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quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

MORTE NO 'DELIVERY': A EXTENUANTE ROTINA DE ENTREGADORES NA COREIA DO SUL


Em 2020, nove trabalhadores da categoria morreram apenas no primeiro semestre, de acordo com Agência de Segurança e Saúde Ocupacional do país; excesso de trabalho é apontado entre razões que levaram a óbitos

Época
17/12/2020 - 08:29Entregador na cidade de Seul, na Coréia do Sul Foto: SOPA Images / Getty Images

O aumento do serviço de delivery na Coréia do Sul tornou extenuante o trabalho dos entregadores com a pandemia do coronavírus.

Em entrevista ao The New York Times, um dos profissionais desse segmento afirmou que ao menos 15 entregadores morreram por "excesso de trabalho" nos últimos meses.

“Não seria uma surpresa se eu cair morto também”, disse Choi Ji-na, de 43 anos, ao falar sobre sua desgastante rotina de trabalho em Seul.

Apesar do cansaço, Choi diz tem sorte de estar empregado e até se sente orgulhoso de trabalhar em algo que agora se tornou tão essencial.

Em 2018, quando o presidente da Coréia reduziu as horas de trabalho semanais de 68 para 52, os entregadores foram deixados de fora, segundo o NYT.

“A carga de trabalho ficou muito grande. Desde que o coronavírus veio, voltar para casa cedo o suficiente para jantar com meus filhos se tornou um sonho distante”, disse Choi.

De 2015 a 2019, morreram entre um e quatro entregadores por ano. Em 2020, nove trabalhadores da categoria morreram apenas no primeiro semestre, de acordo com dados que a Agência de Segurança e Saúde Ocupacional da Coreia.

A sequência de mortes causou um alvoroço no país, com diversas pessoas chamando atenção à necessidade das proteções aos trabalhadores, feitas de forma desigual.

Um dos casos de morte, de acordo como New York Times, é o de Kim Dong-hee, entregador de 36 anos também de Seoul. Ele havia voltado para casa às 2h do dia 7 de outubro, depois de uma rotina longa de trabalho. Mais tarde, naquele mesmo dia, ele foi ao depósito para pegar 420 pacotes.


Ainda com muitas entregas a fazer, mandou uma mensagem de texto para um colega às 4:28h do dia 8. Dong-hee falou que estaria em casa às 5h, mas mal teria tempo de comer e se lavar antes de sair novamente. “Estou muito cansado”, ele digitou.

Quatro dias depois, o rapaz não apareceu para trabalhar. Quando os colegas verificaram sua casa, o encontraram morto. De acordo com o jornal, a polícia decidiu que a causa foi insuficiência cardíaca, mas colegas dizem que ele morreu por excesso de trabalho.

Depois que as mortes geraram manchetes, as pessoas também começaram a expressar simpatia pelos entregadores, com bebidas e lanches deixados nas portas das casas com bilhetes: "Tudo bem se atrasar".

“Quando estranhos passam por mim nas ruas, eles me dizem:‘ Por favor, não morra! Precisamos de você’, disse Park. Mas as reformas prometidas por empresas de logística e pelo governo demoram a chegar.

O The New York Times aponta que as compras online cresceram em 30% na Coréia do Sul, que ocasionou, em estimativa, 3,6 milhões de pacotes entregues em 2020. De acordo com uma pesquisa feita em setembro pelo Centro de Saúde e Segurança do Trabalhador, um grupo de direitos humanos, os entregadores trabalham em média 12 horas por dia, seis dias por semana.

Mesmo com esse avanço no tamanho de entregas, com promessas de produtos na casa do cliente “no mesmo dia da compra” por parte de shoppings e empresas de logística, as taxas de delivery caíram. O jornal afirma que os entregadores recebem de R$3 a R$4 por pacote.

O número alto de pedidos caminha ao lado da expectativa de que tudo chegue aos clientes com velocidade, mas os trabalhadores dizem que tem se tornado impossível atender a toda essa demanda.

Fonte: https://epoca.globo.com/mundo/morte-no-delivery-extenuante-rotina-de-entregadores-na-coreia-do-sul-24799846

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