Cruzamento de dados feito pelo projeto Cortina de Fumaça desmente presidente Jair Bolsonaro, que culpou índios e caboclos por incêndios na floresta tropical; latifúndios concentraram metade dos focos de calor no primeiro semestre de 2020
Rodrigo Castro
23/09/2020 - 13:33Queimada em Novo Progresso (PA), na Amazônia Foto: Victor Moriyama/AFP/Greenpeace/23.08.2019
Propriedades rurais de médio e grande porte responderam por 72% dos focos de calor nas quatro áreas mais críticas da Amazônia em 2019. A conclusão é do projeto Cortina de Fumaça, capitaneado pela Ambiental Media com apoio do Rainforest Journalism Fund.
A análise se baseou no cruzamento de dados oficiais sobre queimadas, monitorados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com o Cadastro Ambiental Rural (CAR), registro público das declarações das áreas abarcadas por propiedades rurais.
Os quatro municípios que mais desmataram no ano passado - Altamira (PA), São Félix do Xingu (PA), Porto Velho (RO) e Lábrea (AM) - encabeçam a lista dos que apresentaram os maiores índices de fogo. A cidade de Apuí, no Amazonas, é outra que consta nos dois rankings, com sexto lugar em focos de calor e sétimo em desmatamento.Mapa mostra relação de desmatamento (escala horizontal) com queimadas (escala vertical) Foto: Laura Kurtzberg/Ambiental Media
A observação conjunta dos dados expõe a concentração dessas atividades em latifúndios, ao contrário do que sugeriu o presidente Jair Bolsonaro durante seu discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça (22). Na ocasião, ele afirmou que os responsáveis pelas queimadas na Amazônia são índios e caboclos.
Uma nota técnica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), no entanto, desmente o presidente ao apontar que metade das queimadas do primeiro semestre de 2020 ocorreram em propriedades de médio e grande porte - acima de 440 hectares, o equivalente ao mesmo número de campos de futebol.
Em 2019, dos 31% de focos de calor registrados em imóveis rurais, 22% estavam naqueles considerados médios ou grandes, enquanto 9% aconteceram em pequenos.Grandes e médias propriedades respondem por 72% dos focos de foco nas áreas mais críticas da Amazônia Foto: Laura Kurtzberg/Ambiental Media
O sistema de alerta de desmatamento do Inpe, o Deter, estima que mais de 9 mil quilômetros quadrados foram devastados entre agosto de 2019 e julho de 2020, o que representa uma alta de 34% em relação ao mesmo período anterior.
De acordo com levantamento do Inpe, registraram-se 89 mil focos de calor em 2019 na Amazônia, cerca de 30% a mais do que no ano anterior. Entre maio e julho de 2020, o aumento foi de 23% nos focos de queimada em comparação ao mesmo intervalo do ano passado. Junho, por exemplo, apresentou os maiores índices para o mês dos últimos 13 anos.
A correlação entre os eventos também é provada por uma nova ferramenta da Nasa, a agência espacial americana, para mapear as queimadas. Segundo ela, 54% do fogo este ano têm origem no desmatamento.
Fonte: https://epoca.globo.com/sociedade/amazonia-72-das-queimadas-de-2019-nas-areas-criticas-ocorreram-em-grandes-fazendas-24655661
Nenhum comentário:
Postar um comentário