Poeta, psicanalista
2 de Maio de 2017
O golpe patronal em curso está isolando definitivamente a elite branca brasileira do País e da Nação e em breve a apartará também do Estado.
A Greve Geral (28/04/17) aprofundou este isolamento e demarcou um ponto de não-retorno, ou seja, por mais malabarismos econômico-políticos, jurídicos, policiais e midiáticos que venha ainda a fazer, a elite branca brasileira mergulhou desde então em um rápido processo de suicídio político...
Estúpida e cegamente, ela ainda supõe que levará adiante o golpe patronal – materializado nas ditas 'reforma trabalhista' e 'reforma da previdência' – e que tal golpe terá necessariamente continuidade ou com a vitória de um de seus representantes nas eleições presidenciais de Outubro/2018 ou com o 'golpe 2.0' (golpe interno ao golpe, sem eleições presidenciais diretas e com a entronização de um marionete qualquer em substituição a Michê).
Ora, a elite branca brasileira não consegue ler – e, pois, não consegue ver – que essas 'reformas' (somadas a vários outros 'ajustes') são as pás mortuárias pelas quais ela aprofunda o fosso com o País e a Nação e no qual está por assim dizer auto-lançando-se, destruindo a si mesma enquanto classe social econômica e politicamente dominante.
Por que ela não consegue ler e/ou ver que está suicidando-se?
Porque sua leitura do País e da Nação brasileiros atrasou-se, encarquilhou-se, engessou-se, perdeu o bonde da história...
Noutros termos, a elite branca brasileira rigorosamente não conseguiu modernizar-se e adentrar no Século XXI já tendo feito o acerto de contas – atenção: acerto discursivo-político e discursivo-cultural – com seu passado pesada e longamente colonial, patriarcal, patrimonialista e escravista.
Assim, no Brasil o Capital – a lógica de reprodução e expansão econômicas do Capital – ainda não pode desvencilhar-se do dispositivo político, cultural e ideológico encapsulado na fórmula 'Casa-Grande e Senzala', tudo se passando portanto como se o País, a Nação e o Estado fossem obrigados sempiternamente a prestar vassalagem às botas dos 'fazendeiros', 'senhores', 'coronéis', etc.
De fato (felizmente, cada vez menos de direito), a elite branca brasileira trata o País, a Nação e o Estado nacionais como se tais constructos históricos lhes pertencessem 'por natureza e destinação divinas', devendo restarem passiva e obedientemente situados nas pontas de seus chicotes e de suas butucas...
Neste contexto, é perene o mal-estar tropeçante dos 'braselites' (permitam-me cognominar a tralha desse modo) quando um de seus membros e/ou representantes vem a público para expressar-se sobre 'democracia', 'cidadania', 'direitos civis', 'diversidade', 'modernidade', etc, enredando-se em evasivas e meias-palavras que testemunham o quão esses vocábulos civilizatórios definitivamente não fazem parte de seu repertório linguístico-discursivo, e, pois, são alheios ao modus vivendi enfurnado nos bolores protofascistas da Casa-Grande.
Pois bem, como então ajustar os relógios de cordas e de correntes de ouro ciosamente guardados nos bolsos dos fraques de Michê e Boçalnato com o 'tempus' ultradigital do Capital?
Não dá. O atual estado de coisas no País e Nação brasileiros mostra que esse ajuste (valho-me de uma expressão muito cara a Lacan) 'forcluíu-se', não se inscreveu, passou da hora...
Para dizê-lo de uma vez: por veredas tortuosas e fendas inesperadas (admitamos ou não, a história de trinta anos e a governança por mais de uma década do PT ajudaram nisso) o País e a Nação brasileiros perceberam que podem desconstruir e ultrapassar o Estado Casa-Grande e Senzala, desmontar inteligentemente suas peças e endereçá-las não à 'lata de lixo da História' (somos civilizados!) mas sim aos nossos respeitáveis museus (as gerações mais jovens devem aprender o porquê de termos alocado essas peças nesses pedagógicos lugares).
Ora, o gritante atraso sócio-histórico, político e cultural da elite branca brasileira expressa-se sobretudo na maneira predatória pela qual ela lida com os dispositivos econômicos estruturados, agenciados e gerenciados pelo Capital, seja empobrecendo ao fim e ao cabo a força de trabalho assalariada (impedindo-se assim a construção e a sustentabilidade de uma 'classe média histórica') seja operando a curtíssimo prazo a extração maximizada da 'mais-valia' (através de juros bancários estabelecidos para além de qualquer razoabilidade e de um ataque frontal, bárbaro e destrutivo aos recursos naturais e/ou energéticos à disposição).
Assim, a mentalidade casagrandense lê o País e a Nação brasileiros como se ambos não tivessem seus próprios estatutos – historicamente consolidados e juridicamente operativos –, tratando-os ao modo brutal de uma 'colônia de exploração', subtraindo-lhes direitos, negando-lhes espaços, calando-lhes as vozes, rasgando-lhes os discursos...
Em realidade, ao erigir e ainda ocupar o Estado Casa-Grande e Senzala, a elite branca brasileira parasita – no limite, paralisa – o País e a Nação, suga-lhes as energias, debilita-lhes as forças e empuxa-os de joelhos dobrados à geopolítica do 'Império G 4'.
É preciso pois atualizar urgentemente o Estado Brasileiro com o País, com a Nação e com – gostemos ou não, posto ser um dado de realidade – o 'tempus' digitalizado/globalizado do Capital (atenção: atualização com o 'tempus' do dispositivo tecno-capitalista para, no horizonte, conquistar sua superação econômica, política e cultural).
Entretanto, tal atualização exige necessariamente a retomada do Estado Democrático de Direito soerguido a partir da Constituição Federal/1988, o qual foi golpeado de maneira perversa pelos 'braselites' (permitam-me outra vez a utilização do neologismo para caricaturar a excrecência parasitária), mas que, todavia, sobrevive valentemente nas ruas esclarecidas, democráticas e cosmopolitas do País e da Nação brasileiros.
Certo, a Greve Geral (28/04/17) instala pois um ponto de não-retorno: os casagrandenses não o sabem, mas o golpe patronal ('reforma trabalhista', 'reforma da previdência', 'reforma da educação', etc) mete-lhes doravante a corda no pescoço e manipulação alguma do PIG (Partido da Imprensa Golpista, Globo à frente) fará o País e a Nação retrocederem no ato de empurrar o pequeno banco sob as botas deles.
Fonte: Brasil 247
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