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sábado, 26 de dezembro de 2020

COLÔNIA ALEMÃ, FRACASSADA, NO PERÚ

Ora, na presciência dos inconvenientes desta exploração, que, entretanto, determinou o pleno desdobramento de seu domínio no Oriente, o govêrno peruano nunca renunciou ao seu primitivo propósito de uma colonização intensiva. 

E para ao mesmo tempo garantir o tráfego do melhor caminho para o Amazonas, pelo Ucaiáli, que vai da estação terminus de Oroya aos tributários principais do Pachitéa, estabeleceu em 1857, à margem de um dêles, o Rio Pozuzo, a colônia alemã, que sôbre tôdas lhe monopolizou os cuidados e uma solicitude nunca interrompida. Realmente, a situação era admirável. 

À média distância de Iquitos, próxima aos afluentes navegáveis do Ucaiáli e num solo exuberante, o núcleo estabelecido era, militar e administrativamente, o mais firme ponto estratégico daquele combate com o deserto, justificando-se os esforços e extraordinárias despesas que se fizeram para um rápido desenvolvimento, que as melhores condições naturais favoreciam. 

Mas não lhe vingou o plano. 

A exemplo do que acontecera em Loreto, os novos povoadores, embora mais persistentes, anulavam-se, estéreis. 

A colônia paralisara-se, tolhiça, entre os esplendores da floresta. Reduziu-se a culturas rudimentares que mal lhe satisfaziam o consumo. E o progresso demográfico, quase insensível, retratava-se numa prole linfática, em que o rijo arcabouço prussiano se engelhava na envergadura esmirrada do quíchua. 

Ao visitá-la, em 1870, o Prefeito de Huanuco, Coronel Vizcarra, quedou atônito e comovido: os colonos apresentaram-se-lhe andrajosos e famintos, pedindo-lhe pão e vestes para velarem a nudez. 

O romântico D. Manoel Pinzás, que descreveu a viagem, pinta-nos em longos períodos soluçantes os lances daquele cuadro desgarrador!, suspendendo-o em dois rijos pontos de admiração. 

Viu-o ainda, passado um lustro, com as mesmas côres sombrias, o Dr. Santiago Tavara, ao descrever a primeira viagem do Almirante Tucker. Por fim, transcorridos trinta anos, o Coronel P. Portillo na sua rota do Ucaiáli teve notícias certas do núcleo povoador: era uma Tebaida aterradora. 

Lá dentro os primitivos colonos e os seus rebentos degenerados agitavam-se vítimas de um fanatismo irremediável, na mandria dolorosa das penitências, a rezarem, a desfiarem rosários e a entoarem umas ladainhas intermináveis numa concorrência escandalosa com os guaribas(*) da floresta.

Um trecho da obra de EUCLIDES DA CUNHA intitulada À margem da História.


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(*) - É o símio também conhecido como RONCADOR, ou BUGIO, entre os brasileiros, que costuma fazer alaridos (daí o nome roncador) que assusta aos menos avisados sobre a origem de tal barulheira. A espécie costuma aumentar a algazarra, segundo os sertanejos, à aproximação de tempestades.

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