Conhecido como Dom Marcos de Santa Helena, religioso de 74 anos foi alvo da Operação Silêncio dos Inocentes
por José Luís Costa09/12/2014 | 07h42
Delegado Fabrício de Santis Conceição mostra foto antiga de Dom Marcos Foto: Ronaldo Bernardi / Agência RBS
A Polícia Civil prendeu, na manhã desta terça-feira, o ex-padre João Marcos Porto Maciel, 74 anos, em Caçapava do Sul, na Região Central. Ele deverá ficar detido temporariamente durante 30 dias por ser alvo da Operação Silêncio dos Inocentes, que visa a investigar suspeitas de abusos sexuais de crianças e adolescentes.
Conhecido pelo nome de Dom Marcos de Santa Helena, ele teria praticado, segundo investigações policiais, violência sexual contra dois garotos de 11 e 12 anos — um morou sob a guarda e outro frequentava sua abadia na zona rural da cidade, onde são oferecidas gratuitamente aulas de música a jovens carentes desde 1997 e celebrações religiosas à comunidade.
por José Luís Costa09/12/2014 | 07h42
Delegado Fabrício de Santis Conceição mostra foto antiga de Dom Marcos Foto: Ronaldo Bernardi / Agência RBS
A Polícia Civil prendeu, na manhã desta terça-feira, o ex-padre João Marcos Porto Maciel, 74 anos, em Caçapava do Sul, na Região Central. Ele deverá ficar detido temporariamente durante 30 dias por ser alvo da Operação Silêncio dos Inocentes, que visa a investigar suspeitas de abusos sexuais de crianças e adolescentes.
Conhecido pelo nome de Dom Marcos de Santa Helena, ele teria praticado, segundo investigações policiais, violência sexual contra dois garotos de 11 e 12 anos — um morou sob a guarda e outro frequentava sua abadia na zona rural da cidade, onde são oferecidas gratuitamente aulas de música a jovens carentes desde 1997 e celebrações religiosas à comunidade.
No local, a polícia fez buscas e apreendeu 10 computadores e DVDs, além de um revólver calibre 38 e uma espingarda calibre 12.
Excomungado da Igreja Católica por apostasia (afastar-se da doutrina), em 2009, e expulso da Igreja Anglicana, em 2011, pelo que foi chamada pelo seu superior de alta traição e atitudes sorrateiras, Dom Marcos se apresenta como arcebispo da “Igreja Veteroxoda”.
Dirige a abadia conhecida como mosteiro de Santa Cecília, onde também moram, há mais de 20 anos, dois jovens monges, igualmente excomungados por seguirem os passos de Dom Marcos.
Em nenhuma das igrejas haveria queixas de pedofilia contra o religioso. Os dois monges devem prestar depoimento à polícia com apoio de psicólogos da prefeitura de Caçapava.
Em julho, ex-padre se defendeu das acusações
Leia as últimas notícias de Zero Hora
Investigação começou a partir de denúncias em livro
Os casos de abusos contra os garotos de Caçapava teriam ocorrido há cerca de cinco anos, mas chegaram ao conhecimento da polícia em setembro, impulsionados por um pedido de investigação do Ministério Público, após o lançamento de um livro escrito pelo comerciante mineiro Marcelo Ribeiro, 49 anos, no qual narra ter sofrido agressões sexuais atribuídas ao religioso, identificado por maestro, nas décadas de 1970 e 1980.
Fotos: Ronaldo Bernardi, Agência RBS
A publicação ganhou destaque na imprensa nacional e chamou atenção das autoridades de Caçapava. As primeiras suspeitas surgiram quando foi constatado que a abadia não estava registrada como abrigo no Juizado da Infância e da Juventude. Sem cadastro, não era fiscalizada.
Os garotos, hoje com 17 e 18 anos, teriam sido seduzidos por promessa de dinheiro e presentes como bicicleta. Os abusos seriam em forma de carícias, beijos na boca e masturbação.
— São vítimas duplamente vulneráveis, uma porque tinham menos de 14 anos, e outra porque viviam em situação de vulnerabilidade social, um deles, órfão — relata o delegado Fabrício de Santis Conceição, da Delegacia da Polícia Civil de Caçapava do Sul.
Polícia afirma ter identificado seis casos de abuso
Dom Marcos, nascido e criado em Caçapava, onde foi coroinha e catequista até chegar a padre, se especializou em música sacra na Alemanha e Espanha, trabalhou na Argentina, foi professor e organizou corais de meninos em Novo Hamburgo, Santa Maria, Pelotas, Frederico Westphalen, Diamantina e Juiz de Fora (MG) e Petrópolis (RJ).
A polícia já colheu 15 depoimentos e afirma ter identificado seis vitimas de abusos, sendo que quatro casos são antigos, e os crimes, se existiram, já estão prescritos. Um deles teria como vítima Ribeiro, que viajou de São Paulo para prestar depoimento em Caçapava. O segundo é Alexandre Diel, de São Leopoldo, que também relatou à polícia ter sido vítima na juventude, ao participar de um coral dirigido por Dom Marcos.
O terceiro caso refere-se a um homem, de 42 anos, morador de Novo Hamburgo, que enfrenta distúrbios mentais e estaria internado em uma clínica psiquiátrica em consequência dos danos sofridos na adolescência. O quarto é o caso mais antigo e surpreendente. A polícia localizou em Santana da Boa Vista, cidade de 8,4 mil moradores, vizinha à Caçapava, um agricultor de 61 anos, que tomou coragem e admitiu ter sido abusado há mais de 50 anos, entre 1961 e 1964, quando tinha entre 8 e 11 anos.
