Lisboa vista de cima
América Simas
Um sismo de 4.9 foi sentido esta segunda-feira em diversas zonas do país - é dos maiores com epicentro em terra nos últimos anos. Após o abalo, surgiram de imediato diversas questões: haverá mais sismos em Portugal no curto prazo, mais fortes? Há razões de alerta? Fernando Carrilho, chefe de divisão da sismologia geofísica do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), explica o que é possível ou não prever
Marta Gonçalves
Qual é a explicação para o sismo desta segunda-feira? O que aconteceu?
Houve um movimento súbito de uma falha geológica a alguma profundidade, uma falha pré-existente na zona de Arraiolos com uma orientação aproximada oeste-este. Com o passar do tempo, acumulou tensão e naquele momento deixou de ser possível acumular mais e libertou-se. Houve um movimento súbito entre os blocos que constituem a falha e produziu-se o sismo.
Este acumular de tensão já se libertou completamente ou há razões para as pessoas ainda estarem alerta?
Não podemos antecipar as coisas dessa forma. É certo que libertou alguma energia e deu origem ao sismo, mas não sabemos se libertou toda a que estava acumulada. Isso não conseguimos dizer.
Em Portugal, quais são as áreas mais propícias à ocorrência de sismos?
No território de Portugal continental, as zonas mais perigosas são Lisboa e Vale do Tejo e o Algarve. Têm uma perigosidade sísmica praticamente idêntica. No resto do território, esse nível de perigo é mais baixo. Entende-se por perigosidade a probabilidade de ocorrência do movimento sísmico.
É possível prever um sismo?
A previsão sísmica é algo que não é possível fazer, não existe. Nem é aceite cientificamente a possibilidade de se prever sismos. Quando digo prever, refiro-me ao ponto de vista de proteção civil: não podemos dizer que neste dia, a esta hora, haverá um sismo. Sabemos os sítios, sabemos que no futuro Lisboa e o sul de Portugal vão ser afetados por grandes sismos, não podemos dizer é quando. Falta esse elemento, pode ser daqui a cinco, 15 ou 1000 anos. As condições geológicas são as mesmas que havia há milhares de anos e que geraram vários episódios e vão, certamente, gerar mais. Os períodos de cadência é que são muito longos e não é possível fazer aquilo que as pessoas entendem como previsão.
Olhando para a história recente do país, o sismo desta segunda-feira foi dos mais abrangentes a nível territorial?
Foi dos mais sentidos, sim. Nos últimos anos, os sismos em terra não têm tido magnitude tão elevadas como este, não que este seja excecional, mas estatisticamente em comparação com os outros é de facto um dos maiores registados nos últimos anos com epicentro em terra. Recebemos relatos de praticamente todo o país, à exceção de Trás-os-Montes. Ninguém relatou danos, embora seja expectável que na zona de Arraiolos tenha existido algum tipo de danos, ainda que ligeiro. Do ponto de vista formal, não nos chegou essa informação ainda. Temos uma equipa no terreno a trabalhar na zona afetada. As pessoas sentiram e aquilo que nos reportam é a maneira como sentiram o sismo. Felizmente foi um susto apenas.
Apesar de tudo, 4.9 é considerado um sismo ligeiro…
Já é moderado. Teve uma magnitude de 4.9 e uma intensidade máxima registada de 5.
E podemos dizer que foi um dos maiores sismos a nível de intensidade?
Neste momento, temos registado uma intensidade máxima de 5. É dos maiores com epicentro em terra nos últimos anos. Penso que nos anos 80 tivemos intensidade 6 na zona centro do país e já tivemos outros de intensidade 5 também. É, de facto, dos maiores. Não sendo um sismo excecional, importa sublinhar. Num raio de 30 quilómetros de Arraiolos, foi o maior sismo dos últimos 20 anos.
Sabe qual foi o maior no território continental nos últimos anos?
Há que considerar o efeito mar, normalmente os maiores sismos são aqueles a sul e sudoeste de Portugal continental, que depois têm repercussão interna e, nesse caso, tivemos sismos maiores de magnitude 6. Nesse nível, o último mais significativo foi em 2009, com magnitude 6 e intensidade máxima de 5.
Fonte: EXPRESSO PT
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