No domingo, o papa Francisco vai "venerar" o famoso Santo Sudário, que para alguns é o tecido que envolveu o corpo de Jesus Cristo e, para outros, é um artefato produzido durante a Idade Média.
Seja como for, saber como o tecido acabou registrando a imagem de um homem segue sendo um mistério.
O escritor especializado em ciência Philip Ball discute, abaixo, as teorias envolvendo o Santo Sudário:
Em um comunicado cauteloso, o arcebispo de Turim disse que o papa “confirma sua devoção ao sudário que milhões de peregrinos reconhecem como um sinal do mistério que envolve a paixão e a morte de Cristo”.
É possível notar que ele não mencionou nada sobre sua autenticidade. A Igreja Católica não assume uma posição oficial sobre isso, afirmando apenas que é uma questão para ser investigada cientificamente.
Desde que um teste com carbono-14, feito em 1989, afirmou que a peça teria cerca de 700 anos, a Igreja tem evitado dizer muito além de que o tecido é um ícone da devoção cristã.
Mas apesar da disputa sobre sua idade, os enigmas sobre o objeto vão muito além. Um amplo estudo feito em 1978 por uma equipe de especialistas internacionais – no projeto que ficou conhecido como Sturp (sigla para Shroud of Turin Research Project) não chegou a uma conclusão sobre como o tecido carrega a impressão de um homem barbado aparentemente com ferimentos de crucificação.
Não faltam hipóteses.
Afinal, qual a idade do Santo Sudário?
Em 1989, parecia que havia finalmente chegado ao fim o mistério do Santo Sudário.
Três equipes independentes de cientistas receberam pedaços do tecido, que foram analisados usando carbono-14 – uma técnica usada para determinar a idade de compostos orgânicos (no caso, as fibras naturais do pano).
Assim que o veredicto foi dado - o de que ele data do período entre os anos 1260 e 1390, ou seja, é um item medieval –, no entanto, foi imediatamente contestado.
Alguns argumentaram que as amostras de tecido foram colocadas depois ao original. Outros disseram que o “relógio” do carbono poderia ter sido marcado por um incêndio no século 16, que teria destruído partes do sudário.
Em 2013, Giulio Fanti descreveu como usou um método de absorção da luz de diferentes cores para determinar a data do tecido e concluiu que ele data do período entre 300 A.C. e 400 D.C., dando a prova ideal para os que acreditam que o sudário envolveu Cristo.
O mistério, no entanto, permanece vivo.
Alguns sugerem que a imagem no tecido passou por um processo natural, outros afirmam que é obra de falsificadores medievais e há ainda que defenda que está relacionado à ressurreição.
Mas essas hipóteses têm algum mérito? Conheça as principais teorias a respeito do misterioso tecido:
1. É uma pintura
Se isso for verdade, análises químicas poderiam identificar os pigmentos usados, assim como restauradores fazem com pinturas clássicas. Mas a equipe do Sturp não encontrou evidências de nenhum pigmento ou de corante suficiente para explicar a imagem. Eles também não encontraram sinais de pinceladas.
Na verdade, a imagem no tecido de linho é difícil de se ver a olho nu. Ela não foi identificada até 1898, quando ficou evidente no negativo da foto tirada pelo fotógrafo italiano Secondo Pia.
A leve coloração do linho não é causada por alguma substância aplicada no tecido. Na verdade, é o próprio material das fibras que acabaram escurecendo.
E, ao contrário dos principais métodos de pintura e tingimento, a coloração no tecido não pode ser dissolvida, descolorida ou alterada com agentes químicos.
A equipe do Sturp afirmou que a imagem é a forma real de um homem “em sofrimento e crucificado... e não a produção de um artista”.
Os pesquisadores afirmaram que há gotas de sangue genuínas no tecido, inclusive com o tipo sanguíneo (AB). Também haveria traços de DNA humano.
Mas isso não impediu que o americano Walter McCrone, que é consultor na área de química e havia colaborado com o Sturp, afirmasse que as manchas vermelhas não eram sangue, e sim minúsculas partículas de um pigmento vermelho ou ocre.
