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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Monsanto expõe seu calcanhar-de-aquiles (por Taís González)

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Cresce, agora nos EUA, movimento pela rotulagem dos transgênicos. Empresa lança vasta campanha sobre “benefícios” de seus produtos, mas não explica por que procura ocultá-los do público
Por Taís González | No Blog da Redação do Outras Palavras
Nada como um teste prático, sob pressão social, para verificar o que há por trás dos discursos de “respeito ao consumidor” e “responsabilidade social” das grandes corporações. Nos últimos anos, a Monsanto – maior empresa agrícola do mundo e principal desenvolvedora de sementes transgênicas – multiplicou seus investimentos em publicidade. Passou a atuar de modo intenso nas próprias redes sociais. Desdobrou-se para “demonstrar” que seus produtos são benéficos, para a saúde humana e o ambiente.
Agora, estas alegações estão sendo testadas em seu próprio país de origem – os Estados Unidos. Em 5/11, um plebiscito no estado de Washington poderá assegurar, aos consumidores, o direito de ser informados (por aviso na embalagem) sobre a presença de transgênicos em alimentos, bebidas e sementes. Foi convocado por iniciativa popular. A empresa age contra ele, mas enfrenta forte dificuldade. Uma pesquisa recente, do New York Times, revelou que 93% da população defende a rotulagem.Os novos esforços de marketing da Monsanto estão descritos num texto do site Alternet. Em julho passado, o site Holmes Reportvoltado ao mundo das relações públicas, informou que a corporação buscava assessoria especializada para gerenciar sua crise de imagem. Depois de ter recebido o título de “Pior empresa do ano” (em 2011), ter enfrentado uma onda global de protestos virtuais, iniciada em maio (que mobilizou mais de 2 milhões de pessoas), a mega-indústria liderou o lançamento do site GMOAnswers.com (“respostas sobre transgênicos”).
Financiado por mais de cinquenta multinacionais de alimentos, agronegócio e empresas de biotecnologia, ele promete responder todas as perguntas relacionadas aos organismos geneticamente modificados. Este esforço foi ampliado com declarações públicas de dirigentes da Monsanto, Em entrevista à DWUrsula Lüttmer, da sucursal alemã, afirmou que os investimentos da corporação visam a uma agricultura sustentável, que ajude a produzir mais alimentos, proteja os recursos naturais e promova um melhor padrão de vida.
130824-Monsanto2Estes argumentos têm sido amplamente desmentidos, também na internet. As culturas geneticamente modificadas enfrentam resistência desde que foram introduzidas, na década de 1990. As críticas, antes restritas a vozes solitárias, tiram proveito da rede para ganhar consciências e ruas. Sites como o March Against Monsanto [Marcha contra a Monsanto] ampliaram sua popularidade. Para 12 de outubro, estão convocando um protesto ao vivo, diante da sede mundial da empresa, em Saint Louis (EUA)
Mas o que a Monsanto parece mais temer – em contradição flagrante com sua promessa de transparência – são as iniciativas para rotular a embalagem de produtos que contenham transgênicos. De acordo com a própria corporação, isso equivale a colocar uma “caveira e ossos cruzados” nos pacotes de comida. Talvez por isso, a multinacional pressionou vigorosamente trinta estados norte-americanos, este ano, para evitar ou ao menos atrasar, as leis de rotulagem obrigatória; e ameaça processar outros (Vermont, Connecticut, Maine e Washington), se garantirem o direto a seus cidadãos o direito à informação sobre a origem do que ingerem.
Em Washington, a batalha tornou-se mais importante, porque envolve ampla mobilização social. Mais de 340 mil pessoas aderiram, no início deste ano, à campanha pela Iniciativa 522 (I-522), para garantir, em plebiscito, a identificação de organismos geneticamente modificados (OGMs). Convocada a consulta, a iniciativa passou a ganhar cada vez mais adeptos. Um site especialmente criado para divulgá-la oferece leituras sobre o tema, notícias, material de campanha, opiniões conceituadas (como a de chefs de resataurantes) e alista voluntários.
Lobby permanente: O temor da Monsanto diante da mobilização social desnuda outro aspecto importante de sua forma de agir: a prática permanente de lobby. Em março deste ano, o Congresso norte-americano aprovou (e o presidente Barack Obama sancionou) lei que restringe as ações na Justiça para deter o avanço dos OGMs. Empresas de biotecnologia não mais precisam da aprovação de um juiz para testar produtos ou comercializá-los (a norma ficou conhecida ironicamente como “lei de proteção à Monsanto”). Não é mais segredo que ex-figurões da companhia integrem altos escalões das cadeiras governamentais nos EUA. Um exemplo é Michael Taylor, que durante as duas últimas décadas alternou sucessivamente seu trabalho como advogado da Monsanto e chefe da regulamentação alimentar dos EUA, Food and Drug Administration (FDA).
Embora os órgãos reguladores dos Estados Unidos tenham demonstrado pouca preocupação pelos OGM, a pressão social segue aumentando. De acordo com o ProjetoNão-OGM, vários Estados consideram uma legislação que exija a rotulagem de alimentos feitos a partir de milho geneticamente modificado, soja ou outras culturas. No site do projeto, você encontra uma lista de produtos que não contém organismos geneticamente modificados e informações consistentes relacionadas ao tema. Além disso, “em resposta à flagrante violação de direitos dos estados para legislar”, o Organic Consumers Association (OCA) lançou uma petição para observar todos os membros do Congresso que apoiarem as investidas da Monsanto e seus aliados.
No Brasil, a rotulagem de alimentos transgênicos foi decretada em 2003. Empresas da área da alimentação, entre outras, são obrigadas a identificar com o símbolo preto T sobre um triângulo amarelo os produtos que contenham mais de 1% de matéria-prima transgênicas. Na prática, a norma é frequentemente descumprida e há constantes tentativas para revertê-la.
Uma das consequências dos cultivos de OGMs no país é o uso abusivo de venenos agrícolas. Em boa parte dos casos, a transgenia significa alterar o código genético das plantas para que se tornem capazes de suportar mais agrotóxicos. Embora seja o terceiro maior produtor agrícola do mundo, o Brasil está em primeiro lugar no consumo destes produtos, desde 2008. E ainda é o principal destino dos defensivos agrículas barrados no exterior. Estima-se que, por ano, a quantidade de agrotóxicos jogados nas lavouras é cerca de 5,2 litros por habitante.

Fonte: SUL 21

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