Menina torturada pela patroa agora está com seu pai
Lucélia tinha de
comer excrementos
de cachorro
Há 22 dias, Lucélia Rodrigues (foto), 13, está morando com o seu pai, Lourenço da Silva, 34, em Goiânia (GO). “Eu o amo, e vou ficar com ele e meus irmãos”, disse, informa o Estadão. “Eles são sangue do meu sangue.”
Em 2008, as torturas da empresária Sílvia Calabresi à garota chocaram o país. Lucélia trabalhava como doméstica até de madrugada e sofria da Sílvia maus-tratos como lesões na língua feitas com alicate, queimaduras nas nádegas com ferro de passar roupa e afogamentos em tanque. A menina também era forçada a ingerir excrementos e urina de cachorro. Ela contou à polícia que, num dos acessos de raiva da patroa, teve de limpar a sacada do apartamento da empresária com a língua.
A empresária foi denunciada por um vizinho – o seu marido e os dois filhos nada fizeram para deter a perversidade. Quando a polícia resgatou a menina, em março daquele ano, ela estava amordaçada e amarrada na varada do apartamento da Sílvia (foto abaixo).
Sílvia foi condenada a 14 anos de prisão e a mãe biológica, que é separada de Lourenço, perdeu a guarda da menina.
Como o pai na época não tinha condições financeiras de assumi-la, Lucélia, depois de sete meses em um abrigo de crianças e mulheres vítimas de violência, foi adotada por um casal de pastores da Igreja Batista da Lagoinha, a mesma da celebridade gospel Ana Paula Valadão.
Na ocasião, Veja publicou que Ana Paula tirou proveito da história de horror da menina, apresentando-a em um de seu programas na tv. A cantora gospel fez um veemente desmentido.
Mas a menina parecia estar sendo submetida a uma lavagem cerebral de cunho religioso. Embora tivesse sido vítima de uma maldade sem limites, ela dizia que parte da culpa cabia a ela porque não tinha “Jesus no coração”. Mas que tinha mudado, falava. “Eu me converti e preciso corrigir o meu gênio”.
Pessoas do Ministério Público que conviveram com a menina por algum tempo garante que ela é uma menina dócil e carinhosa. Mas mesmo se não fosse, criança não precisa se converter à religião alguma para “melhorar de gênio”.
A empresária Sílvia Calabresi, além da prisão, foi condenada a pagar indenizações por danos morais e por trabalho infantil doméstico.
Empresário amarrou a menina na
área de serviço de seu apartamento
Joana D'Arc da Silva, mãe de Lucélia, foi acusada de ter dado a menina à empresária para “criar”. Em troca, ela teria obtido pequenas ajudas financeiras e cestas básicas. Mas nada ficou provado, e Joana foi absolvida pela Justiça. No momento, ela disputa a guarda da menina com o pai.
Lucélia passou as férias de julho com o seu pai e seus dois meios-irmãos, um de 16 anos e outro de 12, e com a mãe deles, Ilma Damásio Varanda. “Eu gostei, pedi ao juiz para ficar com eles e o juiz aceitou.”
A família vive da produção e venda de salgadinhos.
Além das cicatrizes no corpo da menina, ficou o medo da Sílvia. “E tenho medo de ela me matar. Só de pensar nela, fico com a mão suada.”
A divulgação do nome completo da menina e da foto do rosto foi liberada pelo Juizado de Menores.
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