentindo-me à beira da asfixia, meu pânico ia gritar.
(...) o chamamento longínquo de um rebocador vinha lembrar-me que essa cidade, cisterna solitária, era uma ilha (...)
- Núpcias, o verão.
Sinta a sensação de pequenez e de opressão que acomete quem - acostumado à largueza do mar, das praias, das dunas, dos campos, ou até mesmo de singelas cidades do interior -, vê-se numa metrópole como Nova Iorque ou São Paulo, por exemplo.
Reflita, também, sobre o ambiente insalubre, pleno de riscos e desgraças, de uma cadeia superlotada, com o qual o sistema, cinicamente, propõe corrigir, "regenerar" criminosos, prepará-los para ressocialização.
Mas, só as cidades, os ambientes urbanos, abafam?
Não. O sufoco sentido numa megalópole não difere muito daquela "opressão" causada também por uma alta e densa floresta, salvo que uma floresta costuma ser bela:
- A vegetação eleva-se por andares, atingindo 40 a 60 metros de altura, enlaçando-se aos troncos os cipós e parasitas, em luta pela vida, como num espaço demasiadamente povoado. Pela costa do Atlântico a mata, aproveitando o acidentado do solo e a umidade condensadora dos ventos gerais de sueste, excede em beleza e pujança a própria floresta equatorial.
- PAULO PRADO - Retrato do Brasil (1928)
Inevitável concluir que os urbanistas são sensíveis a situações assim, quando buscam coibir aglomerações desestruturadas, que não permitem "respirar" com um mínimo de dignidade.
CIDADE DA JUSTIÇA SOCIAL: concepção urbana, com influência ideológica, que sugere a distribuição igualitária dos espaços formadores de qualidade de vida urbana, entendendo que o espaço urbano não é mero subproduto do processo social, mas participa como um de seus construtores diretos. Sendo assim, deve atentar para as interpretações configuracionais e morfológicas da cidade, evitando os enfoques que desvalorizam a dimensão espacial (Propur, 1990)
- Adriana Gelpi e Rosa Maria Locatelli Kalil - A CIDADE COMENTADA EXPRESSÕES URBANAS E GLOSSÁRIO EM URBANISMO - Editora da Universidade de Passo Fundo-RS - 2016.
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