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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Jornalistas que investigam ditadura de Pinochet sofrem série de atentados no Chile



Nos últimos quatro dias, foram registrados três casos semelhantes de roubo de informações


Três jornalistas que trabalhavam em investigações relativas à ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) tiveram suas casas invadidas e informações roubadas nos últimos quatro dias no Chile. Uma quarta vítima recebeu ameaças telefônicas.

Victor Farinelli / Opera Mundi (18/12)
Juan Cristóbal Peña (esq.) e Mauricio Weibel (centro) em entrevista coletiva após entrega da solicitação ao Ministério Público

“Em quase todos os casos, os objetos levados continham informações ligadas à investigação jornalística, o que leva a suspeita de que foram ações planejadas, e talvez coordenadas, pelo fato de terem ocorrido em questão de dias”, explicou uma das vítimas e autor do livro Associação Ilícita – Os Arquivos Secretos da Ditadura, Mauricio Weibel.

O repórter, que trabalha como correspondente da agência alemã DPA, apresentou pedido nesta terça-feira (18/12) ao Ministério Público do país, solicitando amparo policial aos profissionais atacados e investigação urgente sobre os casos. O órgão acatou a solicitação, mas deve definir a prioridade do inquérito nos próximos dias.

O governo chileno também manifestou repúdio aos incidentes. O ministro do Interior, Andrés Chadwick, conversou pessoalmente com Weibel e colocou à disposição do jornalista e sua família uma guarda policial permanente. O repórter pediu que o apoio também fosse dedicado às demais vítimas.

Cronologia dos casos

A onda de atentados começou nesta sexta-feira (14/12) com o roubo do carro de Weibel. Nessa mesma tarde, pessoas vestidas como carabineiros (polícia militarizada chilena) visitaram a antiga residência do jornalista, solicitando informações a respeito de sua família.

O jornalista Javier Rebolledo também teve sua casa invadida e roubada na sexta (14/12). Os ladrões levaram apenas o pendrive onde ele guardava informações reunidas para o seu novo livro, que pretendia lançar no ano que vem, sobre os poderes civis por trás da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Em 2012, Rebolledo publicou o livro A Dança dos Corvos, onde descreve casos de tortura e assassinato cometidos pelo governo chileno a partir dos relatos de pessoas ligadas aos órgãos de repressão. A obra ainda revela o esquema de fraude eleitoral realizado pelos serviços de inteligência da ditadura para garantir a aprovação da Constituição de Pinochet (1980), vigente no país até hoje.

No dia seguinte (15/12), Weibel teve sua casa invadida e no incidente, somente foram roubados dois notebooks, um deles no qual havia informação referente às suas investigações jornalísticas.

Em outubro deste ano, o jornalista lançou o livro Associação Ilícita – Os Arquivos Secretos da Ditadura, onde apresenta documentos oficiais da ditadura e demonstra a relação entre os serviços secretos e as diversas instâncias de poder no Chile e até a relação deles com organismos e instituições de fora do país.

No domingo (15/12), o jornalista Carlos Dorat, coautor do livro junto com Weibel, recebeu uma série de telefonemas anônimos ameaçadores. Segundo ele, a pessoa que ligava, no momento em que ele atendia e perguntava quem era, ficava muda, e depois de um minuto desligava.

O último caso aconteceu nesta segunda-feira (17/12), quando o jornalista e escritor Juan Cristóbal Peña, teve sua casa invadida e revirada, embora não tenha reportado a perda de algum material de trabalho. Peña é autor do livro Os Fuzileiros, que conta a história de alguns dos integrantes da FPMR (Frente Patriótica Manuel Rodríguez), que foram responsáveis pelo atentado contra o ditador Augusto Pinochet no dia 7 de setembro de 1986.

Um possível quinto caso é o da invasão da casa da correspondente do jornal The New York Times no Chile, Pascale Bonnefoy, ocorrido em novembro deste ano, quando o seu notebook foi levado. A jornalista investiga casos de violações de direitos humanos, incluindo no período ditatorial, e foi chamada para dar declarações em processos jurídicos.

Fonte: OPERA MUNDI

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