Assim como qualquer outro tipo de teoria sobre o sudário, a versão de McCrone é contestada e, atualmente, poucos a levam em consideração.Peregrinos fazem fila para ver o sudário em Turim
Há ainda a teoria de que a imagem teria sido feita a partir de um imagem de uma estátua em baixo relevo. Mas análises físicas e químicas da imagem não sustentam essa ideia.
2. É resultado de um processo natural
Se a impressão no tecido foi feita pelo escurecimento de suas fibras, o que levou a esse processo? Um dos especialistas que analisou o sudário, Raymond Rogers, argumentou em 2002 que uma simples transformação química seria responsável pelo processo.
Segundo ele, até mesmo temperaturas moderadas de um corpo podem descolorir os compostos que formam as fibras de algodão de um tecido
Essa é uma ideia simples, mas há poucas evidências para se provar isso nessas circunstância particular. Não é algo que acontece sempre em mortalhas funerárias.
Outra ideia é a de que a descoloração das fibras foi causada por uma reação química provocada por substâncias corporais.
3. É uma fotografia
A foto de Pia mostrou que a imagem no pano era negativa: escura onde deveria ser clara. Isso aprofundou o mistério e o próprio Pia sugeriu que o sudário poderia ser um tipo primitivo de fotografia.Alguns defendem que o sudário é uma espécie de fotografia primitiva, que pode ter sido feita na Idade Média
Essa ideia é apoiada pelo historiador sul-africano Nicholas Allen, que afirma que isso poderia ter sido conseguido ao se usar materiais e conhecimentos que estavam ao alcance de eruditos medievais, muitos antes da fotografia ter sido oficialmente inventada.
O que está por trás dessa ideia é o composto químico nitrato de prata, presente nas emulsões usadas no processo fotográfico no século 19.
O nitrato de prata de fato é conhecido desde a Idade Média, segundo Allen. Ela afirma que o composto foi citados em obras do século 8 e do século 13.
Ele pode ter sido usado no pano em uma sala escura e depois exposto à luz do sol por meio de uma lente feita de quartzo, já que a prata escurece com raios ultravioletas, que o vidro absorve, mas o quartzo, não.
Allen fez réplicas do sudário usando essa teoria. Mas a maneira como a imagem fica no pano quando a prata é removida e o modo que falsificadores medievais trabalhavam na época trazem problemas à teoria.
Assim como várias dúvidas sobre a forma exata e o contraste da imagem se ela tivesse sido feita dessa maneira. Por isso, muitos consideram a ideia de Allen mais ingênua do que plausível.
4. É resultado de algum tipo de liberação de energia
De acordo com um grupo de cientistas chamado Yahoo Shroud Science Group, a hipótese envolvendo a ressurreição de Jesus não pode ser descartada.Grupo de pesquisadores não rejeita a possibilidade de ressurreição de Jesus ter criado o sudário
“Hipóteses ligadas a uma fonte de energia vinda de um Homem envolto em algo e outros correlacionados a descargas eletrostáticas causadas por um campo elétrico”, diz o grupo.
Visto que essa hipótese parece evocar processos desconhecidos da ciência, que presumidamente ocorreriam durante o retorno da morte, é tecnicamente certo dizer que a ciência não pode refutá-la nem, na verdade, dizer muito sobre ela.
Mas isso não impediu alguns cientistas de opinar. O químico Giulio Fanti, da Universidade de Pádua, propôs que as camadas superiores do tecido teriam sido queimadas por uma explosão de “energia radiante” que partiu do próprio corpo.
Ele cita o episódio bíblico da Transfiguração de Cristo e cita Lucas 9:29: “Enquanto orava, a aparência do seu rosto foi se transformando e suas roupas ficaram alvas e resplandeceram como o brilho de um relâmpago.
Isso, se falado de uma maneira educada, é uma evidência bem circunstancial. Mas Fanti sugere que se deveria ao menos testar se fontes artificiais desse tipo de radiação podem produzir um resultado similar no linho.
Fonte: BBC
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