— Era coroinha da igreja e queria aprender a tocar flauta com o irmão João, então nome usado por Dom Marcos que ainda não era padre. Hoje é casado, pai de família. Disse-me, chorando, que por causa do trauma, até os 30 anos, não teve coragem de se relacionar com uma mulher — afirma o delegado Fabrício de Santis Conceição, da Delegacia da Polícia Civil de Caçapava do Sul.
Entenda como ex-padre agia:
Embora esses relatos sejam incapazes de gerar processos, por causa da prescrição, o delegado acredita que eles poderão ajudar o juiz a firmar convicção na hora de julgar os casos dos dois jovens.
— São todas pessoas que não se conhecem, que relatam a mesma conduta, com assédio sempre à noite, no quarto do suspeito ou da vítima — acrescenta o delegado.
Além de escrever um livro, Ribeiro gravou uma conversa telefônica com Dom Marcos, na qual Ribeiro recorda dos abusos e o religioso não os constestaria. O religioso também é investigado por supostas práticas racistas.
A polícia criou um e-mail (silenciodosinocentes@mail.com) para colher relatos que possam contribuir com as investigações. Também é possível ligar para a DP de Caçapava no telefone (55) 3281.1720.
Religioso nega envolvimento em crimes
Dom Marcos de Santa Helena sempre negou com veemência o envolvimento em crimes e se diz vítima de uma jogada de marketing para alavancar as venda do livro do ex-aluno.
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Investigação começou a partir de denúncias em livro
Os casos de abusos contra os garotos de Caçapava teriam ocorrido há cerca de cinco anos, mas chegaram ao conhecimento da polícia em setembro, impulsionados por um pedido de investigação do Ministério Público, após o lançamento de um livro escrito pelo comerciante mineiro Marcelo Ribeiro, 49 anos, no qual narra ter sofrido agressões sexuais atribuídas ao religioso, identificado por maestro, nas décadas de 1970 e 1980.
Fotos: Ronaldo Bernardi, Agência RBS
A publicação ganhou destaque na imprensa nacional e chamou atenção das autoridades de Caçapava. As primeiras suspeitas surgiram quando foi constatado que a abadia não estava registrada como abrigo no Juizado da Infância e da Juventude. Sem cadastro, não era fiscalizada.
Os garotos, hoje com 17 e 18 anos, teriam sido seduzidos por promessa de dinheiro e presentes como bicicleta. Os abusos seriam em forma de carícias, beijos na boca e masturbação.
— São vítimas duplamente vulneráveis, uma porque tinham menos de 14 anos, e outra porque viviam em situação de vulnerabilidade social, um deles, órfão — relata o delegado Fabrício de Santis Conceição, da Delegacia da Polícia Civil de Caçapava do Sul.
Polícia afirma ter identificado seis casos de abuso
Dom Marcos, nascido e criado em Caçapava, onde foi coroinha e catequista até chegar a padre, se especializou em música sacra na Alemanha e Espanha, trabalhou na Argentina, foi professor e organizou corais de meninos em Novo Hamburgo, Santa Maria, Pelotas, Frederico Westphalen, Diamantina e Juiz de Fora (MG) e Petrópolis (RJ).
A polícia já colheu 15 depoimentos e afirma ter identificado seis vitimas de abusos, sendo que quatro casos são antigos, e os crimes, se existiram, já estão prescritos. Um deles teria como vítima Ribeiro, que viajou de São Paulo para prestar depoimento em Caçapava. O segundo é Alexandre Diel, de São Leopoldo, que também relatou à polícia ter sido vítima na juventude, ao participar de um coral dirigido por Dom Marcos.
O terceiro caso refere-se a um homem, de 42 anos, morador de Novo Hamburgo, que enfrenta distúrbios mentais e estaria internado em uma clínica psiquiátrica em consequência dos danos sofridos na adolescência. O quarto é o caso mais antigo e surpreendente. A polícia localizou em Santana da Boa Vista, cidade de 8,4 mil moradores, vizinha à Caçapava, um agricultor de 61 anos, que tomou coragem e admitiu ter sido abusado há mais de 50 anos, entre 1961 e 1964, quando tinha entre 8 e 11 anos.
— Era coroinha da igreja e queria aprender a tocar flauta com o irmão João, então nome usado por Dom Marcos que ainda não era padre. Hoje é casado, pai de família. Disse-me, chorando, que por causa do trauma, até os 30 anos, não teve coragem de se relacionar com uma mulher — afirma o delegado Fabrício de Santis Conceição, da Delegacia da Polícia Civil de Caçapava do Sul.
Entenda como ex-padre agia:
Embora esses relatos sejam incapazes de gerar processos, por causa da prescrição, o delegado acredita que eles poderão ajudar o juiz a firmar convicção na hora de julgar os casos dos dois jovens.
— São todas pessoas que não se conhecem, que relatam a mesma conduta, com assédio sempre à noite, no quarto do suspeito ou da vítima — acrescenta o delegado.
Além de escrever um livro, Ribeiro gravou uma conversa telefônica com Dom Marcos, na qual Ribeiro recorda dos abusos e o religioso não os constestaria. O religioso também é investigado por supostas práticas racistas.
A polícia criou um e-mail (silenciodosinocentes@mail.com) para colher relatos que possam contribuir com as investigações. Também é possível ligar para a DP de Caçapava no telefone (55) 3281.1720.
Religioso nega envolvimento em crimes
Dom Marcos de Santa Helena sempre negou com veemência o envolvimento em crimes e se diz vítima de uma jogada de marketing para alavancar as venda do livro do ex-aluno.
Fonte: ZERO HORA
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