por Martín Pastor
A situação na América do Norte é altamente preocupante e classifica a nação como uma receptora adequada de "ajuda humanitária" feita pelos EUA
-06/03/2019
no Cubadebate
É hora dos Estados Unidos invadirem os Estados Unidos
por Martín Pastor
Sob a égide da “ajuda humanitária” e da luta pela “democracia”, os Estados Unidos justificaram dezenas de intervenções militares e políticas no mundo durante os séculos XX e XXI. Em sua campanha mais recente, eles se concentraram na Venezuela, como parte de uma estratégia para minar governos progressistas na região.
Com uma manipulação coordenada da mídia, bloqueio econômico e pressão diplomática, a ofensiva imperialista se espalhou pela nação latino-americana por mais de uma década. Rotularam o governo venezuelano como uma “ditadura”, apresentando-o como um “Estado falido” mergulhado no caos social, com altos índices de pobreza, desnutrição e insegurança; argumentando que a causa é o modelo progressivo e não fatores exógenos, como o bloqueio internacional ou o descrédito.
Para os Estados Unidos e grande parte do Ocidente, estes são motivos suficientes para justificar uma intervenção política e diplomática, que deve ser militar. Então, se estes são gatilhos para intervir, é hora de os Estados Unidos, em defesa dos direitos humanos e da democracia, tomarem a iniciativa de invadir seu próprio país.
A situação na América do Norte é altamente preocupante e classifica a nação como uma receptora adequada de “ajuda humanitária” feita pelos EUA. De acordo com um relatório feito por Philip Alston, Relator Especial das Nações Unidas (ONU) sobre a pobreza extrema e direitos humanos revelou-se que até 2018, 40 milhões de pessoas nos Estados Unidos vivem na pobreza, 18,5 milhões vivem em extrema pobreza e mais de cinco milhões vivem em condições de absoluta pobreza.
O país tem a mais alta taxa de pobreza juvenil da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a maior taxa de mortalidade infantil entre os estados comparáveis nesse grupo. Não é surpresa que Alston tenha considerado o país como a sociedade mais desigual do mundo desenvolvido.
Nem é que os Estados Unidos não podem mais ser chamados de nação de “primeiro mundo”. Segundo um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), para a maioria de seus cidadãos, aproximadamente 80% da população, os Estados Unidos são uma nação comparável ao “terceiro mundo”.
Para chegar a essa conclusão, os economistas aplicaram o modelo de Arthur Lewis, vencedor do Prêmio Nobel de Economia (1979), projetado para entender quais fatores e como classificar um país em desenvolvimento.
De acordo com Peter Temin, co-autor do estudo, os Estados Unidos reúnem este modelo de uma economia dual (diferença única entre uma pequena parte da população e a grande maioria) onde o setor de baixos salários tem pouca influência sobre a política pública; um setor de alta renda mantém baixos os salários no outro setor para fornecer mão-de-obra barata; um controle social que é usado para impedir que o setor de baixos salários desafie políticas que favoreçam o setor de alta renda; altas taxas de encarceramento; políticas públicas dos setores mais ricos com o objetivo de reduzir impostos para o referido grupo; e uma sociedade onde a mobilidade social e econômica é baixa.
Especialmente quando um dos principais argumentos para justificar as agressões é o suposto ‘bem-estar’ e os direitos humanos dos cidadãos. Mais uma vez, os americanos deveriam ver o “raio em seus próprios olhos” primeiro.
Segundo uma análise trienal do Commonwealth Fund (2017), os Estados Unidos, pela sexta vez consecutiva, são o pior sistema de saúde entre 11 países desenvolvidos. Eles têm o sistema de saúde mais caro do planeta, com um gasto anual de três bilhões de dólares, o que resultou em um dos países com maior disparidade no acesso à saúde, com base na renda.
Enquanto a expectativa de vida nos Estados Unidos diminuiu pelo terceiro ano consecutivo, situando-se em 78,1 anos. Uma redução percentual comparável ao período de 1915 e 1918, em que o país enfrentou uma guerra mundial e a pandemia mundial de gripe. Em comparação, Cuba, que faz parte da ‘Troika of Tyranny’, segundo John Bolton (Assessor de Segurança Nacional), tem uma expectativa de vida de 79,74 anos até 2018.
