As tatuagens começam a deixar de ser vistas como eram há décadas. Passaram a ser mais do que um símbolo de rebeldia, contestação ou um estereótipo ligado a prisioneiros e marinheiros.
foto FERNANDO TIMÓTEO/ARQUIVO JN
Tatuagens para gravar memórias
Pelo menos esta visão parece começar a "amadurecer", segundo Denise Mota, que escreveu para o jornal "Folha de São Paulo" sobre esta nova fase em que as tatuagens ganham gradualmente mais adeptos, até os mais velhos.
"O que antes era símbolo de rebeldia, tornou-se expressão de liberdade", escreve Denise.
Segundo Mirian Goldenberg, antropóloga, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e jornalista do "Folha de São Paulo", a visão da tatuagem "como algo não desviante" é um conceito ainda recente e nas pessoas mais velhas tende a encontrar uma ligação ao "discurso da libertação" que vai surgindo com a idade.
Luiz Fernando Bravin, de 60 anos, administrador de empresas, tem quatro tatuagens e já tem ideias para o que irá fazer nas suas próximas três. "Tenho um tucunaré (peixe brasileiro) preso na bandeira do Brasil, pendurado por um anzol", descreve a sua tatuagem de 40 centímetros nas costas, a primeira que fez.
Depois do nascimento da sua neta, decidiu marcar "em cima do coração" o pé da menina, ao lado dos nomes dos seus outros netos. Com isso surgiu a ideia para uma nova tatuagem, uma faixa no seu braço esquerdo, com símbolos, animais e os nomes dos seus filhos e, no seu braço direito, um dragão a expelir fogo.
Sergio Maciel, da "Led's Tatto", em São Paulo, já com 30 anos de experiência neste ramo de trabalho, concorda com Gustavo Silvano, da "Pin Up Tatto", quando o último declara que os clientes com mais de 50 anos têm vindo a aumentar. "Acredito que a popularização da tatuagem, a quebra de velhos conceitos e o reconhecimento da tatuagem como arte são os responsáveis por isso", conta Sergio.
Não é só no Brasil que a tatuagem vai ganhando outros valores. Atualmente, quando é revelado que uma figura pública fez uma tatuagem, o que se discute são os méritos do "design", a escolha do desenho e letras, e não o facto de alguém famoso ter feito uma tatuagem que, noutros tempos, poderia ser visto "com outros olhos". A mulher do primeiro-ministro britânico, Samantha, tem uma tatuagem no seu tornozelo e é algo aceite como normal. O preconceito que pairava sobre pessoas de certos estatutos não poderem ou não deverem ter tatuagens, há algumas decadas, parece desaparecer aos poucos.
Exemplo disso, em Portugal, o festival de tatuagens - Festival de tatuagem e rock -, que contou com a sua oitava edição em novembro, em Lisboa, e onde marcaram presença mais de 50 artistas nacionais e estrangeiros.
Apesar desta evolução, segundo Leusa Araújo, jornalista, escritora e autora do livro "Tatuagem, piercing e outras mensagens do corpo", que durante dois anos estudou e pesquisou sobre este mundo, fazer uma tatuagem ainda continua a ser uma decisão sujeita a preconceitos. "O que há hoje é uma maneira diferente de lidar com o próprio corpo. A liberdade de escolha parece ter ganho maior importância, como se houvesse uma afirmação de que ao menos o corpo ainda é um lugar próprio. Então, faço dele um depoimento do que sou", partilha Leusa.
Fonte: JORNAL DE NOTICIAS
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