Katy Sewallde Seattle para a BBC News
Gabi Mann começou a alimentar corvos por acidente aos quatro anos de idade
Uma menina de oito anos de Seattle conseguiu fazer uma amizade insólita com um grupo de corvos que frequentava seu jardim.
Gabi Mann alimenta as aves há anos. Em troca, eles trazem de volta pequenos objetos, como botões, clipes de papel e até brincos.
Gabi guarda seus "presentes" cuidadosamente em uma caixa na sala de jantar da casa da família.
"Você pode olhar de perto, mas não toque", avisa a menina, repetindo uma frase que diz ao irmão mais novo.
Dentro da caixa é possível ver os objetos embalados e até alguns com rótulos.
"Guardamos na melhor condição que conseguimos", disse a menina segurando uma das embalagens.
Entre os presentes, está uma bola prateada em miniatura, um botão preto, um clipe azul, uma miçanga amarela, um pedaço de espuma preta, desbotada, uma peça azul de Lego.
Muitos deles estão sujos e arranhados, mas, para Gabi, este é um verdadeiro tesouro.
AcidentesCorvos trazem objetos pequenos, brilhantes e coloridos para meninaMãe e filha separam e rotulam cada um dos presentes deixados pelos corvos
A amizade da menina com os corvos começou por acidente em 2011. Gabi estava com 4 anos e sempre deixava o que estava comendo cair no chão.
Ela saía do carro da família, e um pedaço pequeno de frango empanado caía de seu colo. Um corvo vinha voando para pegá-lo.
Logo, os corvos estavam observando Gabi, esperando por mais restos de comida.
Quando ficou mais velha, a menina recompensou esta atenção das aves dividindo seu lanche a caminho do ponto de ônibus para ir para à escola. O irmão se juntou à brincadeira.
Depois disso, os corvos se reuniam na parte da tarde para receber Gabi, esperando por mais comida.
A mãe de Gabi, Lisa Mann, não se importava com o fato de as aves devorarem a maior parte do lanche que ela preparava para a filha.
"Gosto do fato de eles adorarem os animais e terem disposição para dividir (a comida)", disse Lisa, acrescentando que nunca tinha reparado nos corvos até que a filha começou a se interessar por eles.
DiariamenteCorvos recebem amendoins e comida para cachorro
Em 2013, Gabi e Lisa começaram a oferecer os alimentos seguindo uma rotina diária, em vez de simplesmente derrubar alguns restos de vez em quando.
Todas as manhãs, mãe e filha enchiam o bebedouro para aves do quintal com água fresca e cobriam as bandejas para alimentação das aves com amendoins.
Gabi também espalhava comida para cachorro na grama. Enquanto elas terminavam este trabalho, os corvos já se reuniam nas linhas telefônicas e postes, piando alto para as duas.
Depois que elas adotaram esta rotina, os presentes começaram a aparecer.
Os corvos comiam todo o amendoim e deixavam os pequenos objetos nas bandejas vazias: um brinco, uma pedra polida, uma dobradiça.
Não havia um padrão. Os presentes apareciam esporadicamente: qualquer coisa brilhante e pequena o bastante para ser levada com o bico.
Vínculo
Depois da esperiência de Gabi, muitos devem estar se perguntando como conseguiriam uma amizade como esta com um bando de corvos.
"Se você quiser formar um vínculo com um corvo, seja constante nas recompensas para ele", disse John Marzluff, professor de ciências da vida selvagem na Universidade de Washington, que também é especialista em aves, principalmente corvos.
Marzluff também afirmou que amendoins são a melhor oferta para estas aves.Aves já se acostumaram a ir até o bebedouro no quintal da casa da família
"Alguns amendoins na casca. É um alimento energético... e faz barulho quando você joga no chão, então, eles ouvem e rapidamente se habituam com a sua rotina", disse.
Marzluff e um colega, Mark Miller, fizeram um estudo sobre corvos e as pessoas que alimentam estas aves. Eles descobriram que corvos e humanos podem ter um relacionamento muito pessoal.
"Definitivamente, há uma comunicação bilateral ocorrendo ali. Eles entendem os sinais uns dos outros."
As aves se comunicam pela forma de voar, pela proximidade com que andam e onde pousam.
Os humanos aprendem esta linguagem, e os corvos aprendem os padrões de alimentação e a postura dos humanos. Eles começam a se conhecer e a confiar uns nos outros e, algumas vezes, um corvo deixa um presente.
Mas estes presentes não são garantidos. "Eu não posso afirmar que eles sempre vão fazer isso, mas já vi muitas coisas que os corvos trouxeram para as pessoas", disse o estudioso.
O professor também alerta que nem sempre os presentes serão pequenos objetos brilhantes.
Às vezes as aves vão trazer presentes que "dariam para um parceiro", como se estivessem cortejando. "Para algumas pessoas, os presentes são filhotes mortos de outras aves", afirmou.
Câmeras
Gabi já recebeu alguns presentes diferentes. A mãe teve que jogar fora uma pata de caranguejo que estava apodrecendo.
A menina também já recebeu um parafuso enferrujado que ela embalou e rotulou como seu "terceiro presente favorito", pois, para ela, o corvo poderia estar tentando "construir uma casa".Lisa (esq.) registra as atividades dos corvos em fotos e vídeos
A mãe, Lisa, fotografa os corvos e registra o comportamento das aves.
O presente mais incrível deixado por eles chegou há algumas semanas, quando Lisa perdeu uma tampa de uma lente da câmera em uma rua próxima e encontrou tempos depois no bebedouro das aves.
Para ter certeza de que um corvo tinha devolvido, Lisa filmou o quintal e assistiu ao vídeo pelo computador. O corvo estava nas imagens.
"Você pode vê-lo trazendo a tampa para o quintal. Indo até o bebedouro e até mesmo passando um tempo enxaguando a tampa da lente."
"Tenho certeza de que foi intencional. Eles nos observam o tempo todo. Tenho certeza que eles sabiam que eu deixei cair. Sei que eles decidiram que queriam devolver", acrescentou.
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