E na educação, o que falar. De 1990 a 2016, os Estados Unidos caíram do sexto para o vigésimo sétimo, classificando-se como um dos sistemas menos educados do mundo ‘desenvolvido’. Com uma despesa pública reduzida, entre 2010 e 2014 de 3%, enquanto o investimento das economias desenvolvidas cresceu mais de 25%.
Um bem-estar de vida deteriorada, um sistema de saúde caro e desigual e uma educação que não se compara a outras nações desenvolvidas. Se isso não é suficiente para o governo dos EUA e do resto do Ocidente decidir intervir, em seguida, as constantes violações dos direitos humanos deve ser um causal de mobilizar tropas para a fronteira e iniciar bloqueios econômicos.
Os Estados Unidos têm dirigido ou influenciado sistematicamente as intervenções na América Latina e no resto do Sul global. Operações cobertas, guerras étnicas e as mais recentes invasões militares são a prova da ‘licença para matar’ que foi concedida a este país.
As prisões onde os direitos humanos são violados, como Guantánamo e Abu Ghraib, são apenas exemplos dessa realidade. E figuras como Gina Haspel, que estava diretamente envolvido no programa de tortura do governo dos EUA, subiu para posições de poder global como diretor da Agência Central de Inteligência (CIA).
Mas a transgressão mais clara é a saída do Conselho de Direitos Humanos da ONU, órgão internacional encarregado de assegurar que tais violações não ocorram. A decisão veio dias depois que o Alto Comissariado para os Direitos Humanos denunciou a prática da administração atual de crianças migrantes forçosamente separadas de seus pais e os prender em que só pode ser chamado de campos de concentração modernos.
Internamente, a responsabilidade da polícia pelo uso de força excessiva foi reduzida, especialmente nas comunidades negras e latinas. A morte sistemática de homens negros nos Estados Unidos por essa força de ordem, de acordo com um estudo da Universidade de Boston, reflete um racismo estrutural subjacente na sociedade americana. Isso também se reflete em um sistema de justiça tendencioso contra as comunidades negras.
“Se a polícia patrulhar as áreas brancas como fazem em bairros pobres negros, seria uma revolução”, diz Paul Butler, autor de ‘Chokehold: Policiamento de homens negros’, que diz o que significa ser um homem negro na América.
Essas violações dos direitos humanos são a realidade cotidiana das minorias étnicas e dos grupos historicamente discriminados. Isto é acompanhado pelo fortalecimento de grupos com tendências fascistas, que têm o apoio direto e indireto do governo central e local em vários estados. Um cenário preocupante para milhões de negros, latinos e outros cidadãos étnicos.
No entanto, a falsa “preocupação” para a Venezuela, Líbia, Síria, Iraque, Iêmen, Afeganistão e Ucrânia, apenas nas últimas duas décadas, levou invasões e ataques em nome do bem-estar e os direitos humanos. Ações que por sua vez carregam interesses ocultos baseados em um indicador no qual os Estados Unidos são sim o número um: gastos militares.
Em 2019, este país tem um orçamento militar de 680.000 milhões de dólares, que é mais do que os orçamentos combinados de sete nações que seguem a lista: China, Rússia, Arábia Saudita, Índia, França, Reino Unido e Japão.
Nem mesmo na liberdade econômica (12 no mundo) são líderes ou crescimento do PIB (147 de 224 países); o que reflete uma realidade. A América é um império militar, sua economia é baseada na guerra e qualquer ação tomada em nome da ‘ajuda humanitária’ é coerente quando o interesse de seu governo é promover o caos para sua vantagem.
Diante dessa situação, o que o mundo está experimentando é o “chute de afogamento” de uma superpotência em declínio. É por isso que tão cuidadosamente tenta segurar o último bastião da influência que continua a ter na América Latina, motivo da fixação com a Venezuela e outros países da região. Pois, se fosse uma ajuda real, é hora de os Estados Unidos analisarem seriamente a intervenção, com a mesma intensidade, em seu próprio país.
Fonte: https://jornalggn.com.br/artigos/e-hora-dos-estados-unidos-invadirem-os-estados-unidos-por-martin-pastor/
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