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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Questão racial ainda é profunda nos EUA




 
Um ex-juiz que assistiu às revoltas de 1967 em Newark, Nova Jersey, disse que o racismo é onipresente


 09/12/2014 | 00:01 | MICHAEL WINES



Paul McLemore, o primeiro afro-americano a tornar-se integrante da força policial territorial de Nova Jersey, estava nas ruas de Newark em 1967 quando distúrbios violentos que irromperam depois de a polícia espancar um taxista negro deixaram 26 mortos. Ele passou décadas como advogado de direitos civis e anos como juiz municipal em Trenton. “É claro que já se avançou muito” desde os dias de ira de Newark, ele disse recentemente. Mas, quando lhe foi perguntado se um jovem negro hoje pode encontrar a justiça que se acreditou ter faltado em Newark 47 anos atrás, McLemore deu uma resposta muito diferente.

“Não, e ponto final”, ele disse. “Há racismo onipresente – racismo branco.”


Whitney Curtis/The New York Times
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A proporção de homens negros encarcerados é seis vezes maior que a de brancos. Ferguson, Missouri, em agosto

Para brancos e para negros, essa dualidade pode ser a lição a tirar da decisão do grande júri de não indiciar o policial Darren Wilson, de Ferguson, Missouri, pela morte a tiros de Michael Brown, um jovem negro: muita coisa mudou e nada mudou.

Um país com presidente afro-americano e uma classe média negra significativa, embora em dificuldades, permanece tão profundamente dividido em relação ao sistema judiciário quanto era décadas atrás. Uma pesquisa recente Huffington Post-You Gov feita com mil adultos concluiu que 62% dos afro-americanos acharam que o policial Wilson errou ao matar Michael Brown, enquanto apenas 22% dos brancos tiveram essa posição.

Em 1992, uma pesquisa “Washington Post”-ABC News constatou que 92% dos negros e 64% dos brancos discordaram da absolvição dos policiais de Los Angeles filmados em vídeo espancando um negro, Rodney King.

“O que chama a atenção é como essas atitudes se mantêm constantes”, comentou Carroll Doherty, do Centro Pew de Pesquisas, não partidário, em Washington

Pesquisas do Pew indicam que os negros confiam muito menos na polícia e nos tribunais que em outras instituições. Mas uma pesquisa Pew feita no início deste ano sugere que os afro-americanos com menos de 40 anos –o grupo etário ao qual pertence a maioria das pessoas que foram às ruas em Ferguson em agosto—tendem muito menos que os mais velhos a acreditar que o racismo é o principal obstáculo ao avanço dos negros.

O fato de brancos e negros discordarem tão profundamente em relação ao sistema de justiça, ao mesmo tempo em que outras divisões raciais dão sinais de se estreitarem, talvez não seja tão estranho quanto parece. Décadas de mudanças nas leis e decisões judiciais significam que hoje brancos e negros trabalham juntos, praticam esportes juntos e frequentam as mesmas escolas. Mas, quando vão para casa, frequentemente voltam para mundos separados, onde as atitudes e experiências ligadas à polícia e aos tribunais não apenas não são iguais como nem sequer são compreendidas do outro lado da divisão racial.

No final de 2013, 3% de todos os homens negros de qualquer idade nos EUA estavam encarcerados, contra 0,5% dos homens brancos. Em 2011, uma em cada 15 crianças afro-americanas tinha pai ou mãe na prisão, contra uma em cada 111 crianças brancas. A professora de direito Patricia J. Williams, da Universidade Columbia, em Nova York, disse que a guerra às drogas afetou os negros de maneira desproporcional: na Califórnia, em 2011, as chances de um homem negro ser preso por um delito ligado à maconha era 11 vezes maior que a de um homem branco.

Além dessas disparidades, disse ela, “são as coisas pequenas, como a política da polícia de parar e revistar suspeitos, como os perfis raciais traçados de suspeitos”, que reforçam as atitudes negativas dos negros em relação ao sistema de justiça.

O negro Kenny Wiley, 26, cresceu num subúrbio branco e próspero de Denver e conhece os dois lados da questão. Ele disse que a morte de Michael Brown em Ferguson destruiu qualquer noção de que sua raça não tem importância –de que ele possa “optar por desconhecer as partes negativas da negritude”.

“Eu cresci com muitos privilégios econômicos”, ele disse, “mas, mesmo assim, por causa de minha raça, minha idade e meu gênero, em certas situações ainda são encarado como uma ameaça.”

Willey disse que quando caminha na rua, as pessoas não enxergam suas notas na faculdade. “Enxergam um negro.”

O pastor e policial negro Brian Willingham, de Flint, Michigan, disse que a decisão do grande júri o deixou dividido, mas que ele concluiu que ela foi correta.

“Percebo que nós, que nos consideramos líderes da comunidade negra, não podemos apenas ser contra o racismo. Também precisamos ser contra a parcela da cultura negra que está ficando mais e mais antiautoridade e antissocial, a ponto nos levar à autodestruição”, ele disse. “Esse é um inimigo na própria comunidade negra que ainda não enfrentamos.”

Negros e brancos que são amigos acham delicado falar desse tema. Em Atlanta, Geórgia, Nneka Ekechukwu, 23 anos, que nasceu na Carolina do Sul mas tem ascendência nigeriana, estava almoçando com a branca Denise Henderson, 45, sua amiga e colega de trabalho numa empresa de informática.

Henderson, criada numa parte predominantemente branca do Ohio, disse achar preocupante que o promotor no caso do Missouri se deixou influenciar por sua própria perspectiva pessoal ao analisar diante do grande júri as evidências do caso de Michael Brown. “Acho que tanta influência assim foi errada”, ela disse. “Mas também acho que Michael Brown errou ao se engalfinhar com um policial.” Ela olhou para sua amiga negra. “Mas sinto que eu dizer isso é uma afronta a você, será?”

Ekechukwu disse que não era, mas que as mesmas palavras poderiam deixá-la indignadas se viessem da boca de alguém que ela suspeitasse de ter preconceito racial. Ela disse que para uma pessoa de cor é difícil não encarar o caso de Ferguson como parte de uma continuidade de fatos: a morte a tiros em 2012 do adolescente negro Trayvon Martin, baleado por um homem branco da Flórida que acabou sendo inocentado de homicídio; o caso de um negro em Oakland baleado e morto em 2009 por um policial de trânsito branco que foi condenado por homicídio culposo, não doloso.

Quando ela ouviu a notícia recente de que um garoto de 12 anos em Cleveland foi morto a tiros por um policial enquanto brandia uma arma de brinquedo, Ekechukwu disse: “Minha primeira pergunta foi: ‘Ele era negro?’”.

Ele era.


Fonte: GAZETA DO POVO

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