Foto: EPA
Jean-Pierre Liegeois, membro do Conselho Científico da Rede Universitária Europeia de Pesquisas Romenas e autor de múltiplas obras sobre a vida de comunidades ciganas, em entrevista à Voz da Rússia, quebrou os estereótipos que se formaram em relação a esta etnia.
– Na avaliação da mídia francesa, cerca de 20.000 ciganos chegaram à França vindos de vários países da Europa de Leste. Concorda com tais estimativas?
– O seu número se avalia em 15.000, se acreditarmos nas instituições competentes, por exemplo, a organização Médicos do Mundo. Em termos estatísticos, esta quantidade não é muito grande. Tem sido muito maior o número dos ciganos que chegaram a França nas décadas de 60 ou 70 do século passado, procedentes das ex-repúblicas da Iugoslávia.
– Os imigrantes da “nova geração” são legais? Há muitos imigrantes ilegais?
– Na França dos nossos dias não se fazem estatísticas por distinções étnicas. Se os ciganos chegaram da Romênia, se consideram de origem romena, se eles vieram da Bélgica, são belgas. Se são cidadãos da União Europeia, têm direito à permanência autorizada num prazo de três meses em todos os países comunitários. Se excederem o prazo de três meses, devem apresentar um certificado sobre receitas regulares.
Na França foram introduzidas limitações nas áreas de emprego onde podem trabalhar cidadãos da Romênia e da Bulgária. Estas restrições serão levantadas em 31 de dezembro de 2013. Por enquanto, isso cria-lhes certos problemas com o emprego, pelo que, nesse caso, os empregadores têm de cumprir formalidades complicadas e dispendiosas. Na realidade, tais medidas vêm impedindo a sua contratação, transformando-os em imigrantes ilegais depois de expirado o prazo de três meses.
– O que se pode dizer acerca da taxa de criminalidade no meio da diáspora cigana?
– Os múltiplos receios em relação aos ciganos acabaram por criar um mito sobre a “criminalidade étnica”. Existem tendências de fazer exageros nessa vertente. Há pessoas que são chamadas de ciganas quando, na realidade, não o são, sendo apontadas com o dedo. Mas tal atitude para com as outras etnias, por exemplo, para com os judeus ou os armênios, seria inadmissível. A taxa de criminalidade no meio de ciganos não supera hoje a que se registra entre cidadãos de outros países. As autoridades policiais e judiciárias dão conta de “pequenos delitos” e de roubos. Quanto ao crime organizado, tem que ser combatido como em qualquer outro Estado. Os próprios ciganos compreendem isso.
– Quais são meios de sua subsistência, como é que ciganos ganham a vida?
– Os naturais da Romênia e da Bulgária se defrontam com problemas relativos ao emprego mesmo quando possuem a qualificação necessária. Os ciganos da antiga Iugoslávia, residentes na França desde há muito, são quase que “invisíveis”. Trabalham na construção civil como pintores e estucadores, por exemplo.
Muitos se ocupam na área de artesanato popular – compõem músicas e trabalham no comércio retalhista ou na criação equina. Outros trabalham na agricultura e na horticultura também. O problema é que eles, como regra, são pouco instruídos, já que na infância não tiveram a possibilidade de frequentar a escola. Daí o trabalho manual que igualmente praticam.
– Se a Romênia e a Bulgária aderirem à zona Schengen em 2014, poderá ocorrer mais um fluxo migratório para os países da Europa Ocidental?
– Isso não vai mudar nada. Os romenos e os búlgaros já têm o direito à livre circulação no espaço da UE. Os europeus têm uma ideia distorcida sobre a alegada “rápida deslocação” de grupos dos ciganos. Dos 12 milhões de ciganos europeus, apenas uma pequena parte é nômade.
– Que medidas se pretende adotar para integrar ciganos da Europa de Leste?
– Os 1000 anos de vida errante levaram ciganos à Austrália, ao Canadá e à América do Sul. Em cada caso concreto, eles tinham de se adaptar às condições de vida duras, tendo passado por exílios, deportações e escravatura. No século XXI, a via de integração passa pelo respeito dos valores culturais de cada nação. A educação também tem tido grande importância por favorecer a inserção social dos jovens que podem, dessa forma, obter uma profissão e um emprego.
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