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segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

"SUJIDADES" E CRUELDADE À MODA ANTIGA

Sodomita, esse vigário de Matoim, de 65 anos, cometendo atos desonestos com mais de quarenta pessoas, ou esse outro clérigo, Frutuoso Álvares, “homem velho que já tem as barbas brancas”, pederasta passivo, assim como o cônego Bartolomeu de Vasconcelos, apaixonado pelos negros de Guiné; 
E o sodomita incestuoso Bastião de Aguiar, menor de 16 anos, que se ajuntava com o irmão mais velho e com um bacharel em artes, natural do Rio de Janeiro; 
E Lázaro da Cunha, mameluco, que vivera cinco anos entre os tupinambás, “despido e tingido”, praticando com as índias o pecado nefando; 
E o cristão novo (*) Diogo Afonso, encontrando-se com o seu cúmplice Fernão “pelos campos e ribeiras”; 
E João Queixada, morador em casa do governador Dom Francisco de Sousa e que dormia em Lisboa com os pajens do deão da Sé. 
Tríbade, essa famosa Felipa de Sousa, que conhecia como uma Safo parisiense a arte de “falar muitos requebros e amores e palavras lascivas melhor ainda do que se fora um rufião à sua barregan” e que conseguiu penetrar, para saciar o vício, num mosteiro de monjas; tríbade também Luiza Roiz, que perseguia na sua fúria as negras da cidade. 
Pedófilo, o cônego Jacome de Queiroz, deflorador de uma pequena mameluca de seis anos, que vendia peixe pelas ruas; 
Sacrilego erótico, Fernão Cabral de Thayde, que queimara viva uma escrava índia, grávida, e escolhera a igreja de Jaguaripe para os seus ajuntamentos e que diante de uma repulsa declarava, “trocendo os bigodes”, que isso tudo eram “carantonhas”, que uma bochecha d’água lavava; 
Culpado de bestialidade, Heitor Gonçalves, confessando que sendo menino, de 8 a 14 anos e pastor de gado “nesse tempo dormira carnalmente por muitas vezes em diversos tempos e lugares com muitas alimarias: ovelhas, burras, vaccas, éguas, etc.” 
E afinal, notável pela sua posição social, o capitão Martim Carvalho, tesoureiro das rendas, amancebado publicamente com um jovem que o acompanhava nas entradas pelo sertão. Esse, tão escandaloso, que fora recambiado para o reino por pecado de so-domia. 
Em meio dessas sujidades, como dizia Gabriel Soares, chega a destacar-se pela sadia normalidade de suas proezas amorosas, Domingos Fernandes, por alcunha o Tamacuana, mameluco bandeirante de Pernambuco, companheiro de Antonio Dias Adorno, e que simboliza toda a sua época, meio bárbaro, meio civilizado, tatuado de urucu e genipapo, venerador do Papa das santidades gentílicas mas “contendo no seu coração a fee de Christo”, tudo por fingimento, dizia, “para enganar aquella gente” e trazê-la consigo para a escravidão. Contentou-se em desvirginar duas afilhadas menores e viver, à moda dos selvagens, com o seu harém de cinco ou seis mulheres que a indiada lhe oferecia no sertão.

- PAULO PRADO - Retrato do Brasil  (1928)

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(*) Judeu, teoricamente convertido ao cristianismo

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