Se tem uma coisa que não me agrada é conversar com as pessoas por meio de fios ou de sinais eletrônicos. A tecnologia é algo admirável e serve muito aos propósitos da celeridade e da economia, já que a mobilidade física está cada vez mais complicada, minimizando distâncias e reduzindo custos, além de afastar riscos de contágios, em tempos de epidemias e assemelhados.
Mas eu gosto mesmo é de conversar pessoalmente, vis a vis, frente a frente, ao pé do ouvido, se necessário.
E isso me faz lembrar o insigne RUI BARBOSA, no sua célebre Oração aos Moços:
(...) não me ides ouvir de longe, como a quem se sente arredado por centenas de kilometros, mas de ao pé, de em meio a vós, como a quem está debaixo do mesmo tecto, e á beira do mesmo lar, em colloquio de irmãos (...). (SIC)
Ainda não me habituei e resisto a me habituar, às tais audiências virtuais, onde as emoções não são sentidas, como nas presenciais. Assim como às conversas por mensagens, por "zap".
Até já fiz algumas audiências, mas, sinceramente, sinto-me como se me transformara em um "ser" desumano, metálico, frio, calculista, tecnológico, numa palavra, em um robô.
Ainda seguindo a lição do famoso jurisconsulto baiano, prefiro "dormir com as galinhas e acordar também com as penosas". Não me agradam hábitos de coruja, de morcego ou de carocha.
Em palavras mais "civilizadas", também do RUI:
Quanto mais matutinas essas interrupções do vosso dormir, mais lhas deveis agradecer.
O amanhecer do trabalho há de antecipar-se ao amanhecer do dia.
Não vos fieis muito de quem esperta já sol nascente, ou sol nado.
Curtos se fizeram os dias, para que nós os dobrássemos, madrugando. Experimentai, e vereis quanto vai do deitar tarde ao acordar cedo.
Sobre a noite o cérebro pende ao sono. Antemanhã, tende a despertar. Não invertais a economia do nosso organismo: não troqueis a noite pelo dia, dedicando este à cama, e aquela às distrações.
O que se esperdiça para o trabalho com as noitadas inúteis, não se lhe recobra com as manhãs de extemporâneo dormir, ou as tardes de cansado labutar.
A ciência, zelosa do escasso tempo que nos deixa a vida, não dá lugar aos tresnoites libertinos.
Nem a cabeça já exausta, ou estafada nos prazeres, tem onde caiba o inquirir, o revolver, o meditar do estudo.
Os próprios estudiosos desacertam, quando, iludidos por um hábito de inversão, antepõem o trabalho, que entra pela noite, ao que precede o dia.
A natureza nos está mostrando com exemplos a verdade. Toda ela, nos viventes, ao anoitecer, inclina para o sono. A esta lição geral só abrem triste exceção os animais sinistros e os carniceiros.
Mas, quando se avizinha o volver da luz, muito antes que ela arraie a natureza, e ainda primeiro que alvoreça no firmamento, já rompeu na terra em cânticos a alvorada, já se orquestram de harmonias e melodias campos e selvas, já o galo, não o galo triste do luar dos sertões do nosso Catulo, mas o galo festivo das madrugadas, retine ao longe a estridência dos seus clarins, vibrantes de jubilosa alegria.
(...)
Tomai exemplo, estudantes e doutores, tomai exemplo das estrelas da manhã, e gozareis das mesmas vantagens (...)
Há trabalhar, e trabalhar. Desde que o mundo é mundo, se vem dizendo que o homem nasce para o trabalho: “Homo nascitur ad laborem.”
Mas o trabalhar é como o semear, onde tudo vai muito das sazões, dos dias e das horas. O cérebro, cansado e seco do laborar diurno, não acolhe bem a semente: não a recebe fresco e de bom grado, como a terra orvalhada.
Nem a colheita acode tão suave às mãos do lavrador, quando o torrão já lhe não está sorrindo entre o sereno da noite e os alvores do dia.
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