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domingo, 28 de junho de 2015

Jornalista mostra a comida que faz mal


Obra de escritor premiado retrata os truques nada honestos da indústria alimentícia

Isadora Rupp

Você faria um suco natural em casa, de pouco mais de 300 mililitros, e adoçaria com nove colheres de chá de açúcar? Provavelmente, não. É essa a quantidade que uma lata do refrigerante mais popular do mundo, a Coca-Cola, tem de açúcar. E não se anime se você pensar nos sucos “naturais” de caixinha: eles são tão doces quanto.Veja também

O refrigerante – e outros produtos ultraprocessados – como biscoitos recheados, salgadinhos e refeições congeladas são estrategicamente formuladas para causar compulsão em seus consumidores. E continuar movimentando uma indústria trilionária, que se aproveita sobretudo de pessoas com baixas renda e instrução, quase sem informações sobre o que comem, para seguir lucrando.
US$ 1 Trilhão

É quanto a indústria de alimentos processados movimenta todo ano, aproximadamente. O sucesso do vício em comida barata tem uma tática cruel: ele se aproveita da desigualdade.

Enquanto isso, uma epidemia de obesidade afeta 2,1 bilhões de pessoas no mundo. Sim, o sedentarismo exerce uma boa influência sobre esse dado. Entretanto, os grandes conglomerados que se dedicam a pensar novas e viciantes fórmulas têm muita culpa.

Eles aproveitaram esse frenesi da “vida moderna”, onde se pensa que não existe tempo para mais nada, e criaram produtos convenientes, que fazem com que as pessoas fiquem longe da cozinha, e muito perto das prateleiras periféricas do supermercado – que vendem os piores alimentos. A estratégia se baseia no comportamento do consumidor, que tem por hábito começar as compras “de trás para frente”.

Filmes

A repórter Isadora Rupp faz uma seleção de documentários que investigam a indústria alimentícia, disponíveis na Netflix e no YouTube Leia a matéria completa

Todos esses truques da indústria estão minuciosamente detalhados no livro-reportagem “Sal, Açúcar, Gordura”, do jornalista investigativo Michael Moss, vencedor do Pulitzer em 2010. A obra, lançada nos EUA em 2013, saiu neste mês no Brasil, pela editora Intrínseca.

O americano Moss passou anos acompanhando fábricas e conversando com seus maiores executivos e gênios do marketing, especialistas em criar novas necessidades.

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É o número de colheres de chá de açúcar que um americano consome diariamente. O adoçante é considerado a “galinha dos ovos de ouro” da indústria, que produz, por exemplo, cereais cuja composição é 50% açúcar.

O maior contrassenso que descobriu, e que talvez sirva de alerta principal para evitar ao máximo esses produtos, é que nenhum desses chefões consomem o que produzem. Howard Moskowitz, considerado “o” engenheiro de refrigerantes, por exemplo, se recusa a bebê-los.

A mágica por trás de todo o sucesso, nos conta Moss, é a combinação perfeita dos três itens que intitulam o seu livro. É ela quem nos dá a chamada “sensação bucal”: ela impede a satisfação, e ainda nos encoraja a buscar mais desses alimentos.

Tanto a coca-cola quanto a popular Oreo foram formuladas para ter sabor “equilibrado”. Isso é proposital, porque nosso corpo detecta saciedade mais facilmente com comidas condimentadas, por exemplo. Não é isso que a indústria deseja.

Quando pensamos que o governo e suas agências regulamentadoras possam ser uma salvação do consumidor, descobrimos os frequentes lobbys do governo em prol principalmente de pecuaristas – seus lucros acabam respingando e influenciando as políticas públicas.

Sal, Açúcar, Gordura

Michael Moss. Tradução Andrea Gottilieb de Castro Neves.

Intrínseca, 512 pp.; R$ 49,90 e R$ 34,90 (e-book).

O resultado é que, enquanto estudos considerados conclusivos da Universidade de Harvard mostram que as pessoas deveriam evitar ao máximo carne vermelha, queijo e laticínios, o governo incentivou o consumo até nos guias alimentares.

A indústria aproveitou para usar e abusar desses ingredientes repletos de gordura saturada.

Assim como é “impossível comer um só”, é também impossível parar de ler o livro de Moss. Depois de todos os dados e maracutaias mostradas pelo autor, não olhamos mais para um supermercado da mesma forma.

A obra é um sinal de alerta. Moss ensina: pense no supermercado como um campo de batalha cheio de minas terrestres. E lembre-se de que o consumidor tem o maior poder :o de escolha.

Fonte: GAZETA DO POVO

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