Juanjo Robledo
Da Espanha para a BBC Mundo
Jesús Jiménez teria tudo para ser apenas mais um de muitos jovens espanhóis desempregados que imigram para a Alemanha em busca de emprego, não fosse por um detalhe. Ele quer percorrer 2 mil quilômetros a cavalo.
Sem dinheiro para comprar uma passagem de avião, ônibus ou trem, ele decidiu deixar o povoado de Gemuño, na província de Ávila, montado em Campeón com apenas uma manta para proteger-se do frio e bolsas cheias de salame e chorizo (um tipo de linguiça espanhola).
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Aos 32 anos, Jesús cresceu no campo criando cavalos e gado e nunca havia saído da Espanha.
"Estou há mais de um ano desempregado. Vivo com meus pais e minha irmã. A única renda que temos é a do meu pai, que é jardineiro. Um dia eu disse a eles: vou buscar trabalho de qualquer maneira, e peguei o cavalo", conta.
Rússia e Quixote
O espanhol diz que está disposto a ir até mais longe, caso não encontre ocupação na Alemanha. "Irei até a Rússia, onde for".
Ele conversou com a BBC Mundo após duas semanas na estrada e mais de 300 quilômetros percorridos, atravessando riachos, bosques ressecados pelo frio e passando por pequenos povoados.
O desempregado tem recebido ajuda de prefeitos das pequenas localidades por onde passa. Muitos se surpreendem quando ele parte pela manhã, seguindo viagem em seu cavalo, e lhe presenteiam com mais chorizo e alimentos para enfrentar a estrada.
Num pequeno vilarejo ele chegou a receber o apelido de "Quixote de Ávila".
"Quixote? (...) Era um aventureiro, um filósofo que sempre estava analizando o caminho a seguir. Nisto nos parecemos. Encontro muitos caminhos. Outras vezes não, e aí preciso atravessar pelo campo", conta.
Frio e resistência
Ele diz que a melhor parte são as pessoas que encontra e que prestam ajuda, e que o pior é o frio. Além disso, ele se preocupa com a saúde de Campeón, seu companheiro na empreitada.
Desde o início da jornada, o cavalo já perdeu 10 quilos e ele 25.
"Mas estamos fortes. Campeón é um cavalo de raça espanhola. As pessoas não acreditam que ele possa percorrer tantos quilômetros. Dizem que os cavalos ingleses, árabes ou alemães são mais resistentes e que o espanhol é mais fraco. Pode ser verdade mas ele está ficando cada vez mais forte", diz.
Jesús explica que escolheu migrar para a Alemanha porque ouviu dizer que o ramo de criação de cavalos é grande no país e que sempre são necessários funcionários para domar, montar ou simplesmente limpar estábulos.
Ele não se diz preocupado com o fato de não saber falar inglês, francês e muito menos alemão.
"Só quero um trabalho, mas não um trabalho ilegal, nem de dois dias. Se encontro algo antes, paro de caminhar", conta.
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