DOREEN CARVAJAL
RAPHAEL MINDER
DO "NEW YORK TIMES"
DO "NEW YORK TIMES"
PARIS - Hervé Falciani é o Edward Snowden dos bancos. Ele já foi caçado por investigadores suíços, preso por espanhóis e afirma ter sido sequestrado por agentes do Mossad israelense ansiosos para dar uma espiada nos dados que ele roubou quando trabalhava para uma grande instituição financeira em Genebra.
"Estou fraco e sozinho", disse Falciani, que é acompanhado 24 horas por dia por três guarda-costas fornecidos pelo governo francês. A proteção era necessária, disse, porque ele enfrenta constante risco por ser a única chave para decifrar os dados criptografados -cinco CD-ROMs que contêm uma lista de quase 130 mil correntistas- no que pode ser o maior vazamento de todos os tempos no sigiloso mundo dos bancos suíços.
Mas Falciani, 41, ex-técnico de computação, parecia estranhamente descontraído para um fugitivo. Ele é muito procurado hoje em dia, tendo se projetado como um cruzado contra o mundo obscuro dos bancos suíços e da lavagem de dinheiro. Ele e outros denunciantes agora são cortejados enquanto os governos da região lutam para encher seus cofres e conter uma rebelião populista contra a evasão fiscal.
Philippe Wojazer - 17.jul.13/Reuters | ||
Hervé Falciani, que trabalhou no HSBC, é protegido por guarda-costas porque diz ter acesso a listas de sonegadores de impostos |
"É uma guerra econômica", disse Falciani. "Na Suíça, os bancos são tão organizados que conseguem contornar as novas regras e leis para continuar permitindo a sonegação fiscal."
Os críticos dizem que Falciani é um manipulador mais atraído pelo dinheiro do que por ideais elevados. Os dados que ele vazou desde 2008 provocaram o caos no mundo dos bancos, assim como nas classes endinheiradas e ligadas à política na Europa.
A informação de Falciani constituiu a base para a "lista Lagarde", que perturbou a política grega com suas revelações de oligarcas que sonegam impostos depositando milhões na Suíça.
Ele também é creditado por ter ajudado os espanhóis a coletar 260 milhões de euros em impostos e identificar mais de 650 evasores fiscais. Em 2012, as autoridades americanas usaram os dados para conduzir uma investigação sobre se o HSBC despistou os controles contra lavagem de dinheiro, o que levou a um acordo de US$ 1,92 bilhão com o banco.
Um grande número de pessoas ricas aguardam o próximo movimento de Falciani. Desde que foi solto da prisão, neste ano, depois que um juiz espanhol negou um pedido de extradição para a Suíça, Falciani ressurgiu na França. As autoridades ofereceram proteção em troca de seu depoimento aos promotores locais que investigam se o HSBC ajudou clientes franceses a sonegar impostos.
Natural de Mônaco e educado no sul da França, Falciani já trabalhou na obscuridade no HSBC. Em 2005 foi promovido e transferido para Genebra. No ano seguinte, disse que alertou seus chefes sobre falhas de segurança no sistema de computação suíço que poderiam violar a privacidade dos clientes.
Ignorado por seus superiores, Falciani disse que começou a coletar as informações de maneira metódica, em uma tentativa de provar que o sistema era vulnerável. O banco nega que tenha sido alertado por Falciani e acredita que ele reuniu a informação em um período de dois anos.
Desde o início, Falciani disse que foi ignorado pelas autoridades alemãs e francesas. Então a economia europeia entrou em declínio e os governos começaram a lhe dar atenção. Em julho, o legislador francês Christian Eckert criticou as autoridades pela demora em usar os dados de Falciani. A lista incluía 127.311 clientes, incluindo 6.313 da França, suspeitos de evasão fiscal.
O HSBC refuta as informações de Falciani. "Para nós, a intenção de Falciani sempre foi a de vender os dados", disse David Brügger, porta-voz do banco. "Somente diante da perspectiva de extradição e de um período prolongado na cadeia, Falciani decidiu cooperar com as autoridades espanholas."
Georgina Mikhael, ex-consultora de informática no HSBC, diz que ajudou Falciani enquanto ele tentava vender os dados. Ela disse que eles foram ao Líbano em 2008 para vender seus serviços para quatro bancos.
"Ele nunca dá nada de graça", disse Mikhael, que hoje vive no Líbano, onde nasceu.
Falciani nega que esteja vendendo as informações.
Fonte: FOLHA DE SP
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