No calendário cigano, 24 de maio é dedicado a Santa Sara Kali, padroeira dos povos ciganos.
Edital lançado pelo Ministério da Cultura para os Povos Ciganos, no valor de R$ 850 mil, pretende reconhecer e estimular iniciativas voltadas à preservação e proteção das culturas ciganas no Brasil. O lançamento foi feito nesse sábado (24), Dia Nacional do Cigano, no encerramento da Teia da Diversidade em Natal (RN).
A data foi instituída em 2006 por meio de decreto presidencial e incluída no calendário nacional em reconhecimento à contribuição da etnia na formação da história e da identidade cultural brasileira. No calendário cigano, 24 de maio é dedicado a Santa Sara Kali, padroeira dos povos ciganos.
As edições anteriores do prêmio contaram com valores de R$ 200 mil, em 2007, e R$ 300 mil, em 2010.
A promoção de editais com inscrições para pessoas jurídicas e pessoas físicas, com certificado de veracidade emitido pelas associações ciganas, é uma das demandas apresentadas pelo povo cigano ao Ministério da Cultura em 2013 por meio da Carta de Brasília, documento elaborado por 20 associações que se reuníram na 1ª Semana Nacional do Povo Cigano, em Brasília, durante a Conferência Livre de Cultura.
A carta também propõe que representantes indicados pelas associações dos povos ciganos participem dos processos de construção dos prêmios ou outras ações, por meio de comissões que estejam envolvidas na elaboração dos projetos.
Bárbara Angely Piemonte, representante da comunidade Cigana na Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), participou da Teia da Diversiade em Natal. "O ponto de cultura nosso é um ponto itinerante. A gente é a cultura e a gente caminha pelos estados e municípios levando a música e a dança do povo cigano", conta. Ela considera que o evento também é marcado pela reivindicação de direitos. "A minha luta começa a hora em que eu acordo, em que saio à rua", acrescenta.
As principais demandas apresentadas pelos povos ciganos estão voltadas para as áreas de educação, saúde, registro civil, segurança, direitos humanos, transferência de renda e inclusão produtiva.
A jovem cigana assumiu sua cultura aos 18 anos, quando colocou o primeiro dente de ouro. Ela, que até então não se apresentava como cigana, contou o fato aos amigos mais próximos. "Eu me assumi para algumas pessoas que já estavam convivendo comigo. Alguns já sabiam, mas não contavam porque entendiam o meu lado, tinham um pouco de receio por causa do preconceito". De acordo com Bárbara, o preconceito veio por meio de um professor, que considerou que ela não deveria estudar por ser cigana. Ela assumiu a cultura e optou por abrir mão de algumas tradições como, por exemplo, o casamento.
Integrante da etnia Calon, originária da Espanha e de Portugal e com grande expressão em todo o território brasileiro, Bárbara trabalha no resgate da música cigana tradicional europeia. "Se você entrar em qualquer acampamento no Brasil, vai ver que a gente cultiva o sertanejo, a música sertaneja de raiz. Mas o cigano da Europa cultiva outro estilo, a gente está resgatando isso para não morrer a cultura", diz.
Além dos Calon, estão presentes no Brasil as etnias Sinti e Rom. Os Sinti chegaram ao país vindos da Alemanha e França, principalmente depois da 1ª e 2ª guerras mundiais. Entre os Rom brasileiros predominam os Kalderash, Machwala e e Rudari, originários da Romênia. O primeiro registro oficial da chegada dos ciganos ao país data de 1574, quando um decreto do governo português deportou o cigano João Torres e sua mulher Angelina para o Brasil por cinco anos.
Dados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2011, estimam que mais de 500 mil ciganos viviam em todo o país. Eles estão divididos em 291 acampamentos, em 21 estados. Bahia (53), Minas Gerais (58) e Goiás (38) são os estados com o maior número de grupos de ciganos. Ao todo, 40 prefeituras declararam que desenvolvem políticas públicas para os ciganos, o que corresponde a 13,7% dos municípios que disseram ter acampamentos.
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