Casas têm mais TVs e menos rede de esgoto em 11 Estados do Brasil
NATÁLIA CANCIAN
DE SÃO PAULO
Casas com TV, DVD, computador, carro e moto, mas sem esgoto e coleta de lixo.
Dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, mostram que, enquanto no país avança a presença nas residências de bens duráveis, como eletrônicos, boa parte dos Estados fica paralisada --ou até regride-- em serviços como água, esgoto e coleta de lixo.
De 2011 para 2012, 14 Estados tiveram redução no percentual de moradias com esses serviços (em 11 a rede de esgoto não teve nenhum avanço); apenas dois recuaram em bens duráveis. Na média nacional, houve crescimento ou estabilidade, dependendo do item.
Na prática, essa queda mostra que o aumento do número de moradias não é acompanhado no mesmo ritmo pelas políticas públicas.
Um dos maiores entraves ainda é a rede de esgoto. Ao todo, 11 Estados recuaram no acesso a este serviço. No Piauí, o percentual de casas com acesso à rede foi de 4% para 2,8% --queda de 29%.
Bruno Kelly/Folhapress
O motorista de ônibus Jorge Alessandro de Souza, 31, com a mulher, Miriam, 28, e o filho de 12 anos, em casa em Manaus
Oito Estados também recuaram no atendimento de rede de água, enquanto 12 pouco avançaram em coleta de lixo.
De acordo com o instituto Trata Brasil, que monitora dados oficiais de esgoto, os investimentos em coleta hoje são baixos --e ainda menores em tratamento.
"Há um avanço, mas muito aquém do que o país precisa. O governo tem meta de universalizar o serviço em até 20 anos. Se continuar assim, é impossível", diz Édison Carlos, presidente do instituto.
O problema se repete na coleta de lixo. "Os municípios não têm mostrado capacidade de recolher e destinar adequadamente tudo. E os problemas estão se agravando", diz Maria Vitória Ferreira, coordenadora da agenda ambiental da Universidade de Brasília.
Para os Estados, a dificuldade está na falta de recursos.
"As leis valem como se todo o país tivesse as mesmas condições de prover aquilo que está na lei, mas há um desequilíbrio muito grave na distribuição dos recursos", afirma o secretário das Cidades do Piauí, Merlong Solano.
Outro ponto, diz, é a "forte transferência" de moradores da zona rural para a periferia das cidades, o que traz demanda por expansão dos serviços.
A carência de recursos também é apontada como justificativa nos Estados onde a maioria das casas não tem rede de esgoto, como o Piauí.
O presidente da Agespisa (companhia de água e esgoto do Piauí), Antônio Filho, reconhece que os índices são "vergonhosos" e diz que erros de projeto em algumas cidades estão sendo corrigidos.
Estado com o menor percentual de domicílios com coleta de lixo (54,1%), o Maranhão diz que desenvolve projetos com municípios para discutir o destino dos resíduos.A Cosanpa, companhia de saneamento do Pará, um dos Estados com maior queda no índice de casas com esgoto, diz que faz melhorias na rede desde 2008, mas enfrenta o crescimento populacional.
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