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segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

O novo "despotismo esclarecido"

Estamos a passar, no Brasil, desde alguns anos, outra fase semelhante àquela que o Marquês de Pombal rotulou como "despotismo esclarecido".

Políticos (mormente deputados federais e senadores), magistrados (com ênfase para desembargadores e ministros), militares (os da cúpula, obviamente, muitos dos quais nem tanto ilustrados assim, como nos mostram demonstrações inequívocas de crassa ignorância)  abusam, com muita frequência e inaudita falta de vergonha na cara, da paciência do povo.

Ao mesmo tempo em que fixam salário mínimo e proventos de aposentadoria irrisórios, para os trabalhadores e aposentados, mamam em sinecuras escandalosas, somando aos proventos uma série infinda de "penduricalhos", os quais são componentes salariais que escapam à incidência do Imposto de Renda, tributos que atinge as demais categorias, vítimas de uma carga tributária escorchante. 

Arrecadação que se destina a remunerar banqueiros sem escrúpulos, credores de dívida pública não auditada desde os tempos de Getúlio Vargas, que, por sinal, por sua ousadia de mandar conferir as contas públicas, acabou "suicidado", muito provavelmente por sabujos dos rentistas, depois de ser rotulado como "ditador", destino comum de todos que pugnam por contratos bancários mais equilibrados, livres de abusos típicos dessa classe de abutres, que infelicitam as nações da terra, com raras exceções.

Arrecadação para a qual não contribuem, em igualdade de condições com os demais atores da sociedade, as entidades religiosas (igrejas, templos, baiucas de toda espécie), que se amparam em dispositivo constitucional que lhes assegura imunidade a impostos e dispositivos das cartas estaduais, leis orgânicas municipais e códigos tributários que cuidam de ampliar as isenções tributárias a bispos e quejandos.

Não bastasse tais privilégios, outros déspotas, tão ou mais descarados, os pregadores, sem o mínimo de pudor ainda exploram a credulidade pública e a ingenuidade, usando de um sistema de premiação/punição (céu, purgatório, inferno), que acena com benefícios e castigos perversos para os incautos crentes, dos quais arrancam dízimos e para os quais vendem relíquias, coisas sagradas, bugigangas milagrosas e indulgência.

Sou obrigado a parafrasear o lúcido e corajoso sacerdote católico Jean Meslier (1664/1729): a humanidade  só terá jeito quando o último  corrupto e/ou fraudador da administração pública (incluindo os membros do Judiciário e os militares da cúpula das forças armadas) for enforcado com as tripas do último pregador dessa ideia perniciosa que chamam Deus. E quando o corpo do mesmo for incinerado junto com o do último rentista.


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