Editora se recusa a republicar obras antissemitas de Louis-Ferdinand Céline
Autor de "Viagem ao Fim da Noite" também escreveu obras nas quais pregava ódio aos judeus
Céline é considerado uma das mais controversas personalidades da literatura mundial | Foto: Arquivo AFP / CP
AFP e Correio do Povo
A editora francesa Gallimard, uma das maiores e mais prestigiadas da Europa, anunciou na quinta-feira que suspendeu seu projeto de reeditar os livros de conteúdo antissemitas do escritor Louis-Ferdinand Céline, no qual ele defende posições nazistas e prega ódio aos judeus. A medida foi tomada depois de um acalorado debate na França sobre sua conveniência, numa discussão em que o governo disse que preferia que os textos, escritos quando o país estava sob o controle de Hitler, não fossem publicados.
"Em nome da minha liberdade como editor e minha sensibilidade ao meu tempo, suspendo este projeto, julgando que as condições metodológicas e de memórias não estão reunidas para realizá-lo serenamente", disse o presidente da editora, Antoine Gallimard, num comunicado. O anúncio da reimpressão dos panfletos "Bagatelas para um massacre" (1937), "A Escola dos cadáveres" (1938) e "Bonitos os Panos" (1941), em dezembro do ano passado, causou celeuma na sociedade francesa. Antes de morrer, em 1961, Céline proibiu a reedição do material. Contudo, em 2017, sua viúva, Lucette Destouches, aos 105 anos, deu aval para a produção da coleção "Écrits Polémiques" ("Escritos Polêmicos", em tradução livre), que reuniria os textos.
Para Serge Klarsfeld, presidente da Associação dos Filhos e Filhas dos Judeus Deportados no país, "o projeto para publicar esses textos escritos era uma agressão contra os judeus da França". "Estou aliviado, foi uma batalha difícil de vencer porque não estava acontecendo na frente de magistrados", disse. Os panfletos constituem "uma incitável instigação ao ódio antissemita e racista", disse o Conselho Representativo das Instituições Judaicas na França. O primeiro-ministro, Edouard Philippe, não se opôs à possibilidade de que esses textos pudessem ser reeditados, desde que sua publicação fosse "acompanhada seriamente de contextualizações".
A Gallimard, que ainda não havia definido uma data de lançamento, queria preparar uma "edição crítica" dos panfletos de um dos mais célebres escritores franceses, julgados ao mesmo tempo em seu país por terem colaborado com os nazistas. "Estes panfletos da Céline pertencem à história do mais infame antissemitismo francês, mas condenar a censura dificulta seu alcance ideológico e as raízes são totalmente esclarecidas e criam uma curiosidade insalubre", disse Antoine Gallimard nesta quinta-feira. Mas "eu entendo e compartilho a preocupação dos leitores de que esta edição vai chocar, ferir ou se preocupar com razões humanas e éticas óbvias", acrescentou o presidente da editora.
Nessas obras, são visíveis as posições antissemitas de Céline, e também abordados temas comuns na sua obra não-panfletária, como a literatura, o cinema, o álcool, o lado conservador da academia, e a decadência da sociedade francesa dos anos 1930. “Quanto mais somos odiados, acho, mais tranquilos ficamos… Torna as coisas mais simples, não vale a pena ser polido, não faço questão de ser amado… não preciso de ternura…", escreveu o autor no primeiro dos textos.
Escritor e médico francês, autor de um dos mais celebrados romances do século XX, "Viagem ao Fim da Noite" (1932), ele nunca escondeu a sua afeição pelo regime nazista, tendo festejado a ascensão de Hitler ao poder. Amado ou odiado, o autor foi condenado em 1950 pela República Francesa a um ano de prisão e a pagar 50 mil francos de multa por traição. O governo confiscou a metade de seus bens, bem como seu poder de votar, portar armas e pleitear cargos públicos, além de trabalhar em jornais, escolas e bancos. Visto como “louco” por muitos e como “gênio” por alguns, ele influenciou a literatura de Jean-Paul Sartre e Henry Miller. Em 1951, voltou para sua terra natal após cumprir sua pena na Dinamarca.
Os textos entrarão domínio público em 2031, ou seja, 70 anos após sua morte. Os panfletos de Céline não são proibidos na França, mas eles não foram reeditados desde o final da Segunda Guerra Mundial, por isso são raros e comercializados a preços elevados no mercado paralelo. No entanto, podem ser facilmente consultados online ou comprados em segunda mão; uma edição em francês impressa em Quebec, no Canadá, em 2012, é com frequência importada. Esta não é a primeira reedição a causar polêmicas. Uma nova versão de "Mein Kampf" ("Minha Luta"), de Adolf Hitler, levantou um debate sobre extremismo. Na Alemanha, onde este manifesto foi republicado em uma edição comentada em janeiro de 2016, tornou-se um sucesso editorial com cerca de 100 mil cópias vendidas.
