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segunda-feira, 27 de abril de 2015

Acusado de colaborar com CIA antes de golpe chileno, dono de jornal é expulso de associação de jornalistas

Denúncia apresentada pela entidade de classe sustenta que Agustín Edwards, proprietário do 'El Mercurio', um dos maiores do país, violou código de ética

A associação chilena de jornalistas decidiu expulsar da entidade Agustín Edwards Eastman, dono do jornal El Mercurio e de uma série de outros títulos periódicos, por considerar que sua atuação à frente do grupo de mídia “violou disposições do código de ética jornalística”.

Uma das acusações feitas pelo Colégio de Jornalistas do Chile afirma que Edwards, 87, recebeu dinheiro da CIA (agência de inteligência dos EUA) para empreender uma campanha de desestabilização do governo do presidente socialista Salvador Allende, deposto por um golpe de Estado em 1973. A investigação contra Edwards, dono de um dos maiores conglomerados de mídia do país, teve início em 2014, quando a entidade apresentou uma denúncia baseada em documentos secretos tornados públicos nos Estados Unidos.

Reprodução/Colegio de Periodistas de Chile
Agustín Edwards, 87 anos, do jornal 'El Mercurio', um dos maiores grupos de mídia do país

De acordo com a denúncia apresentada pela associação, nos papéis norte-americanos “Edwards Eastman aparece como jornalista e dono da empresa El Mercurio SAP, colaborando em ações da CIA e obtendo fundos” do governo Richard Nixon para “sustentar uma política editorial de desinformação e, desse modo, contribuir para soterrar a democracia e facilitar o golpe de Estado” contra Allende.

Ambos Edwards e o veículo que chefia não quiseram se pronunciar sobre a decisão da associação, tomada na última terça-feira (21/04). Em outubro de 2013, quando ainda estava em curso a investigação, a defesa do empresário havia negado perante o juiz ter recebido qualquer quantia em dinheiro da CIA. Na ocasião, afirmara ainda que não estava no Chile no período e que, portanto, não teve interferência nas decisões editoriais de El Mercurio.

A defesa de Edwards tem dez dias para apresentar uma apelação — período durante o qual uma das advogadas do jornal, Natalia González Bañados, afirmou que o veículo não comentará o episódio.

A entidade ainda afirma que: “O jornal El Mercurio, de propriedade de Agustín Edwards, aprovou as atuações da ditadura militar, incluindo informações não verificadas que acabaram por encobrir graves violações aos direitos humanos”.

O conglomerado midiático do qual Agustín Edwards é proprietário é um dos mais poderosos e antigos do Chile. O grupo possui diversos títulos periódicos, de circulação regional e nacional. OEl Mercurio faz parte ainda da GDA (Grupo de Diários da América), entidade de classe que reúne outros jornais de grande importância na região, como: La Nación (Argentina), El Comercio(Ecuador), O Globo (Brasil), El Tiempo (Colombia), El Universal (México), El Comercio (Perú), El País (Uruguay) y El Nacional (Venezuela).

“Montagem jornalística”

Contra Edwards e seu veículo também pesa uma segunda acusação de violar o código de ética jornalístico, no episódio da cobertura jornalística de violência policial perpetrada pelas forças de seguranças chilenas no Parque O’Higgins, em Santiago, durante a visita do papa João Paulo II ao Chile, em abril de 1987 — final da ditadura Augusto Pinochet (1973-1990).

De acordo com a acusação, a cobertura de El Mercurio — que “se prestou a fazer uma montagem jornalística” — legitimou a posterior perseguição de dois estudantes universitários pela repressão política chilena. Na ocasião, na primeira página do jornal, foi estampada as fotografias dos dois rapazes, identificados como “violadores do Partido Comunista”, numa circustância em que ambos eram inocentes.


Fonte: OPERA MUNDI

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