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JULIÃO, O AGITADOR SOCIAL
Pensaram que o Brasil seria a Cuba da América do Sul, diz antropólogo
Reprodução
Filho do ex-deputado Francisco Julião conta como surgiu, em Vitória do Santo Antão, a primeira liga camponesa do Brasil
Por Bruno Pavan
O Engenho da Galileia, em Vitória do Santo Antão (PE), será palco de comemoração. É lá que dezenas de pessoas se reunirão para comemorar os 60 anos da criação da primeira Liga Camponesa do Brasil, pioneira na luta pela reforma agrária no país. Embora comemorado no dia 1º de janeiro a festividade acontece neste domingo (11).
Apesar de alguns ensaios em outros estados ainda na década de 1940, foi a Galileia que despertou os camponeses para a importância da organização na luta pela reforma agrária com a criação da Sociedade Agrícola e Pecuária dos Plantadores de Pernambuco (SAPPP). Um nome importante neste processo é do ex-deputado eleito pelo PCB, Francisco Julião. Advogado e defensor dos camponeses, ele articulou, junto com os irmãos José Ayres dos Prazeres e Amaro dos Prazeres, a criação do que se transformaria no primeiro grande movimento pela reforma agrária no Brasil. Não à toa, ainda no domingo, será inaugurada na região a biblioteca Zé Ayres dos Prazeres, que competaria 100 anos de nascimento em fevereiro.
“A movimentação começou nos anos 50, depois das leis trabalhistas do Vargas. Acontece que, como o Congresso naquela época era dominado pelos usineiros, esses direitos ficavam nas cidades e nunca chegavam ao campo. Foi aí que os camponeses pediram ajuda ao Julião para montar uma associação que defendesse seus interesses”, explicou Anacleto Julião, filho de Francisco.
A SAPPP nasceu, inicialmente, para proteger os trabalhadores do Engenho: garantir-lhes as despesas funerárias, assistência médica, jurídica e educacional e montar uma cooperativa de crédito. Ela tomou um tamanho maior quando os donos da terra, inflamados pela imprensa que chamou os camponeses de “liga de bandidos” – em alusão às ligas comunistas – não aceitou a associação e expulsou os trabalhadores do engenho.
Francisco Julião, então, elaborou um projeto de reforma agrária pra ser aprovado na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Como sabia que ele teria poucas chances de ser aprovado por conta dos interesses políticos envolvidos, o deputado chamou os camponeses para cercar o prédio da Assembleia.
“Eles deixaram os deputados sem saída, ou se aprovava o projeto ou eles não iam sair dali. Eles tiveram que assinar, mas ainda com a esperança de que o governador vetaria. Logo depois o Julião levou todo mundo pra porta da casa do governador Cid Sampaio que os recebeu de pijama e assinou a primeira lei de reforma agrária da América latina”, conta Julião, que também é antropólogo.
A iniciativa chamou atenção do Brasil inteiro e começaram a surgir dezenas de ligas e organizações que se basearem na Liga Camponesa de Vitória do Santo Antão. O lema de Julião “a reforma agrária na lei ou na marra” ganhou muitos adeptos.
Até mesmo o governo estadunidense começou a ver a insurgência no nordeste como uma ameaça aos Estados Unidos e chegou a enviar pessoas de seu governo para analisar a situação política da região. “Pensaram que seríamos uma Cuba da América do Sul”, finaliza o antropólogo.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/
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