Autor de "Viagem ao Fim da Noite" também escreveu obras nas quais pregava ódio aos judeus
Céline é considerado uma das mais controversas personalidades da literatura mundial | Foto: Arquivo AFP / CP
AFP e Correio do Povo
A editora francesa Gallimard, uma das maiores e mais prestigiadas da Europa, anunciou na quinta-feira que suspendeu seu projeto de reeditar os livros de conteúdo antissemitas do escritor Louis-Ferdinand Céline, no qual ele defende posições nazistas e prega ódio aos judeus. A medida foi tomada depois de um acalorado debate na França sobre sua conveniência, numa discussão em que o governo disse que preferia que os textos, escritos quando o país estava sob o controle de Hitler, não fossem publicados.
"Em nome da minha liberdade como editor e minha sensibilidade ao meu tempo, suspendo este projeto, julgando que as condições metodológicas e de memórias não estão reunidas para realizá-lo serenamente", disse o presidente da editora, Antoine Gallimard, num comunicado. O anúncio da reimpressão dos panfletos "Bagatelas para um massacre" (1937), "A Escola dos cadáveres" (1938) e "Bonitos os Panos" (1941), em dezembro do ano passado, causou celeuma na sociedade francesa. Antes de morrer, em 1961, Céline proibiu a reedição do material. Contudo, em 2017, sua viúva, Lucette Destouches, aos 105 anos, deu aval para a produção da coleção "Écrits Polémiques" ("Escritos Polêmicos", em tradução livre), que reuniria os textos.
Para Serge Klarsfeld, presidente da Associação dos Filhos e Filhas dos Judeus Deportados no país, "o projeto para publicar esses textos escritos era uma agressão contra os judeus da França". "Estou aliviado, foi uma batalha difícil de vencer porque não estava acontecendo na frente de magistrados", disse. Os panfletos constituem "uma incitável instigação ao ódio antissemita e racista", disse o Conselho Representativo das Instituições Judaicas na França. O primeiro-ministro, Edouard Philippe, não se opôs à possibilidade de que esses textos pudessem ser reeditados, desde que sua publicação fosse "acompanhada seriamente de contextualizações".
A Gallimard, que ainda não havia definido uma data de lançamento, queria preparar uma "edição crítica" dos panfletos de um dos mais célebres escritores franceses, julgados ao mesmo tempo em seu país por terem colaborado com os nazistas. "Estes panfletos da Céline pertencem à história do mais infame antissemitismo francês, mas condenar a censura dificulta seu alcance ideológico e as raízes são totalmente esclarecidas e criam uma curiosidade insalubre", disse Antoine Gallimard nesta quinta-feira. Mas "eu entendo e compartilho a preocupação dos leitores de que esta edição vai chocar, ferir ou se preocupar com razões humanas e éticas óbvias", acrescentou o presidente da editora.
Nessas obras, são visíveis as posições antissemitas de Céline, e também abordados temas comuns na sua obra não-panfletária, como a literatura, o cinema, o álcool, o lado conservador da academia, e a decadência da sociedade francesa dos anos 1930. “Quanto mais somos odiados, acho, mais tranquilos ficamos… Torna as coisas mais simples, não vale a pena ser polido, não faço questão de ser amado… não preciso de ternura…", escreveu o autor no primeiro dos textos.
Escritor e médico francês, autor de um dos mais celebrados romances do século XX, "Viagem ao Fim da Noite" (1932), ele nunca escondeu a sua afeição pelo regime nazista, tendo festejado a ascensão de Hitler ao poder. Amado ou odiado, o autor foi condenado em 1950 pela República Francesa a um ano de prisão e a pagar 50 mil francos de multa por traição. O governo confiscou a metade de seus bens, bem como seu poder de votar, portar armas e pleitear cargos públicos, além de trabalhar em jornais, escolas e bancos. Visto como “louco” por muitos e como “gênio” por alguns, ele influenciou a literatura de Jean-Paul Sartre e Henry Miller. Em 1951, voltou para sua terra natal após cumprir sua pena na Dinamarca.
Os textos entrarão domínio público em 2031, ou seja, 70 anos após sua morte. Os panfletos de Céline não são proibidos na França, mas eles não foram reeditados desde o final da Segunda Guerra Mundial, por isso são raros e comercializados a preços elevados no mercado paralelo. No entanto, podem ser facilmente consultados online ou comprados em segunda mão; uma edição em francês impressa em Quebec, no Canadá, em 2012, é com frequência importada. Esta não é a primeira reedição a causar polêmicas. Uma nova versão de "Mein Kampf" ("Minha Luta"), de Adolf Hitler, levantou um debate sobre extremismo. Na Alemanha, onde este manifesto foi republicado em uma edição comentada em janeiro de 2016, tornou-se um sucesso editorial com cerca de 100 mil cópias vendidas.
Fonte: http://www.correiodopovo.com.br
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