SAMY ADGHIRNI
DE TEERÃ
O Parlamento do Irã deu ontem o primeiro passo rumo a uma ação judicial contra os EUA pelo golpe de Estado que derrubou, há 60 anos, o governo democraticamente eleito do premiê Mohamed Mossadegh.
A medida surge uma semana após a divulgação de documentos que provam a autoria de Washington no golpe tido como ato fundador do sentimento antiamericano no Irã.
Dos 196 deputados presentes na sessão, 167 aprovaram a criação de uma comissão que deverá apresentar, até fevereiro, relatório sugerindo opções jurídicas para processar o Estado americano.
Não está claro se a ação visa compensação financeira.
"O comportamento opressivo dos EUA [em 1953] mostra que a nação iraniana dever erguer-se e buscar os seus direitos", disse o deputado Mahdi Mousavinejad.
Já o deputado Mohammad Mahdi Rahbari votou contra a comissão alegando que ela "não trará benefícios" ao Irã.
O papel da CIA no golpe contra Mossadegh foi confirmado em documentos oficiais divulgados pelo Arquivo de Segurança Nacional dos EUA.
"O golpe militar que derrubou Mossadegh [...] foi realizado sob direção da CIA como um ato de política externa americana concebido e aprovado pelas mais altas instâncias do governo", diz o texto, liberado em virtude da lei de acesso à informação.
Americanos e britânicos derrubaram Mossadegh em agosto de 1953 em represália à decisão do premiê de nacionalizar a indústria de petróleo do Irã. A nacionalização visava equilibrar o lucro obtido com a commodity, já que iranianos recebiam apenas 17% das receitas.
EUA e Reino Unido também temiam que, em plena Guerra Fria, Mossadegh planejasse adotar o comunismo no Irã.
Espiões americanos infiltrados no país conseguiram criar caos financiando ações de vandalismo e corrompendo clérigos e políticos. A operação, conhecida como Ajax, também teve campanha de difamação na mídia iraniana.
Mossadegh foi preso e o xá Mohamed Reza Pahlavi, alinhado ao Ocidente, recuperou plenos poderes. Ele reinou até ser varrido do poder pela revolução de 1979.
O atual regime iraniano, embora desconfortável com a figura de Mossadegh, que não era religioso, cita o golpe como prova definitiva das supostas más intenções do Ocidente em relação ao Irã.
Fonte: FOLHA DE SP
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