Leia o post de Marcos Fernando Pádua no Facebook:
"Sabe governador, somos contemporâneos, quase da mesma idade, mas vivemos em mundos bem diferentes. Sou classe média, bem média quase baixa, BOMBEIRO, SOCORRISTA, deprimido e indignado com as canalhices que estão acontecendo. Não conheço bem a sua história pessoal e certamente o Senhor não sabe nada da minha também. Fiz um vestibular bastante disputado de Enfermagem; tive a oportunidade de frequentar a Universidade URI de Erechim, neste Estado, por algum tempo, mas na época não tínhamos estas opções de bolsas. Fiz o que pude mas meu dinheiro não foi suficiente para pagar a mensalidade. Fiz treinamento no Hospital de Pronto Socorro, Hospital Femina, Hospital Conceição, em Porto Alegre; Pompéia, em Caxias do Sul; Caridade e Santa Therezinha, em Erechim; hoje vivendo de esmolas de um salário de fome, orando que apareça um bico, para complementar a renda de casa. Parece-me que o Senhor desconhece esta realidade. O seu terceiro grau não foi tão suado assim, em universidade sem muito prestígio, curso na época pouco disputado, turma de meninos mais abastados, pois era filho de político conhecido da cidade de São Borja, Aprendi minha profissão vendo meu pai, que era Bombeiro em Erechim; ficava com ele no quartel por que sabia que lá teria um almoço bom, Depois de me formar Bombeiro trabalhei muito com pouca remuneração em troca de aprendizado. Ao final do curso, nova seleção, agora, para socorristas . Mais trabalho com pouco dinheiro e vítimas, a grande maioria das vezes, pobres, o povo... Sempre fui doutrinado a fazer o máximo com o mínimo. Muitas noites sem dormir, e lhe garanto que não foram em salinhas refrigeradas costurando coligações e acordos para o povo que o Senhor nem conhece o cheiro ou choro em momento de dor. Dói assistir a morte por falta de recursos. Dói, como pai de quatro filhos, ver outros filhos de outras mães não serem salvos por falta de condições de trabalho. Fingir que trabalha, fingir que é Bombeiro, estar cara-a-cara com o paciente como representante de um sistema que deveria dar segurança, ridículo, ter a possibilidade de se contaminar e se acostumar com uma pseudo-segurança, é doloroso, aviltante e uma enorme frustração. Aprendi em muitas daquelas noites insones tudo o que sei fazer e gosto muito do que eu faço. Sou bombeiro por que gosto. Sou socorrista por opção e com convicção. Não me arrependo. Prometi a mim mesmo fazer o melhor de mim. É um deboche numa cidade como Passo Fundo, Erechim , num Estado como o nosso, assistir políticos como o Senhor discursarem com a cara mais lavada que este é o momento de deixar de lenga-lenga para salvar vidas. Que vidas, Senhor Governador? Nas UPAS? tudo de fachada para engabelar o povão!!!! Por amor ao povo o Senhor trabalharia pelo que o Senhor paga ao Bombeiro? Os Bombeiros não criaram as Kiss (Boates), danceterias, prédios de 20, 30 andares. Eles não estão com problemas somente agora. Não faltam especialistas. O que falta é quem queira se sujeitar a triste realidade do Bombeiro para tentar resolver emergencialmente a omissão de anos. A mídia planta terrorismo no coração de donos de bares, botecos, prédios que, desesperados correm aos quartéis querendo seus Alvarás inespecífico, sem saber direito de quem é sua responsabilidade, pois talvez lhe deva ter faltado tempo para aprovar leis mais especificas ... Não há bombeiro hoje que não esteja sobrecarregado. Há uma grande dificuldade em administrar uma demanda absurda de atendimentos, socorro, urgências, emergências, treinamento, entregas de alvarás, notificações, inspeções, atendimento ao público telefones (inclusive trotes). Todos em pânico. E aí vem o Senhor com historinhas. Acorde Governador! Hoje o Senhor é Poder Executivo. Esqueça um pouco das fotos com o presidente e com a mãe do PAC, esqueça a escolha do prefeito, esqueça a carinha de bom moço consternado na televisão. Faça a mudança. Execute. "Historinhas" é não mudar os quartéis e os salários. Quem sabe o Senhor poderia trabalhar como voluntário também. Chame a sua família. Venha sentir o stress de uma mãe, não daquelas de pracinha com babá, que o Senhor bem conhece, mas venha preparado porque as pessoas estão armadas, com pouca tolerância, em pânico. Quem sabe entra no seu nariz o cheiro do pobre, do povo e o Senhor tenta virar o jogo. A responsabilidade é sua, governador. Afinal, quem é, ou são, os vagabundos, Governador?"
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