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Edição 40 - Março de 2003 |
Entre todos estes ancestrais há também uma brasileira nascida em Recife, que pertenceu ao enclave holandês formado naquela cidade durante o século XVII. Os judeus holandeses eram em sua maioria, naquele período, cristãos-novos ibéricos ou seus filhos, que fugiram dos rigores da Inquisição, para desfrutar a relativa tolerância religiosa dos Países Baixos. Quando os holandeses ocuparam Pernambuco, muitos judeus aproveitaram a oportunidade para voltar ao mundo ibérico. Eles permaneceram no Brasil até a expulsão dos ocupantes holandeses. Nestes anos, desenvolveram atividades comerciais e, como era natural, religiosas também. Interagiram com cristãos-novos locais, estabeleceram sinagogas, trouxeram rabinos. Um destes rabinos, Isaac Aboab da Fonseca, nascido como cristão-novo em Castro Daire, Portugal, é considerado o primeiro rabino do hemisfério ocidental. Ele pertencia a uma velha dinastia rabínica espanhola e que na expulsão dos judeus da Espanha optou por Portugal, país no qual seus descendentes tiveram que se converter ao catolicismo em 1497, e onde nasceu Simão da Fonseca, que alteraria seu nome quando foi para a Holanda integrando-se ao judaísmo. Isaac Aboab casou-se e teve filhos e, destes, netos e netas, descendência que chegou até os nossos dias. Levantando a genealogia dos primeiros judeus que chegaram aos EUA, o rabino Malcolm H. Stern encontrou a pernambucana Rachel, de quem ele não conseguiu identificar os pais, mas, que baseado em outras evidências, atribuiu-lhe o sobrenome Aboab, entroncando-a na família do primeiro rabino brasileiro. Ainda não temos muitos elementos sobre esta matriarca brasileira. Sabe-se apenas que ela se casou com Moses Cohen, filho de Diogo Mendes Peixoto. O filho do casal, Josuah Cohen Peixoto, nasceu em Caiena, em 1663, mas foi casar-se em Amsterdã com Ester de Jacob Cohen Peixoto, originária de Bordeaux. O casal teve um filho, Daniel Cohen Peixoto, que saiu de Amsterdã para Curaçao. Sua esposa, Grcia de Abraham Campos Pereira, pertencia também a famílias portuguesas. A filha de ambos, Leah Cohen Peixoto, casou-se o curaçaense Samuel Levy Maduro Peixoto, em 1765, e tiveram Moses Levy Maduro Peixoto, que se casou com Judith de Samuel Lopes Salzedo. Eles tiveram Daniel Levy Maduro Peixoto, e este se casou com Rachel Mendes Seixas, de uma família que chegou aos EUA em 1730, vinda de Portugal, onde tinham vivido como cristãos-novos quase dois séculos e meio. Daniel Levy Maduro Peixoto (1767-1828), foi um médico importante em New York, e de seu casamento com Rachel Mendes Seixas teve dois filhos. Um deles, Judith Salzedo Peixoto, casou-se com David Holis Hays, e tiveram Rachel Peixoto Hays, em 1861. Ela rompeu com a tradição de casamentos entre judeus portuguses (Portogeese Joden) e casou-se com o judeu ale- mão Cyrus Lindauer Sulzberger. O filho deste casal, Arthur Hays Sulzberger, casou-se com Iphigene Bertha Ochs, filha e herdeira de Adolph Simon Ochs, cria-dor do The New York Times. Ele sucedeu ao sogro na direção do jornal, que repassou o cargo ao filho Arthur Ochs Sulzberger, atual presidente do grupo. Assim, quase oculta na genealogia de uma família da aristocracia judaica norte-americana, onde encontramos rabinos importantes, comerciantes e médicos, empresários e editores do mais conhecido jornal mundial, encontramos também uma pernambucana quase anônima, a recifense Rachel, como a matriarca de todos. (Fonte: Stern, Malcolm H., First American Jewish Families, 600 Genealogies, 1654-1988, Baltimore, 1991) Paulo Valadares Historiador, Sociedade Genealógica Judaica do Brasil - São Paulo, SP Font: MORASHA |
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