Excertos da obra intitulada Canaã:
"MILKAU - Um dos erros dos intérpretes da História está no preconceito aristocrático com que concebem a ideia de raça. Ninguém, porém, até hoje soube definir a raça e ainda menos como se distinguem umas das outras; fazem-se sobre isso jogos de palavras, mas que são como esses desenhos de nuvens que ali vemos no alto, aparições fantásticas do nada...
E, depois, qual é a raça privilegiada para que só ela seja o teatro e o agente da civilização?
Houve um tempo na História em que o semita brilhava em Babilônia e no Egito, o hindu nas margens sagradas do Ganges, e eles eram a civilização toda; o resto do mundo era a nebulosa de que se não cogitava.
E, no entanto, é junto ao Sena e ao Tâmisa que a cultura se esgota hoje numa volúpia farta e alquebrada. O que eu vejo neste vasto panorama da História, para que me volto ansioso e interrogante, é a civilização deslocando-se sem interrupção, indo de grupo a grupo através de todas as raças, numa fatal apresentação gradual de grandes trechos da terra, à sua luz e calor...
Uns se vão iluminando, enquanto outros descem às trevas...
LENTZ - Até agora não vejo probabilidade da raça negra atingir a civilização dos brancos. Jamais a África...
MILKAU - O tempo da África chegará. As raças civilizam-se pela fusão; é no encontro das raças adiantadas com as raças virgens, selvagens, que está o repouso conservador, o milagre do rejuvenescimento da civilização. O papel dos povos superiores é o instintivo impulso do desdobramento da cultura, transfundindo de corpo a corpo o produto dessa fusão que, passada a treva da gestação, leva mais longe o capital acumulado nas infinitas gerações. Foi assim que a Gália se tornou França e a Germânia, Alemanha.
LENTZ - Não acredito que da fusão com espécies radicalmente incapazes resulte uma raça sobre que se possa desenvolver a civilização. Será sempre uma cultura inferior, civilização de mulatos, eternos escravos em revoltas e quedas. Enquanto não se eliminar a raça que é o produto de tal fusão, a civilização será sempre um misterioso artifício, todos os minutos rotos pelo sensualismo, pela bestialidade e pelo servilismo inato do negro. O problema social para o progresso de uma região como o Brasil está na substituição de uma raça híbrida, como a dos mulatos, por europeus. A imigração não é simplesmente para o futuro da região do País um caso de simples estética, é antes de tudo uma questão complexa, que interessa o futuro humano.
MILKAU - A substituição de uma raça não é remédio ao mal de qualquer civilização. Eu tenho para mim que o progresso se fará numa evolução constante e indefinida. Nesta grande massa da humanidade há nações que chegam ao maior adiantamento, depois definham e morrem, outras que apenas esboçam um princípio de cultura para desaparecerem imediatamente; mas o conjunto humano, formado dos povos, das raças, das nações, não para em sua marcha, caminha progredindo sempre, e os seus eclipses, os seus desmaios não são mais que períodos de transformações para épocas fecundas e melhores.
É a fatalidade do Universo que se cumpre nesse Todo que é uma parte dele...
Quando não há um trabalho à flor das coisas, luminoso e doce, há uma elaboração subterrânea, tenebrosa e forte. Às vezes, é num ponto isolado da superfície que se dá a opacidade das trevas, e pela fusão um povo aí se forma recapitulando a civilização desde o seu ponto inicial e preparando-se para levar o progresso mais longe que os povos geradores...
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