Agência de vigilância dos EUA estará a monitorizar em média 500 milhões de comunicações no Alemanha, classificado como parceiro de "terceira classe". Dirigentes da UE pedem "clarificação total" sobre acções de espionagem.A revelação surge dias depois de Obama ter discursado em Berlim KEVIN LAMARQUE/REUTERS
Os Estados Unidos interceptam, em média, cerca de 500 milhões de telefonemas, emails e outras comunicações efectuadas todos os meses na Alemanha, noticiou a revista Der Spiegel, citando documentos filtrados por Edward Snowden, antigo contratado da Agência Nacional de Segurança (NSA) norte-americana em fuga desde que revelou programas de vigilância de uma dimensão até aqui desconhecida.
A revelação é feita um dia depois de a mesma revista ter noticiado que a agência de vigilância norte-americana colocou microfones e se infiltrou na rede informática das representações diplomáticas da União Europeia em Washington e nas Nações Unidas, desencadeando vivos protestos de dirigentes europeus.
Citando de novo documentos secretos a que diz ter tido acesso – e que farão parte do rol entregue por Snowden a vários jornalistas – a Der Spiegel refere que Washington classificou a Alemanha como um parceiro de “terceira classe”, nível a que se encontram por exemplo a China, Arábia Saudita ou Iraque, sendo por isso alvo de maior vigilância do que qualquer outro país europeu. “Podemos atacar os sinais da maioria dos parceiros estrangeiros de segunda classe, e fazemo-lo”, refere a NSA num dos documentos citados.
Segundo as mesmas fontes, a NSA não só monitoriza chamadas telefónicas, SMS, mensagens de correio electrónico e chats na Internet como guarda os metadados (informações sobre as conexões, não o conteúdo das mensagens) nos seus servidores. Só na Alemanha, a agência vigia, em média, 20 milhões de chamadas e 10 milhões de dataset de Internet por dia, podendo chegar aos 60 milhões de conexões em dias mais movimentados.
Desde que o Guardian começou, no início do mês, a divulgar dados fornecidos por Snowden, que se sabia que os países europeus estavam na mira da NSA. Mas a notícia de que a Alemanha – onde os cidadãos têm ainda frescas as recordações da actuação da Stasi, a polícia secreta da ex-RDA – é um alvo privilegiado da agência de vigilância norte-americana promete assombrar as relações com Washington, pouco mais de uma semana depois da visita do Presidente Barack Obama a Berlim.
O Governo alemão não reagiu ainda às últimas revelações, mas pediu já explicações sobre a alegada espionagem sobre as delegações da União Europeia. “É necessário que os americanos expliquem imediatamente e em detalhe se as informações da imprensa a propósito de escutas clandestinas totalmente desproporcionadas sobre que são exactas ou não”, exigiu a ministro da Justiça, Sabine Leutheusser-Schnarrenberge. Também o presidente do Parlamento Europeu, o alemão Martin Schulz, pediu também uma “clarificação total” a Washington e avisou que, a serem verdadeiras, as suspeitas lançadas pela Der Spiegel terão um “impacto grave” nas relações entre a UE e os EUA.
Fonte: PUBLICO (Pt)
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