14.02.2015
Perdido no litoral sul do Chile, num pequeno vilarejo frio quase inóspito, existe uma casa onde vivem, como se fossem aposentados, os padres pedófilos da Igreja Católica. Vivem com horários rígidos, dedicados à oração e à penitência e têm apenas uma ocupação externa: a de acompanhar corridas de cachorros, já que um deles possui e treinou um cão de raça. O local seria uma espécie de santuário, o santuário dos padres pedófilos.
Essa a síntese do filme chileno O Clube, de Pablo Larrain, mostrando como a Igreja Católica reagrupa em locais distantes e fechados como prisões, seus sacerdotes pedófilos, aplicando uma lei própria para evitar novos escândalos públicos envolvendo os clérigos.
A casa, funcionando como uma pensão, administrada e sob o controle de uma católica fanática, fria e cruel é imaginária, pois o filme não é um documentário, mas pensões-prisões parecidas existem espalhadas pela América Latina ou, então, os padres pedófilos são exportados para outros países, onde têm seu passado desconhecido. Pablo Larrain mencionou a Suíça como um desses países para onde foram sacerdotes pedófilos chilenos.
Mas o voto da castidade, que seria a origem dos desvios sexuais dos padres, não cria só desvios como a pedofilia entre o clero católico. A homossexualidade ou sexo anal chega mesmo a ser louvada por certos padres como uma opção geradora de um relação mais profundo que a relação heterossexual destinada à procriação. Porém, existem também sacerdotes, de hierarquia diversa, que têm amantes obrigadas se desfazerem dos filhos quando grávidas.
Em síntese, um mundo sórdido, que o filme vai revelando, pouco a pouco, na linguagem de um homem revoltado, Sandokan, que ao reconhecer o padre que o "deflorou" quando criança, se coloca diante da casa santuário de pedófilos e conta, de maneira brutal e crua, como esse padre lhe fazia chupar seu pau e depois lhe enfiava no anus e como envolia o semen depositado na sua boca, como se fosse dádiva divina.
Esse repertório cru das ações sacedotais, depois da missa, colocam em polvorosa todos os padres pedófilos acantonados na pensão santuário, se de repente a imprensa fosse informada seria uma catástrofe para a Igreja. Dirigidos pela governanta, todos decidem que o padre deve matar o desordeiro que, em lugar de se confessar num confessionário, como é normal e aceito, faz sua confissão em altos brados. Com o revolver recebido, o padre, aparentemente respeitável mas, na verdade, figura desprezível, ao chegar diante do antigo coroinha abusado, prefere meter uma bala na própria cabeça.
O Vaticano, que prefere resolver em portas fechadas esses assuntos, envia ao local uma espécie de delegado do Santo Ofício que submete, um a um a interrogatórios, cada qual contando lembranças sórdidas.
Para não contar o filme, que provavelmente a Igreja não deixará passar no Brasil, fica a frase de que o final é de uma extrema hipocrisia, pois ao constatar todos os crimes sexuais praticados pelos sacerdotes aposentados, o delegado do Vaticano decide colocar também no santuário, num quarto especial, sob proteção, o homem revoltado e ainda sob o impacto dos abusos de que fora alvo.
Explicando seu filme, Pablo Larrain diz ter tido educação católica e ter conhecido padres corretos na sua infância, mas que existem outros dos quais a Igreja quer se desvencilhar, com processo próprio, mas preferindo escondê-los em lugares de difícil acesso ou conventos.
Por isso a inspiração do filme. Para ele, a Igreja irá ignorar o filme na América Latina, mas o filme deverá ser exibido no Chile, onde embora a população seja católica existe uma crescente secularização.
O Papa, diz ele, tem problema enormes com a pedofilia e outras práticas sexuais dos padres, como o homossexualismo, porém ao mesmo tempo está diante de um sério desafio "tirar a Igreja das trevas".
Rui Martins
Fonte: PRAVDA
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