09.05.2017
O chamado Estado do Bem Estar Social, que garantiu alguns direitos aos trabalhadores, principalmente em países europeus, foi uma concessão do empresariado, temeroso da influência da Revolução Russa de 1917 sobre as massas trabalhadoras.
Essa constatação, foi um dos pontos centrais expostos pelos debatedores do seminário sobre os 100 anos da Revolução Russa, que começou segunda-feira no teatro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul e que deverá se estender por mais cinco encontros.
Apesar da escassa divulgação feita pelos meios de comunicação, o seminário foi um sucesso de público, mostrando que o tema é ainda bastante atual. Desde o final da semana, as inscrições para os 150 lugares do teatro estavam fechadas e mesmo assim, um grande número de pessoas se aglomerou diante da sede do Instituto, na Rua Riachuelo, à espera de alguma desistência de última hora.
A primeira noite reuniu os historiadores Augusto Buonicore, da FMG; Ana Lúcia Danilevicz e Luís Dário, os dois da UFRGS.
Os três debatedores concordaram que além da influência direta que provocou nas questões sociais, a Revolução Russa, pelo seu exemplo prático, é responsável pela divulgação na Europa e nos Estados Unidos dos direitos de igualdade das mulheres, do fim do preconceito racial e da luta contra o anti semitismo.
A professora Ana Lúcia chamou a atenção para o exercício da plena liberdade que a Revolução trouxe para o povo russo, ao por fim a séculos de um sistema autoritário e mostrou que, até o fim da União Soviética, existia um sistema democrático extremamente capilarizado, com eleições para todos os tipos de direção.
O professor Buonicore deu outro exemplo de influência da Revolução Russa, até mesmo nos Estados Unidos: a Suprema Corte dos Estados Unidos só considerou inconstitucional a existência de escolas separadas para brancos e negros, quando foi alertada pelo governo que essa divisão favorecia à pregação dos comunistas americanos.
O professor Luis Dario, lembrou como na União Soviética as mulheres eram tratadas com igualdade total em relação aos homens, dizendo que enquanto nos Estados Unidos e Inglaterra, elas apenas substituíam os homens que foram para a guerra, na URSS, elas, além disso, participavam diretamente dos combates, lembrando o exemplo da famosa atiradora de elite, que quando perguntada quantos soldados inimigos havia matado, respondeu: Nenhum. Matei 300 fascistas.
Na sua fala, o professor Luis Dario ressaltou que no mundo capitalista, temos cada vez mais uma democracia representativa,ao contrário da URSS, onde ela era basicamente participativa .
Mais adiante, ele fez algumas provocações à platéia, chamando a atenção de que foram os ensinamentos da Revolução Russa que permitiram que se criassem modelos diferentes de socialismo, como nos casos do Vietnam e da China e dizendo que o modelo de comunismo chinês seria uma versão bem sucedida do NEP*, de Lenin.
Para o professor Luís Dario , o Partido Comunista Chinês detém um controle muito rígido da economia e que isso permitiu transformar o país da grande potência econômica do mundo.
Finalmente, lembrou que apesar de ser motivo de brincadeiras no Ocidente, a força militar da Coréia do Norte é que garantiu, até agora, que o país não se transformasse numa nova Líbia ou Iraque, dominado pelos americanos.
Na última fala da noite, a professora Ana Lúcia colocou nos movimentos sociais de 1960, na França, o início de um processo de enfraquecimento da causa do socialismo, com a convergência das energias para reivindicações importantes, mas que enfraquecem a visão maior pelo qual deve se lutar, chamando a atenção para a valorização da identidade individual em detrimento da identidade coletiva, da realização pessoal em vez da solidariedade de classe.
*NEP - Nova Política Econômica, criada por Lenin em 1921 para fazer frente à resistência dos agricultores em aceitar uma forma coletiva de produção. A ideia era se ter dois sistemas econômicos - o socialista e o capitalista - durante algum tempo. O NEP foi cancelado por Stalin em 1927, quando iniciou a coletivização de toda a agricultura.
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS
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