Fazendeiros que foram flagrados pelo Ibama desmatando a Amazônia conseguiram empréstimos com dinheiro público a juros subsidiados para comprar maquinários agrícolas
Escrito en POLÍTICA el 14/2/2022 · 09:35 hs
Fazendeiros que foram flagrados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) desmatando a Amazônia conseguiram empréstimos com dinheiro público a juros subsidiados para comprar tratores e outras máquinas agrícolas, apesar das infrações ambientais.
De acordo com levantamento do Repórter Brasil, os empréstimos foram concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e operados pelo banco John Deere, que é o braço financeiro da fabricante de máquinas que o controla e que vendeu os tratores.
Dessa maneira, o BNDES e o John Deere financiaram R$ 28,6 milhões em maquinários para cinco produtores com embargos em seu nome emitidos pelo Ibama por desmatamento.
Uma resolução do Banco Central do Brasil veda a concessão de crédito rural para propriedades na Amazônia sobre as quais recaem embargos, mas não coloca restrições para que os donos dessas áreas obtenham empréstimos para outras fazendas.
Ainda de acordo com o levantamento do Repórter Brasil, entre os casos levantados há empréstimos destinados a locais onde o produtor possui apenas uma apenas propriedade e que está embargada. Além disso, há financiamentos para produtores que deram calote no Ibama.
Onze fazendeiros que compraram as máquinas John Deere acumulam um total de R$ 31,4 milhões em multas ambientais que nunca foram pagas. O montante dos empréstimos feitos pelo BNDES (R$ 39,7 mi) daria para quitar as dívidas com sobra.
O BNDES afirmou que exige dos tomadores de crédito "declarações em que se ateste a inexistência na modalidade indireta automática, como é o caso" e que a responsabilidade de verificar as exigências é do banco parceiro, neste caso, do John Deere.
Falta transparência
O Repórter Brasil tentou levantar a legalidade dos empréstimos a fazendeiros desmatadores concedidos pelo BNDES e operados pelo banco John Deere, mas não obteve sucesso, pois, o banco não quis fornecer o número do Cadastro Ambiental Rural (CAR), dispositivo utilizado para solicitar financiamento. Sem ele não é possível confirmar se a resolução do Banco Central foi ou não respeitada.
Os beneficiados são: Alexandra Aparecida Perinoto. Total financiado: R$ 11.363.500. Destino do financiamento: Cláudia/MT e Marcelândia/MT. Embargos: Cláudia/MT e Marcelândia/MT.
Antonio Domingos Debastianne. Total financiado: R$ 10.943. Destino dos financiamentos: Felizx Natal/MT. Embargos: Feliz Natal/MT
Antonino Ori Toqueto. Total financiado: R$ 1.349.424. Destino dos financiamentos: Lucas do Rio Verde/MT. Embargos: Terra Nova do Norte/MT.
Milton Casari. Total financiado: R$ 4.718.875. Destino dos Financiamentos: Alta Floresta/MT e Paranaíta/MT. Embargos: Paranaíta/MT.
Rosalino Gallo. Total financiado: Total financiado: R$ 235.450. Novo Horizonte do Oeste/RO. Embargo: Alta Floresta D'Oeste/RO.
John Deere e o mercado brasileiro
A política de crédito agrário brasileira e a importância do agronegócio no Brasil (em 2020, o setor respondeu por 26,6% do PIB) fez do país o segundo mercado mais importante para John Deere, líder mundial em equipamentos agrícolas.
A empresa americana tem entre seus investidores o fundador da Microsoft Bill Gates, que possui 9,3% das ações da companhia.
A Black Rock, gestora de investimentos, que em 2020 anunciou que se afastaria de investimentos danosos ao meio ambiente, também possui participação na John Deere.
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