Esta matéria foi publicada na Edição 476 do Jornal Inverta, em 12/02/2015
A campanha de corrupção e caos econômico é parte da guerra do imperialismo. Os setores mais atrasados da burguesia atrelada ao capital internacional, dona dos monopólios das comunicações, está fundamentada em um método provado e comprovado para alcançar o golpe. A Petrobrás se tornou a bola da vez, e é a partir dela que se tenta criar novamente um cenário de caos.
Mesmo depois do pleito presidencial de outubro, a intensidade do assédio da imprensa e setores conservadores da política contra a presidenta Dilma Rousseff não pararam um só minuto. Aliás, todos os dias são noticiados novos fatos que indicam uma clara tentativa de desestabilização do governo. Por um lado, apostam alto no declínio da economia do país e repetem em mantra no retorno do fantasma da inflação, de alta do dólar e juros alarmantes, no minúsculo crescimento do país, na tentativa óbvia de desgastar o governo, mesmo que os fatos indiquem que tudo isso não é verdade. Por outro lado, investe-se pesado na desmoralização de Dilma através de escândalos de corrupção envolvendo empresas estatais, e mesmo sem qualquer evidência buscam associá-la aos escândalos, em um simulacro dissimulado.
As notícias veiculadas são verdadeiras propagandas para que as campanhas de guerra psicológica e econômica tenham maior êxito.
A “bola da vez” entre esses escândalos de corrupção envolve a Petrobras, a maior empresa estatal brasileira, denunciados através da “Operação Lava Jato”, da Polícia Federal. Estima-se que o esquema existe há pelo menos 15 anos, como herança maldita do governo FHC. A “Lava Jato” investiga a organização criminosa formada por políticos, funcionários públicos, executivos de empreiteiras e doleiros. As empreiteiras distribuíam entre si contratos inflados com órgãos públicos, em especial a Petrobrás, mediante o pagamento de propina e desvio de dinheiro público, que era repassado a partidos políticos. O principal contrato sob suspeita é o da compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, que teria servido para abastecer caixa dois e pagar propina.
A sétima fase da Operação Lava Jato cumpriu mandados de prisão e busca e apreensão no Paraná, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, em Pernambuco e no Distrito Federal. Além do ex-diretor de serviços da estatal, foram presos também funcionários de, pelo menos, nove empresas: Camargo Corrêa, Odebrecht, OAS, UPC, Engevix, Iesa, Queiroz Galvão, Galvão Engenharia e Mendes Júnior.
Dessa maneira, configura-se campo perfeito para dar a impressão de um caos social e político: os jornais enchem a primeira página, a rádio e a televisão enchem os noticiários com previsões catastróficas e acontecimentos estarrecedores. Coincidentemente, desde o resultado das eleições o noticiário não tem passado um só dia sem associar os escândalos de corrupção à Presidenta Dilma Rousseff. Todo o esforço feito é para, depois de criado o clima de tensão, o governo ser apontado como único culpado.
Manual Gene Sharp de golpes de estado
O cenário escatológico que está sendo formado através desse espetáculo midiático não é uma suposição gratuita. Este processo todo está elencado no pensamento do cientista político Gene Sharp, considerado o guru da CIA na nova estratégia de criar um ambiente de desestabilização política em países não aliados dos EUA, que não seja primeiramente uma intervenção militar externa.
A ideia central de Sharp de “não violência” é de uma “guerra com outros meios” já que para ele, “a natureza da guerra mudou. (…) Nós combatemos com armas psicológicas, sociais, econômicas e políticas”. Em seus livros Da ditadura à democracia (democracia sob termos ianques) estão descritos 198 métodos para derrubar governos por meio de “golpes suaves”. A CIA encorporou estas ideias de muito bom grado e fez de Sharp o “Maquiavel do imperialismo”. Uma intervenção militar tradicional implica enormes gastos econômicos e prejuízo para a opinião pública internacional.
Para chegar a isso, cria-se primeiro o clima de instabilidade, de afetação à legitimidade do país alvo expondo a fragilidade econômica, algo muito explorado nos últimos meses nos veículos de comunicação burgueses, além da degradação moral com exposições continuadas de descasos, corrupção, inoperância dos governos, etc, fragilizando a representação popular e dos partidos - elementos estes fartamente expostos incessantemente nos últimos tempos criando no seio da sociedade, a partir de membros oriundos da classe média, sequenciada por outros segmentos, os rastros primeiros para as manifestações crescentes que comumente em outras experiências desaguaram na derrubada do governo.
Sabe-se que a estratégia foi implantada na chamada “primavera árabe”, com resultados dramáticos na Líbia, Turquia e Egito. Na Venezuela, o esforço midiático para criar uma situação de caos social, político e econômico foi a justificativa necessária para a burguesia agir violentamente, sob o manto de protestos. No Brasil, a burguesia armada com os meios de comunicação tentou montar um cenário de instabilidade aproveitando-se dos protestos pelo Passe-Livre, em São Paulo, e com os escândalos de corrupção. O alvo preterido por esta campanha seria a não reeleição da presidenta Dilma; entretanto, uma vez Dilma reeleita, a campanha se destinará a forjar um cenário cada vez mais de difícil governabilidade.
A campanha de corrupção e caos econômico é parte da guerra do imperialismo. Os setores mais atrasados da burguesia atrelada ao capital internacional, dona dos monopólios das comunicações, está fundamentada em um método provado e comprovado para alcançar o golpe. A Petrobrás se tornou a bola da vez, e é a partir dela que se tenta criar novamente um cenário de caos. A burguesia não descansa em seu intento golpista. Mas, nós também não, na defesa da democracia. Estamos de olho.
José Carapinima
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