Martin Sonnenborn foi o 96º eleito para o Parlamento Europeu pela Alemanha. Líder de um "partido sem conteúdo", fez uma campanha com slogans como "Merkel é parva". Martin Sonnenborn na campanha para as legislativas de 2013 NELSON GARRIDO
Não é Beppe Grillo, o comediante espanhol que concentrou o voto de protesto, mas a sua eleição como eurodeputado provocou muita surpresa na Alemanha: Martin Sonnenborn é o líder do simplesmente chamado Die Partei (O Partido) e foi o último deputado a ser escolhido entre os 96 que a Alemanha vai enviar para o Parlamento Europeu.
O Partido tem tido uma relação conturbada com eleições, ora sendo aceite, ora não. Nas últimas legislativas, apresentou um “programa sem conteúdo” e agitou uma campanha morna com slogans como “Merkel é parva” – que repetiu nestas europeias.
Sonnenborn não é só alguém dado ao humor sem consequências, embora vá por vezes a extremos. Foi director da revista Titanic, que mistura humor com investigações e acções provocatórias. Em 2000, Sonnenborn mandou faxes oferecendo subornos a delegados da FIFA se dessem o seu apoio à Alemanha como organizadora do campeonato do mundo de 2006. Um deles acabou por se abster, levando a um empate entre os delegados, e o campeonato acabou mesmo por ir para a Alemanha. A recompensa oferecida era um cesto com especialidades da Floresta Negra, incluindo salsichas e um relógio de cuco.
Aliás, o Partido nasceu na redacção da revista, em 2004: "Não tínhamos partido em que votar, então criámos este."
Em termos políticos, Die Partei dispara contra a direita, a esquerda e o centro. Na imprensa alemã, nunca fala a sério. “O objectivo é a demissão”, disse numa das inúmeras entrevistas que deu após a eleição. “Vou aproveitar as próximas quatro semanas para me preparar intensivamente para a minha demissão.”
Mas temendo o desconhecimento sobre o que é o partido, de vez em quando fala meio a sério com a imprensa estrangeira – foi o que aconteceu numa entrevista com o PÚBLICO, durante a campanha para as legislativas de Setembro e 2009.
"Nunca dizemos que somos um partido satírico", explica. "Mas temos, como todos os partidos, sede de poder – e queremos chegar lá através de métodos satíricos."
E isso significa olhar para o que os outros partidos fazem, e fazer melhor: "Radicalizámos: trabalhamos completamente sem conteúdo. Não queremos ter uma posição, porque na Alemanha as posições dos partidos mudam: é-se a favor da energia atómica e depois contra, é-se pelo serviço militar obrigatório e depois contra”, justifica.
No entanto, têm propostas: alguns partidos falavam de um “mínimo de existência” que todos os cidadãos deveriam poder receber, O Partido propunha um “máximo de existência” de um milhão: automóveis, cavalos, etc, ninguém poderia ter mais de um milhão: teria de partilhar. “Poderíamos ter uma restruturação interessante neste país”, dizia Sonnenborn ao PÚBLICO, criticando a crescente desigualdade na Alemanha de Merkel. "Merkel apoia uma política conservadora que defende os grandes interesses, e isso não nos agrada. Quem tem menos dinheiro recebe ainda menos, e quem tem mais, ainda mais", concluía.
Um tema clássico do partido são muros. “Queremos que os bancos se reduzam ao que têm de ser. Um banco é uma instituição que dá dinheiro, não preciso de ninguém que me compre hedge funds ou que faça especulação. E é contra este grande disparate que queremos um muro que nos proteja.”
Sonnenborn não sabe ainda a que grupo se vai juntar, procurando um dos “malucos e zangados”. Mas não deixa de reflectir que no conjunto do Parlamento Europeu, “não penso que sejamos o partido mais maluco”.
Fonte: http://www.publico.pt/
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